Nos últimos dias, surgiu uma nova crise entre a Rússia e o Azerbaijão. No início da semana, autoridades russas detiveram cidadãos azerbaijanos que vivem no território da Federação, detenções que ocorreram como parte de investigações de crimes comuns que remontam ao início dos anos 2000.
Durante as operações, dois azeris morreram. Conforme informado pelo canal de comunicação Rybar, tanto o governo do Azerbaijão quanto a imprensa azerbaijana fizeram propaganda de que eles teriam sido mortos sob tortura. No entanto, o canal informa que as autoridades russas teriam constatado que “um deles teve insuficiência cardíaca, o outro, embolia”, que “esses diagnósticos foram confirmados pelos resultados da autópsia” e que, no procedimento, “não foram encontradas fraturas ou sinais de danos, como a mídia azerbaijana vem comentando”.
No entanto, o Azerbaijão decidiu retaliar e prendeu arbitrariamente vários cidadãos russos que vivem no país do Cáucaso, dentre os quais estavam dois editores-chefes da emissora russa Sputnik Azerbaijão e um editor da emissora russa Ruptly.
Apesar de, à primeira vista, parecer ser uma crise sem maior significado, por detrás dela aparece a crescente tentativa do imperialismo de controlar a região do Cáucaso, isolando Rússia e Irã um do outro e intensificando o cerco à Federação e à República Islâmica. Países que, junto à China, são os principais inimigos do imperialismo atualmente.
O escrito a seguir é baseado em informações retiradas do canal de comunicação Eurasia & Multipolarity, no Telegram.
Considerando que o Cáucaso é uma região estratégica por ligar a Ásia Central ao Oriente Médio e à Europa, especialmente no que diz respeito ao controle da produção e das rotas comerciais de petróleo e gás, destaca-se como exemplo desse cerco o projeto do Corredor Zangezur.
Trata-se de uma rota terrestre que visa a conectar o Azerbaijão diretamente à Turquia, passando pela província armênia de Syunik e pela República Autônoma de Naquichevão (enclave azerbaijano na Armênia).
Se, por um lado, o Azerbaijão se beneficiaria de uma rota terrestre direta conectando-o com a Turquia, este país, por sua vez, se beneficiaria por ter uma rota terrestre direta até o Mar Cáspio e, a partir daí, com os países da Ásia Central — Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. Os cinco primeiros, assim como a Turquia e o Azerbaijão, têm origem túrquica.
A Turquia, que é membro da OTAN, vê o Corredor Zangezur como peça fundamental para seu projeto panturquista, que visa liderar os países de origem túrquica da Ásia Central — desestabilizando, assim, regiões da Federação Russa com população túrquica, como Tartaristão e Bashkortostão, conforme avaliação do Eurasia & Multipolarity.
Para o imperialismo, um dos efeitos do corredor é eliminar a única ligação terrestre do Irã com a Armênia, o que isolaria Teerã das rotas comerciais caucasianas e europeias.
Outro efeito, ainda mais importante, é que esse corredor funcionaria como uma barreira terrestre entre Rússia e Irã, de forma que enfraqueceria a cooperação econômica estratégica entre os dois países.
Destaca-se ainda que o projeto do Corredor Zangezur é gerenciado também por capitalistas britânicos e por empresas israelenses.
Tanto o Reino Unido quanto “Israel” têm interesse no petróleo da região. Quanto aos britânicos, o monopólio imperialista British Petroleum (BP) controla o megacampo de gás Shah Deniz (no Mar Cáspio), transformando o Azerbaijão em alternativa energética à Rússia e promovendo sua integração ao mercado europeu sob domínio do imperialismo britânico e norte-americano. A respeito disso, a Europa e a Inglaterra vêm enfrentando crise energética em razão de suas sanções criminosas contra o petróleo e o gás russos, sanções que saíram pela culatra.
Não é coincidência que a BP seja uma das financiadoras do Corredor Zangezur. Igualmente, bancos azerbaijanos negociam com o Banco da Inglaterra o financiamento de projetos de comércio via criptomoedas, outra frente de penetração financeira imperialista.
Quanto a “Israel”, 40% do petróleo importado pela entidade sionista é fornecido pelo Azerbaijão, o que é feito por meio do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan. Em contrapartida, o Azerbaijão é o maior comprador de armas israelenses dentre os países de maioria muçulmana. Essa cooperação militar foi ampliada neste ano de 2025 para incluir inteligência, cibersegurança e inteligência artificial. Ainda, fontes russas informam que o Azerbaijão teria cedido bases e escutas para operações de espionagem israelense contra o Irã, além de alimentar redes de sabotagem e agitação entre minorias iranianas de origem azerbaijana.
Seguindo na esteira da militarização que vem sendo levada a cabo por países imperialistas, bem como por países que servem de ponta de lança ao imperialismo (a exemplo da Polônia), o Azerbaijão recentemente comprou 40 caças JF-17 Thunder do Paquistão, em um contrato de US$4,6 bilhões — originalmente, o contrato previa a compra de apenas 16.
Informa-se ainda sobre o envolvimento do Azerbaijão com a Ucrânia, inclusive fornecendo munições de 122 mm de fabricação azerbaijana para as forças ucranianas. No aspecto econômico, empresas do Azerbaijão em Odessa (cidade portuária na Ucrânia) seriam fachadas para o imperialismo britânico.
Tais informações, somadas às crises entre Rússia e Azerbaijão, que se acumulam, bem como às denúncias de que o país do Cáucaso teria permitido “Israel” utilizar seu espaço aéreo para atacar o Irã na recente guerra, são indícios de que o imperialismo tenta isolar a Rússia do Irã, utilizando a Turquia e o Azerbaijão para isso.