À esquerda, grupo Mashco Piro em aparição rara. À direita, monitores Manchineri recolhem vestígios de caça e presença dos Mashco Piro. Foto: Suvival International/Acervo pessoal

Considerado o maior grupo indígena em isolamento voluntário do mundo, o povo Mashco Piro enfrenta uma grave crise humanitária na fronteira entre o Peru e o Brasil. Pressionados por madeireiros, narcotraficantes e os efeitos da crise climática, esses indígenas têm sido avistados com mais frequência na Terra Indígena Mamoadate, no Acre. Vestígios de presença, como pegadas e tapiris, indicam que estão se deslocando para fugir da devastação em seus territórios de origem, onde o desmatamento e a violência aumentam.

Desde os anos 1990, antropólogos e organizações indígenas já apontavam a vulnerabilidade dos Mashco Piro, com relatórios que recomendavam proteção territorial específica. Apesar de avanços legais no Peru, como a criação de reservas e o reconhecimento oficial dos povos isolados, milhares de hectares continuam sob concessão madeireira. Investigações recentes apontam ao menos 81 ocorrências envolvendo os Mashco Piro desde 2016, incluindo casos de violência e conflitos com invasores.

A crise climática agrava a situação. Igarapés secam antes do esperado, dificultando o acesso a alimentos e forçando os Mashco Piro a se aproximarem de áreas habitadas. Lideranças como Lucas Manchineri alertam para o risco iminente de contato com outras comunidades indígenas. Sem presença efetiva do Estado, há o temor de contaminações e confrontos fatais, agravados pela ausência de políticas binacionais entre Brasil e Peru.

À esquerda, grupo Mashco Piro em aparição rara. À direita, monitores Manchineri recolhem vestígios de caça e presença dos Mashco Piro. Foto: Suvival International/Acervo pessoal

Do lado peruano, o desmonte de estruturas de proteção e cortes de orçamento enfraquecem o trabalho de fiscalização. Agentes locais relatam a presença de centenas de Mashco Piro e mudanças no comportamento: apenas homens e meninos aparecem, o que indica uma tentativa de proteger mulheres e crianças dos confrontos. A extração de madeira avança sobre áreas protegidas mesmo com certificações internacionais, e conflitos já deixaram mortos entre madeireiros e, possivelmente, indígenas.

No Brasil, a construção de estradas no Acre é vista com preocupação por especialistas e lideranças indígenas. A única ligação terrestre com o Peru, concluída em 2011, trouxe garimpo e desmatamento acelerado. O governo federal deu início à criação do Território Indígena Mashco do Rio Chandless, mas organizações cobram cooperação concreta entre os dois países. Um antigo acordo bilateral expirou e ainda não foi renovado.

A Funai afirma monitorar os Mashco Piro e manter vigilância na TI Mamoadate. Enquanto isso, líderes locais relatam que os isolados estão cada vez mais próximos, impulsionados pelo medo e pela escassez. “É preciso segurança, unidade de saúde e profissionais especializados caso o contato aconteça”, afirma um monitor Manchineri. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e especialistas em direitos indígenas pressionam por ações imediatas antes que a situação se torne irreversível.

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Last Update: 05/07/2025