Na abertura do Fórum Empresarial do Brics, no Rio, presidente defende integração produtiva, transição energética sustentável e governança digital com justiça social
O presidente Lula participou neste sábado (5) da abertura do Fórum Empresarial do Brics, realizado no Rio de Janeiro (RJ). O evento antecede a Cúpula de Chefes de Estado do grupo, marcada para domingo (6) e segunda-feira (7), e reuniu lideranças empresariais, autoridades de governo e representantes de países membros e convidados.
Em seu discurso, Lula apontou os caminhos para que o Brics atue como vetor de transformação da ordem global e promotor de uma nova economia mundial baseada em inclusão, paz e sustentabilidade.
“Tenho a convicção de que cabe aos governos abrir portas e aos empresários fazer negócios. Estou certo de que este Fórum e a Cúpula do Brics que se inicia amanhã aportarão soluções. Ao invés de barreiras, promovemos integração. Contra a indiferença, construímos solidariedade.”
Lula iniciou sua fala destacando o peso econômico do bloco, que hoje reúne 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Juntos, os integrantes do Brics representam 48% da população do planeta, 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global em paridade de poder de compra e 21,6% do comércio mundial.
“Os onze membros plenos do Brics já superam 40% do PIB global em paridade de poder de compra. Em 2024, enquanto o mundo cresceu 3,3%, registramos uma expansão média de 4%. Este ano seguiremos em ritmo superior”, atestou o líder brasileiro.
O presidente também saudou a presença do primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, presidente de turno da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), destacando a importância da articulação entre países do Sul Global.
“Temos muito a aprender com a sinergia permanente entre países em desenvolvimento. Isso nos permitiu enfrentar juntos os efeitos da crise financeira de 2008 e a pandemia de Covid-19.”
Combate às desigualdades impulsionam investimentos
Ao citar o comércio entre os países do bloco, Lula ressaltou que o intercâmbio comercial do Brasil com o Brics somou US$ 210 bilhões em 2024, mais que o dobro do fluxo comercial com a União Europeia. Só as exportações do agronegócio brasileiro aos países do grupo chegaram a US$ 71 bilhões.
“Possuímos inúmeras complementaridades econômicas. Nossos países podem liderar um novo modelo de desenvolvimento pautado em agricultura sustentável, indústria verde, infraestrutura resiliente e bioeconomia.”
O presidente também defendeu que o combate às desigualdades deve ser visto como estratégia econômica central.
“O combate às desigualdades fortalece mercados consumidores, impulsiona o comércio e alavanca investimentos.”
Ouça a íntegra do discurso do Lula:
Transição energética
Lula chamou atenção para o papel estratégico do Brics na transição energética global. O bloco concentra 84% das reservas de terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite do mundo. Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por minérios críticos deverá triplicar até 2040.
“Queremos ir além da extração dessas riquezas. Em parceria com o setor privado, vamos qualificar nossa participação em todas as etapas das cadeias de suprimento. O Brasil está bem posicionado para esse salto. Contamos com marcos regulatórios estáveis, mão de obra qualificada e energia limpa para processamento mineral eficiente e sustentável.”
Descarbonização e IA
Lula frisou que a descarbonização das economias é um processo irreversível. “A poucos meses da COP 30, reforçamos nossa responsabilidade com a promoção de uma transição ecológica justa e inclusiva. O Brasil apresentou as suas NDC, que preveem redução entre 59 e 67% das emissões de gases de efeito estufa.”
Outro tema destacado pelo presidente foi a revolução digital e os riscos da ausência de governança global sobre novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA).
“Infraestruturas públicas digitais viabilizam inovações e criam oportunidades para startups e pequenas e médias empresas. A inteligência artificial traz possibilidades que, há poucos anos, sequer imaginávamos. Na ausência de diretrizes claras coletivamente acordadas, modelos gerados apenas com base na experiência de grandes empresas de tecnologia vão se impor. Os riscos e efeitos colaterais da inteligência artificial demandam uma governança multilateral.”
Banco do Brics
Lula também ressaltou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado “Banco do Brics”, criado em 2014.
Segundo o presidente, o banco já aprovou US$ 40 bilhões em 120 projetos nas áreas de transporte, saneamento e energia limpa. A instituição também tem contribuído para a desdolarização das transações financeiras.
“Ao impulsionar o uso de moedas locais, o NDB também tem contribuído para reduzir custos de transação e facilitar operações financeiras.”
“Os bancos centrais do Brics estão trabalhando para desenvolver meios de pagamento transfronteiriços instantâneos e seguros. Os bancos nacionais de desenvolvimento também são aliados importantes. No Brasil, o BNDES vem batendo recordes. A partir de 2023, foram destinados mais de 50 bilhões de dólares para projetos de transformação produtiva sustentável.”
Igualdade de gênero e protagonismo feminino
O presidente também falou sobre a importância da participação das mulheres nos espaços de decisão e na economia real. Ele elogiou o trabalho da Aliança Empresarial de Mulheres do Brics.
“Parabenizo a Aliança Empresarial de Mulheres pela fundamental atuação em prol do empreendedorismo feminino e da igualdade de gênero. Ampliar e qualificar a participação de mulheres no mercado de trabalho traz ganhos de produtividade e acelera o crescimento econômico.”
Ao final de sua fala, Lula alertou que não haverá prosperidade em um mundo em guerra. Ele afirmou que é papel dos líderes mundiais pôr fim aos conflitos que se acumulam ao redor do globo.
“O vínculo entre paz e desenvolvimento é evidente. Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado. O fim das guerras e dos conflitos que se acumulam é uma das responsabilidades de chefes de Estado e de governo. É patente que o vácuo de liderança agrava as múltiplas crises enfrentadas por nossas sociedades.”
“Estou certo de que este Fórum e a Cúpula do Brics que se inicia amanhã aportarão soluções. Ao invés de barreiras, promovemos integração. Contra a indiferença, construímos solidariedade.”
Por PT Nacional