A Petrobras anunciou nesta quinta-feira, 3, que enfrenta dificuldades para preencher vagas operacionais em suas unidades, mesmo com a contratação sendo realizada por meio de empresas terceirizadas. A estatal informou que está adotando medidas para qualificar trabalhadores e atrair de volta profissionais que migraram para ocupações informais, como o transporte por aplicativo.
As informações foram divulgadas durante a apresentação do plano de investimentos da companhia no Rio de Janeiro. O pacote, que prevê R$ 33 bilhões em aportes até 2029 no setor de refino e na indústria petroquímica, inclui a geração de 38 mil empregos diretos e indiretos, além de mais de 100 mil postos temporários relacionados a atividades de manutenção.
“Já estamos nessa fase de pleno emprego, já estão faltando eletricistas, caldeireiros e soldados, todo esse arsenal de pessoal que nós utilizamos e mobilizamos para as nossas operações”, afirmou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em coletiva de imprensa.
A escassez de trabalhadores, segundo a presidente, não se limita ao estado do Rio de Janeiro. “É um fenômeno que já percebemos também em outras regiões do país”, disse.
Mercado aquecido e pleno emprego
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE na última sexta-feira (27), indicam que o desemprego no Brasil atingiu 6,2% no trimestre encerrado em maio de 2025. É o menor patamar para esse período desde o início da série histórica, em 2012, e próximo da marca de 6,1% registrada em novembro de 2024, o menor nível já apurado.
Além disso, a pesquisa revelou que o número de desalentados — pessoas que desistiram de procurar emprego — está no menor nível desde 2016. O cenário atual, descrito por economistas como de “pleno emprego”, significa que praticamente todas as pessoas aptas e dispostas a trabalhar encontram ocupação.
A diretora-executiva de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Renata Baruzzi, destacou a escassez de mão de obra como reflexo do aquecimento do mercado. “Mostra que a gente está em pleno emprego no Brasil”, disse.
Reintegração de profissionais qualificados
Baruzzi explicou que uma das estratégias da empresa é trazer de volta profissionais que abandonaram o setor de construção civil e industrial nos últimos anos devido à falta de oportunidades. Ela citou o caso de trabalhadores que se tornaram motoristas de plataformas de transporte por aplicativo.
“Muita gente foi para o Uber. Então, vamos ver se a gente consegue trazer o pessoal de volta do Uber para a obra”, afirmou.
Segundo a diretora, há indícios de que parte desses profissionais já começou a retornar. “Muito soldador, muito pessoal bem qualificado, alguns já estão retornando, isso é a informação que as indústrias, que as empresas já estão nos trazendo.”
A Petrobras também ressaltou que estabelece como requisito, nas contratações realizadas por terceirizadas, que os trabalhadores tenham acesso a plano de saúde. A iniciativa busca reforçar os atrativos do emprego formal.
Parcerias para qualificação
Como parte do esforço para reduzir o número de vagas não preenchidas, a empresa lançou o Programa Autonomia e Renda, que visa qualificar beneficiários do programa Bolsa Família. A formação é feita em parceria com instituições como a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
“A nossa ideia é que retire esse pessoal do Bolsa Família para que possa trabalhar não só nas nossas obras, como nas paradas de manutenção que têm nas refinarias”, explicou Baruzzi.
Segundo a companhia, o programa poderá ampliar a oferta de profissionais capacitados para as funções demandadas nas operações da estatal.
Salários e demanda por especialização
O diretor executivo de Processos Industriais e Produtos, William França, afirmou que os investimentos previstos representam uma “geração intensiva de mão de obra”. As áreas de maior demanda incluem manutenção industrial e obras em refinarias.
França apresentou uma estimativa de remuneração para alguns cargos. “Para um bom inspetor de solda, a faixa de salário e benefícios é em torno de R$ 10 mil. Um bom planejador, que sabe mexer com software, pode chegar a mais de R$ 25 mil.”
Nas atividades de manutenção, os salários variam de R$ 6 mil a mais de R$ 30 mil, de acordo com a função e o nível de qualificação do trabalhador. “Eu diria que os salários, em nível de Brasil, [são] muito bons, porque é gente especializada, é mecânico, soldador, inspetor, planejador, para controle de máquinas, de guindastes, de elevação de cargas. É gente muito boa, qualificada, que a gente está precisando, porque nós estamos investindo”, concluiu França.
A Petrobras estima que a demanda por profissionais especializados vai crescer nos próximos anos, acompanhando o ritmo dos novos projetos de investimento em curso. As ações da companhia voltadas à formação e reintegração da mão de obra têm como objetivo evitar gargalos que possam comprometer os cronogramas operacionais.
