O artigo “Congresso da Mamata” e o silêncio do STF diante da delação de que Hugo Motta recebeu 10% de propina, assinado por Joaquim de Carvalho, e publicado no Brasil 247 nesta segunda-feira (7), mostra um erro costumeiro da esquerda, o de ter fé no “combate à corrupção”, uma arma que a direita sempre utiliza contra a esquerda.

Esse é o campo da burguesia, e nós não vamos vencer no campo do adversário. Hugo Motta, poderia ser outro, será pego por alguma irregularidade apenas se houver algum interesse político que assim determine. No Brasil, como se sabe, não é necessário cometer um crime para ser preso. Lula foi encarcerado sem provas; José Dirceu foi preso com a ministra Rosa Weber declarando que não tinha provas contra ele. Portanto, cobrar atitude do Supremo Tribunal Federal é perda de tempo.

Além de perda de tempo, é perda principalmente de foco e gasto desnecessário de energia. A saída para a esquerda é política, e não judicial. Sem o poder das bases, nada pode ser feito.

Em seu primeiro parágrafo, Joaquim de Carvalho diz que “em depoimento prestado em 2017, o empresário José Aloysio Machado da Costa Neto confessou que adquiriu contratos por meio da emenda do deputado Hugo Motta e que houve cobrança de uma propina de 10%”.

Complementando seu raciocínio, o jornalista escreve que “o material da colaboração premiada foi anexado à sentença da Justiça Federal da Paraíba em 27 de fevereiro de 2025, mas só foi encaminhado ao STF posteriormente — sem homologação até o momento e sem que haja inquérito aberto formalmente contra o parlamentar, mesmo com o caso tramitando no Supremo”.

Como se vê, existem vários casos guardados em gavetas para serem utilizados no momento oportuno. Um exemplo recente é o escândalo do INSS, que já estava cheirando a mofo, quando resolveram desengavetar para colocar o governo Lula contra as cordas. O caso pode até dar CPI, fazer uma dobradinha com a grande imprensa

Conforme as eleições presidenciais se aproximam, pode-se esperar que novos “escândalos” virão, uma vez que o plano da burguesia é retirar Lula da corrida presidencial; ou, se não for possível, provocar tanto desgaste que sua candidatura se torne inviável.

Foro privilegiado

Carvalho segue e afirma que “apesar da seriedade da acusação, o caso permanece parado no STF. Não houve designação de relator, não foi homologada a colaboração e tampouco houve abertura de inquérito contra Hugo Motta. Assim, nenhuma etapa processual efetiva foi iniciada no Supremo”.

Quanto a isso é preciso reforçar que a esquerda não deve pedir que o STF interfira nos mandatos dos parlamentares, coisa que vem fazendo ostensivamente em uma clara usurpação de poder.

A conclusão de Carvalho também é negativa, pois diz que essa inação do Supremo “sustenta a percepção de impunidade associada ao foro privilegiado e à morosidade judicial. O caso permanece adormecido, sem qualquer avanço oficial” [grifo nosso].

Não se deve utilizar eventuais picaretagens de um Hugo Motta para se atacar o foro privilegiado, que é uma conquista democrática. Esse dispositivo foi criado justamente para que os parlamentares fossem acossados por outro poder e pudessem falar livremente.

Sem o foro, o Supremo deita e rola em cima dos mandatos de pessoas eleitas pelo povo. A qualquer momento, milhões de votos são cassados por ministros que não foram eleitos por ninguém. Se um determinado eleitor se sentir insatisfeito com que elegeu, na eleição seguinte não vota, essa decisão cabe a ele, não deve ser tutelado por uma instituição do Estado que está se revelando um verdadeiro Poder Moderador.

Para provar que tudo é política, Joaquim de Carvalho mesmo acaba confirmando que “a delação voltou à tona em momento em que explodiu na rede social a hashtag ‘Congresso da Mamata’ — movimento que viralizou após a derrubada de nova alíquota do IOF para movimentações específicas em 25 de junho pelo Parlamento”. Como se vê, são pressões outras, e estamos diante de uma justiça “motivada”, quando deveria ser neutra.

Chamado à moralidade

Em seu último parágrafo, Joaquim de Carvalho escreve que “a delação de 2017, a remessa dos autos em 2025 e a explosão da campanha ‘Congresso da Mamata’ nas redes reiteram que é chegada a hora de confrontar práticas nocivas e restabelecer a integridade democrática na gestão do dinheiro público”.

Como pode ser restabelecida uma pretensa integridade democrática quando um poder se sobrepõe aos outros?

O ativismo judiciário do STF tem sido justamente o principal fator de desrespeito aos direitos democráticos da população; como, por exemplo, a liberdade de expressão.

Não pode existir democracia quando ministros do STF passam por cima da Constituição, como no caso da prisão de Lula, do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Não pode existir democracia quando se instaura no País a censura prévia.

Ao pedir apoio, ou cobrar que o STF julgue casos de corrupção, a esquerda apenas aumenta o poder dessa instituição golpista. Fortalecer o inimigo não é uma política sábia. O Supremo já deu provas suficientes de sua natureza. Muito mais que uma corte, esse tribunal é um verdadeiro partido político. Além de ser uma instituição das mais reacionárias.

A esquerda tem que recorrer às suas bases, e não ficar esperando que instituições do Estado burguês ajam em favor da classe trabalhadora.

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Last Update: 08/07/2025