O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma defesa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e apontou para os riscos do unilateralismo, em um recado indireto ao presidente norte-americano Donald Trump. A declaração aconteceu na abertura da sessão “Meio Ambiente, COP-30 e Saúde Global” da reunião de cúpula do Brics, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira 7.
“Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo”, disse Lula, que apontou para a necessidade “urgente” de “recuperar o protagonismo da Organização Mundial da Saúde como foro legítimo para o enfrentamento às pandemias e na defesa da saúde dos povos”.
Ao assumir para o seu segundo mandato presidencial nos EUA, em janeiro, Trump anunciou a imediata saída do país da OMS, desmobilizando a principal instância para políticas de saúde do mundo.
A saída do país norte-americano representou um baque considerável para a OMS, que, em 2025, enfrenta uma perda de receitas na casa dos 600 milhões de dólares, segundo informações divulgadas pela AFP em março.
Antes, em fevereiro, o conselho executivo do órgão já tinha confirmado que, para o ciclo 2026-2027, reduziria o seu orçamento proposto de 5,3 bilhões de reais para 4,9 bilhões de reais.
No discurso desta segunda, Lula citou que doenças como o mal de Chagas e a cólera “já teriam sido erradicadas se atingissem o Norte Global”. Ele citou, por fim, a Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, a ser lançada nesta segunda-feira 7 pelo Brics, que “propõe superar essas desigualdades sistêmicas com ações voltadas para infraestrutura física e digital e para o fortalecimento de capacidade”.
A questão climática
As críticas veladas à abordagem da Casa Branca não se limitaram à questão da saúde, mas passaram pela crise climática.
“Hoje, o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo avanços do passado e sabotando o nosso futuro”, disse Lula, que alertou para os efeitos da crise do clima.
“Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade. Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de combustíveis fósseis”, afirmou.
A reunião do Brics no Rio não passou despercebida pelo presidente norte-americano. Com uma postura contrária à adoção quase unânime do dólar nas transações internacionais, o grupo propôs alternativas.
Trump, em linha com o que já vem ameaçando desde o início do seu mandato, aproveitou o final de semana para alertar que países ligados ao Brics poderiam estar sujeitos a uma tarifa adicional de importação de 10%.