
A líder indígena Juma Xipaia, primeira cacica do povo Xipaia no Médio Xingu, estreou como protagonista e produtora do documentário “Yanuni” no Festival de Tribeca, em Nova York. O filme, dirigido pelo austríaco Richard Ladkani e coproduzido por Leonardo DiCaprio, retrata sua trajetória de luta pelos direitos dos povos originários e do meio ambiente, desde as denúncias contra Belo Monte até sua atuação no Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
Em entrevista exclusiva após a exibição em Sheffield, na Inglaterra, Juma revelou os bastidores da produção: “O primeiro encontro com o Richard foi mediado pela jornalista Eliane Brum. Ele falou: ‘Eu quero muito fazer algo para a amazônia. Eu me sinto responsável também. A gente se compromete e quer fazer junto com você’”.
O documentário mostra seu cotidiano entre a militância em Altamira (PA), o trabalho em Brasília e a maternidade de Yanuni, filha que teve com Hugo Loss, coordenador de fiscalização do Ibama. “O nosso amor, assim como o nosso amor pela amazônia, vivido, não roteirizado, é algo que a lente do Richard captou”, afirma.
Juma é incisiva sobre o julgamento do marco temporal no STF: “Nem deveria ser pauta, de tão absurdo que é. Nós já estávamos aqui”. Sobre a bioeconomia, alerta: “Muitos se apropriaram do termo para um biocapital. Não pode ser onde o não indígena é o empreendedor e nós só fornecemos matéria-prima.
Sobre sua experiência no MPI, Juma descreve um ambiente hostil: “O ministério é um território de recente contato que precisamos demarcar e permanecer. Chegar em uma audiência e ver aquele Zé Trovão [deputado do PL-SC], lidar com pessoas extremamente hostis…”.
Apesar dos desafios, reconhece avanços: “Há conquistas na saúde, educação e gestão territorial, mas o Brasil tem séculos de destruição para reparar”.

O filme chega em um momento crítico para os Xipaia: “Desde abril de 2022, quando meu pai encontrou uma draga no nosso território, vivemos em alerta. Temos pressão da mineração, drogas e interferência religiosa”. Através do Instituto Juma, ela trabalha para fortalecer a gestão territorial com as comunidades.
Com a COP30 se aproximando em Belém, a líder questiona: “Será que, no meio dessa multidão, estão os povos da amazônia? Continuamos ouvindo muitas vozes, mas sem que as nossas sejam de fato ouvidas?”.
“Yanuni” ainda não tem data de estreia no Brasil, mas já cumpre seu objetivo, segundo Juma: “Diversas pessoas têm dito: ‘Eu tinha perdido a esperança da humanidade. Eu tinha perdido a esperança no amor’. Quero que seja uma ferramenta para fortalecer o movimento”.