Em artigo intitulado Economia envia bons sinais ao país (e a Lula), publicado pelo Brasil 247 no dia 5 de julho, o jornalista Paulo Moreira Leite retoma o otimismo dos setores governistas que se recusam a mudar de política, mesmo diante de uma enorme crise.

O artigo começa afirmando o seguinte:

“A notícia talvez não tenha chegado a muitos brasileiros e brasileiras, mas o fato importante de 2025 é que a economia do país está aquecida e já exibe um desempenho ‘acima da média’, conforme os gigantes do mercado financeiro.”

O problema da declaração é que se trata de uma manipulação. Em primeiro lugar, conforme o próprio articulista deixa claro, quem teria elogiado o “desempenho” da economia brasileira teriam sido “os gigantes do mercado financeiro”. Isto é, os banqueiros, os sanguessugas inimigos do povo brasileiro.

Esses mesmos “gigantes”, por exemplo, estão, neste mesmo momento, elogiando a economia argentina. E o que acontece no país “hermano”? Um psicopata chamado Javier Milei está aplicando uma política de guerra econômica contra a população.

Pelo caso argentino, já se pode tirar a conclusão fundamental da análise econômica: para a esquerda, o fundamental não são os índices apresentados pelo grande capital, mas sim o que esses índices representam nas condições de vida dos trabalhadores.

No caso do Brasil, embora a política não seja destrutiva como a de Javier Milei, não há uma melhora nas condições de vida. O poder de compra do brasileiro está cada vez menor. Produtos como o café se tornaram artigo de luxo. O salário mínimo se torna cada vez mais defasado. Enquanto isso, a grande preocupação do ministro da Fazenda é cortar benefícios sociais e aumentar os impostos…

O delírio de Moreira Leite é tão grande que, na tentativa de defender o governo, ele acaba por elogiar o que tem de mais negativo na economia do País:

“Um dado particular desse momento envolve a taxa de juros, mantida em patamar estável, ainda que relativamente alto, pelo quarto trimestre consecutivo. Essa situação de estabilidade provoca um efeito benéfico sobre o conjunto da economia – ao reduzir o custo dos investimentos produtivos, favorece a produção de bens de consumo em vez da especulação financeira, beneficiando uma população que possui um histórico de carências e dificuldades.”

O tal “patamar estável” é uma taxa de juros mantida a mais de 12% durante todo o mandato do governo Lula. Uma taxa, conforme até mesmo setores da burguesia já admitiram, que é verdadeiramente pornográfica. Com a taxa nas alturas, a capacidade de compra da população pobre diminui e a própria produção do País diminui. Ao mesmo tempo, aumenta exponencialmente a dívida externa do País, estrangulando o orçamento nacional.

Elogiar a taxa de juros é um dos maiores gestos de capitulação dos setores governistas diante da pressão do grande capital sobre o governo Lula. Afinal, no início do mandato, o presidente Lula buscou, ainda que de maneira muito limitada, mobilizar a opinião pública contra o presidente bolsonarista do Banco Central à época, Roberto Campos Neto. Na medida em que o governo foi cedendo às pressões, acabou não apenas desistindo de enfrentar Campos Neto, como indicou, para sua sucessão, um homem de sua equipe, Gabriel Galípolo, que segue exatamente a mesma política.

Moreira Leite, ao aceitar a taxa de juros, não está defendendo a capacidade de Lula de administrar o País, mas sim defendendo o programa dos inimigos do governo e do povo brasileiro.

O texto publicado no Brasil 247 termina da seguinte forma:

“Os brasileiros e brasileiras já viram este filme nos mandatos anteriores. Ainda que a economia do país, muitas vezes, seja uma ‘caixinha de surpresas’, como diziam veteranos técnicos de futebol de minha juventude, os dados disponíveis hoje confirmam uma realidade que se mantém há vários meses, como confirma um artigo publicado aqui neste espaço em 31/05/2025.”

Traduzindo: para Moreira Leite, embora haja hoje uma insatisfação generalizada contra o governo, Lula estaria conseguindo “fazer mágica” e, mesmo remando contra a maré, conseguindo fazer o País crescer. E, assim, venceria os seus adversários.

É de uma ilusão que chega a ser infantil. Ainda que Moreira Leite fale em dados supostamente satisfatórios para os “gigantes do mercado financeiro”, o dado mais importante da situação do governo brasileiro é que a revista The Economist, porta-voz do grande capital internacional, publicou um artigo em que dizia claramente: o governo Lula está esgotado, é hora de descartá-lo. E isso vale muito mais que um elogio a uma determinada política econômica.

Está em marcha um golpe de Estado visando a derrubada do governo Lula ou inviabilizar a sua reeleição. A única forma de derrotar esse golpe será por meio da mobilização dos trabalhadores contra a burguesia, e não a capitulação diante dela. A política de Moreira Leite apenas levará a uma aceleração do processo golpista.

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Last Update: 06/07/2025