Enquanto Donald Trump volta a ameaçar os BRICS, o Brasil consolida sua posição no cenário global com um novo recorde histórico de comércio exterior.
Dados divulgados hoje pelo Ministério do Desenvolvimento revelam que a corrente de comércio brasileira (exportações mais importações) nos últimos 12 meses até junho alcançou US$ 609,2 bilhões.
Os números impressionam: 4% de crescimento sobre o ano anterior, quase 50% em uma década e expressivos 250% em duas décadas. Este desempenho reflete a expansão do comércio brasileiro com praticamente todos os seus principais parceiros comerciais.
China mantém liderança como principal parceiro
A China permanece na liderança como principal parceiro comercial do Brasil. Nos últimos 12 meses, o intercâmbio bilateral atingiu US$ 161 bilhões, registrando ligeira retração de 1% em relação ao período anterior. Contudo, este resultado representa o segundo maior volume da história nas relações comerciais sino-brasileiras.
A perspectiva histórica revela a magnitude desta parceria: crescimento de 127% em dez anos e extraordinários 1.552% em duas décadas. Outro destaque asiático é o Vietnã, cujas importações de produtos brasileiros se aproximam dos US$ 8 bilhões, evidenciando expansão superior a 8.400% em vinte anos.
Estados Unidos intensificam relação comercial
As exportações para os Estados Unidos registraram crescimento robusto de 10%. O intercâmbio bilateral alcançou US$ 84 bilhões, demonstrando que as tentativas de isolamento comercial promovidas por setores bolsonaristas não prosperaram.
Os dados evidenciam uma realidade pragmática: os Estados Unidos ampliam sistematicamente sua relação comercial com o Brasil por necessidade estratégica, não por preferência ideológica.
BRICS consolidam posição estratégica
Os países do bloco BRICS representam atualmente 38.9% da corrente de comércio brasileira, consolidando-se como parceiros estratégicos fundamentais. Esta participação reflete um crescimento consistente ao longo das últimas duas décadas: em 2001, os países que hoje compõem o BRICS respondiam por apenas 9.8% do intercâmbio comercial brasileiro.
Os BRICS Plenos – que incluem China, Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Indonésia – representam 34.9% do total, enquanto os BRICS Parceiros – Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã – contribuem com 4.0%. Esta configuração demonstra como o Brasil diversificou geograficamente suas relações comerciais, reduzindo a dependência de mercados tradicionais e fortalecendo laços com economias emergentes e em desenvolvimento.
África emerge como mercado promissor
O continente africano desponta como fronteira de expansão comercial. As exportações brasileiras para a África avançaram 13% no último ano, acumulando 84% de crescimento em duas décadas. Este movimento consolida o potencial das relações Sul-Sul na estratégia comercial brasileira.
Balança comercial demonstra solidez
A balança comercial superou US$ 60 bilhões nos últimos doze meses. Embora inferior ao recorde de quase US$ 100 bilhões do período anterior, este resultado não reflete fraqueza das exportações, que se mantêm em patamares históricos.
As vendas externas brasileiras oscilaram consistentemente entre US$ 300 e US$ 340 bilhões nos últimos três anos. A redução do saldo comercial decorre do aquecimento das importações, sinalizando dinamismo da economia doméstica.
Perfil das importações brasileiras
As importações brasileiras totalizaram US$ 273.2 bilhões nos últimos 12 meses, evidenciando a diversificação geográfica e setorial das compras externas do país. O valor representa um crescimento de 11% sobre o ano anterior, e o maior patamar da história das importações do país.
Os cinco principais fornecedores – China (US$ 70.1 bilhões, 25.7% do total), Estados Unidos (US$ 42.9 bilhões, 15.7%), Alemanha (US$ 14.0 bilhões, 5.1%), Argentina (US$ 13.7 bilhões, 5.0%) e Rússia (US$ 10.7 bilhões, 3.9%) – respondem por 55.4% do total importado, demonstrando a distribuição equilibrada das fontes de suprimento.
No perfil por produtos, destacam-se veículos (US$ 22.8 bilhões), petróleo e derivados (US$ 22.6 bilhões), máquinas elétricas (US$ 21.6 bilhões), equipamentos de energia (US$ 16.6 bilhões) e máquinas industriais (US$ 16.6 bilhões), que juntos representam 36.7% das importações. Esta composição reflete tanto as necessidades de modernização do parque industrial brasileiro quanto a demanda por bens de consumo e insumos essenciais, consolidando o país como mercado relevante para fornecedores globais em setores estratégicos.
Pauta exportadora diversificada
A liderança coube aos combustíveis, com destaque para petróleo e derivados, seguidos por soja, minério de ferro, carnes e café.
O café merece menção especial: as exportações totalizaram US$ 16,3 bilhões, registrando crescimento espetacular de 52% em um ano, 111% em dez anos e 430% em duas décadas. O grão brasileiro reconquista protagonismo na pauta exportadora nacional.
Outros setores também brilharam. Os veículos geraram US$ 13,5 bilhões em receitas, estabelecendo novos recordes. O aço manteve-se acima de US$ 13 bilhões, resistindo às pressões tarifárias americanas. A celulose contribuiu com US$ 11 bilhões, consolidando o Brasil como potência no setor.
Liderança por produtos
O petróleo encabeça a lista com US$ 54 bilhões em exportações, incluindo óleo bruto e derivados. A soja ocupa a segunda posição com US$ 41 bilhões, seguida pelo minério de ferro com US$ 37 bilhões.
As carnes estabeleceram novo recorde histórico ao gerar US$ 28 bilhões. O açúcar completou o top 5 com US$ 16,3 bilhões, reafirmando a diversificação da pauta exportadora brasileira.
Saldos comerciais por setor
Na análise dos saldos comerciais, a soja lidera com US$ 41 bilhões, demonstrando a competitividade absoluta do agronegócio brasileiro. O minério de ferro registrou US$ 36 bilhões, enquanto o petróleo alcançou US$ 31 bilhões.
Vale destacar que, embora o Brasil seja grande exportador de petróleo, também importa volumes significativos de diesel e outros derivados, explicando a diferença entre exportações brutas e saldo líquido.
Perspectivas otimistas
Os indicadores do comércio exterior atestam a pujança da economia brasileira. Combinados com a trajetória descendente da inflação, estes resultados sinalizam condições favoráveis para acelerar o crescimento econômico em 2025 e 2026.