O sítio Em Defesa do Comunismo, do PCBR, publicou uma nota política no último dia 24 intitulada Contra o PL Transfóbico em Petrópolis!, tratando do projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores da cidade da região serrana, que determina o uso de banheiros públicos com base no sexo, com ameaça de até R$4.625 em caso de descumprimento da lei. Segundo o órgão esquerdista, reservar os banheiros femininos para mulheres biológicas seria uma “violência explícita”:
“A proibição do uso de banheiros, além de fomentar a violência explícita contra pessoas trans ao buscarem exercer um direito tão básico, serve pra legitimar ainda mais a exclusão de pessoas trans dos espaços públicos, agravando a dificuldade no acesso à educação, trabalho e saúde. Isso em um cenário com estatísticas apontando, por exemplo, como a maioria das mulheres trans e travestis (70%) sequer concluíram o ensino médio, e tem a prostituição como única fonte de renda(90%).”
Chama atenção o fato de que o artigo do PCBR utiliza elementos relativamente reais de opressão dos transexuais, como a dificuldade em concluir o ensino básico e ter uma ocupação que não seja prostituição, para defender algo que foi transformado em uma trincheira pelos identitários, mas que não tem a menor capacidade de provocar qualquer mudança na vida desse segmento. Acaso o uso de banheiros femininos por pessoas que biologicamente são homens reduzirá a evasão escolar ou garantirá formas produtivas de inserção no mercado de trabalho? É claro que não.
Se o PCBR estivesse realmente preocupado com o fato dos transexuais não terminarem a educação básica e tampouco terem acesso a empregos economicamente produtivos, a última coisa com que estariam preocupados é garantir que mulheres transexuais usem o banheiro feminino. A insistência em fazê-lo, porém, é praticamente uma comprovação de que o partido (bem como os identitários de conjunto) não querem realmente travar uma luta política pelos direitos dos transexuais.
Para o imperialismo, porém, a campanha que o PCBR abraça faz todo sentido. Enquanto questões centrais como trabalho, emprego e salários são atacados pela ferocidade crescente do neoliberalismo, a esquerda pequeno-burguesa se deixa levar pelo oportunismo a ponto de enlouquecer e, mais importante, se desmoralizar. De maneira quase tímida, o próprio PCBR parece reconhecer a popularidade do que a direita defende, quando o artigo diz que “a direita fascista em Petrópolis através deste projeto busca fomentar o pânico moral”.
Aqui é preciso reforçar de maneira enfática: a direita faz isso porque viu que funciona. Pode escapar aos sábios do partido dito comunista, porém, por mais que as mulheres transexuais acreditem ser mulheres de verdade, só o são de maneira imaginária. Na realidade, no que diz respeito à biologia, são homens.
O PCBR fala de maneira um tanto genérica que os transexuais não representam uma ameaça aos trabalhadores, mas com a questão posta da maneira que todas as pessoas normais enxergam, qual trabalhador não apoiará uma lei para impedir que um cidadão do sexo masculino use banheiro feminino? Qual mulher trabalhadora não se sentirá protegida por tal lei? O fato de setores aloprados da esquerda insistirem em querer fazer do banheiro feminino uma frente de batalha não faz mais do que levantar a bola para a extrema direita cabecear sozinha para o gol.
O partido se justifica dizendo que “casos de violência contra mulheres ocorre não em espaços públicos como os banheiros, mas justamente no espaço doméstico e principalmente por familiares”. Ora, seria então a proposta do PCBR tornar os banheiros públicos mais um local ameaçador para as mulheres? Trata-se de uma desculpa absurda sob qualquer aspecto.
“Confiamos plenamente na capacidade da classe trabalhadora da cidade de Petrópolis de lutar contra esse e qualquer outro projeto fascista”, diz o PCBR, o que é uma farsa. O que o partido verdadeiramente está fazendo é se chocar contra os trabalhadores, em algo que não deveria ser importante, mas acaba sendo pela falta de sensibilidade da esquerda, que não é outra coisa, mas o próprio descolamento do setor pequeno-burguês do campo de qualquer ligação real com os trabalhadores.
O bolsonarismo, é claro, deita e rola em cima dessas loucuras. Não é para menos. O retrocesso da esquerda em luta pela privada já seria uma vitória imensa para a burguesia, mas até do ponto de vista mais imediato, das eleições, nada melhor do que adversários aloprados querendo convencer a população a aceitar homens biológicos nos banheiros femininos