‘Gilmar Sutra’: 26 ministros de tribunais superiores, 22 políticos do Centrão, cinco banqueiros do BTG, um ex-diretor da CIA
Veja quem esteve no XIII Fórum de Lisboa, farra de conflitos de interesses que neste ano ainda virou palco de negociações no estrangeiro sobre deixar ou não deixar o presidente Lula governar.
Hugo Souza, no Come Ananás
Primeiro, algumas árvores.
Na última quarta-feira, 2, no XIII Fórum Jurídico de Lisboa, participaram do painel “Agronegócio e segurança alimentar global”:
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), que no ano passado afirmou que os Bororo da Terra Indígena Tadarimana “inventaram um corredor espiritual” para impedir a construção de uma ferrovia entre Rondonópolis, “capital do agronegócio”, e Lucas do Rio Verde, “capital da agroindústria”;
A deputada estadual mais votada no Mato Grosso nas eleições de 2022, Janaína Riva (MDB), cuja campanha eleitoral foi financiada por Elizeu Zulmar Maggi Scheffer, “barão do agro” que já foi multado por queimadas ilegais, e Valdinei Mauro de Souza, o “Nei Garimpeiro”, que já foi alvo da Polícia Federal por contrabando internacional de mercúrio, entre outros ruralistas;
Lucas Costa Beber, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), patrocinadora de outro fórum, este da extrema-direita e organizado por Eduardo Bolsonaro.
Pedro Lupion (PP-PR), deputado federal do Centrão e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária – a bancada ruralista;
Marco Marrafon, professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e colunista da revista Pensar Agro, tribuna do Instituto do Agronegócio, um think tank do latifúndio monocultor-exportador. Na mais recente edição da revista, Marrafon escreveu sobre a “inconstitucionalidade do confisco de terras por desmatamento ilegal”;
Sidney Pereira de Souza Junior, apresentado no material institucional do Fórum de Lisboa como “advogado, mestre e doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo”, sem menção a que Sydney é também consultor jurídico da Aprosoja-MT.
Agora, a floresta, quem sabe a única que restará de pé.
Participaram na semana passada da décima terceira edição do Fórum Jurídico de Lisboa, orgia de conflitos de interesses promovida todos os anos por Gilmar Mendes na capital portuguesa e que neste ano “transformou-se em palco de negociações decisivas para a governabilidade do presidente Lula”:
26 ministros de tribunais superiores: 5 dos 11 ministros do STF; 18 dos 33 ministros do STJ; dois ministros do TSE; um ministro do TST;
22 políticos do #CentrãoInimigoDoPovo: 12 deputados federais, nove de partidos do Centrão, incluindo #HugoMottaInimigoDoPovo; quatro senadores, todos de partidos do Centrão; três ministros de Estado, dois de partidos do Centrão; oito governadores, sete de partidos do Centrão;
15 desembargadores;
19 advogados que atuam em causas que estão em trâmite no STF;
Sete dos nove ministros do TCU;
O procurador-geral da República e dois sub-PGRs;
O presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e quatro dos seis conselheiros da autarquia federal;
Seis presidentes de agências reguladoras;
Três diretores do BNDES;
Advogado-geral da União;
Diretor-geral da Polícia Federal;
Cinco executivos ou membros do conselho de administração do BTG Pactual; Bradesco, Itaú e XP; presidente, vice-presidente e vice-presidente jurídica da Cosan; BRF, J&F e JBS; CEOs das privatizadas Light e Cedae; um diretor da privatizada Vale; três diretores da privatizada Eletrobrás; Grupo Ambipar, Grupo Santa, Grupo Datora; iFood; SulAmérica; British American Tobacco, antiga Souza Cruz; Febraban, Fiesp, CNI, CNT; Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Confederação Nacional das Seguradoras, Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias, Associação Brasileira das Companhias Abertas, Associação Nacional Refinadores Privados, Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias, Associação Nacional de Jogos e Loterias, Instituto Brasileiro de Mineração, Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, etc;
Grupo Globo, Grupo Record, Grupo Metrópoles de Comunicação; Jota, Migalhas, Conjur;
Michel Temer;
Mike Pompeo, ex-secretário de Estado de Donald Trump e ex-diretor da CIA.
Foi isso o XIII Fórum Jurídico de Lisboa, a exemplo de todas as edições anteriores do “Gilmar Sutra”: um ménage à trois no outro lado do oceano entre a política, o Judiciário e as grandes corporações que operam no Brasil, inclusive as corporações de mídia, inclusive com tratativas em território estrangeiro feitas entre ministros de tribunais superiores e políticos do Centrão – e quem sabe o BTG Pactual – sobre se governa ou se não governa, o presidente da República.
Trocando em miúdos: um ménage à trois brazuca sob o céu de Lisboa, sob os auspícios de Michel Temer e com voyeurismo da CIA.