Trabalhar quatro dias e descansar três. Para alguns, ainda soa como utopia. Para outros, pode ser uma resposta aos impactos da inteligência artificial sobre o emprego. Com a automação acelerando em diversas áreas, cresce a discussão sobre como reorganizar a jornada de trabalho em tempos de produtividade crescente — e também de incertezas sobre o futuro das profissões.

Foi diante desse dilema que o senador norte-americano Bernie Sanders (Partido Democrata) trouxe de volta à pauta a proposta da semana 4×3. Em entrevista recente ao podcast Joe Rogan Experience, ele defendeu a ideia de reduzir a jornada para 32 horas semanais, distribuídas em quatro dias, sem cortes salariais. Para Sanders, os ganhos da tecnologia devem melhorar a vida das pessoas, não gerar desemprego.

O que propõe o projeto

A ideia de Sanders foi formalizada no projeto Thirty-Two Hour Workweek Act, que prevê a redução gradual da jornada de trabalho semanal para 32 horas em um período de quatro anos. O texto também estabelece esse limite como novo parâmetro para o pagamento de horas extras.

Entre os modelos alternativos previstos estão jornadas diárias de seis horas, desde que com manutenção dos salários e dos direitos trabalhistas. A proposta busca garantir que os ganhos com a automação e o uso de IA se reflitam em mais qualidade de vida — e não em desemprego ou sobrecarga.

IA não é o fim do trabalho — mas muda tudo

Para Andre Purri, CEO da Alymente, a inteligência artificial exige um novo tipo de liderança. “Compreender os fundamentos da IA não é mais um luxo, mas uma necessidade para liderar com responsabilidade. O maior risco não é errar a decisão, mas não saber que perguntas fazer”, afirma.

A IA, na prática, já elimina tarefas repetitivas, reduz processos burocráticos e cria margens inéditas de produtividade. A discussão agora é: o que será feito com esse tempo que sobra?

Experiências pelo mundo

Embora pareça ousado, o modelo de jornada reduzida já vem sendo testado com bons resultados. No Reino Unido, um estudo com 61 empresas mostrou que reduzir o tempo de trabalho não afetou as receitas e ainda aumentou o bem-estar dos funcionários.

A Microsoft no Japão reduziu a semana para quatro dias e viu a produtividade crescer 40%. Nos Estados Unidos, a Kickstarter adotou o modelo em 2021 e o mantém até hoje com resultados positivos.

Esses casos reforçam a ideia de que a produtividade não está diretamente ligada à quantidade de horas, mas à organização do tempo, à clareza dos objetivos e ao equilíbrio entre trabalho e descanso.

Resistência e o velho paradigma

Apesar dos avanços, a proposta enfrenta resistência. Parte do setor empresarial ainda vê a IA como um caminho para cortar custos e enxugar equipes, não como uma ponte para um modelo mais equilibrado.

Essa visão, baseada na lógica do “fazer mais com menos”, entra em choque com a perspectiva que entende o avanço tecnológico como uma oportunidade de repartir benefícios.

Qual o futuro possível?

A proposta de uma jornada 4×3 traz à tona uma pergunta urgente: quem se beneficia do progresso tecnológico? Em um mundo cada vez mais automatizado, o desafio é garantir que a inovação caminhe junto com dignidade, bem-estar e equidade — e não em direção a jornadas exaustivas, insegurança ou precarização.

A tecnologia pode ser aliada da qualidade de vida. Mas, para isso, é preciso decidir, enquanto sociedade, que tipo de futuro se deseja construir — e quem terá voz nesse processo.

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Last Update: 04/07/2025