No dia 29 de dezembro de 1959, nascia em Beirute, no bairro de Sabra, Dalal al-Mughrabi, filha de um pai palestino, Said al-Mughrabi, forçado a abandonar Lydda em 1948 e a buscar refúgio no Líbano, e de uma mãe libanesa, Amna Ismail, natural da cidade de Choukine, no Sul do Líbano. Dalal, a mais velha de suas quatro irmãs (Rashida, Jamila e Jidal) e cinco irmãos (Fadi, Shadi, Rashid, Mohammad e Ahmad), cresceu em um ambiente marcado pela Nakba e pela luta pela libertação de seu povo.
Dalal al-Mughrabi iniciou seus estudos na Escola Primária Yaʿbud e, posteriormente, na Escola Preparatória de Haifa, ambas administradas pela Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). Ela deixou os estudos antes de concluir o diploma libanês de ensino médio. Desde cedo, Dalal demonstrou seu engajamento com a causa palestina.
Em 1972, ainda como estudante, ela ingressou no partido Movimento de Libertação Nacional da Palestina, o Fatá. Sua dedicação à luta a levou a completar diversos cursos em campos de treinamento militar do movimento, onde se capacitou no manejo de variados tipos de armamentos, preparando-se para o combate direto contra a ocupação sionista.
Em 1973, Dalal e sua irmã mais velha, Rashida, a quem Dalal considerava sua confidente mais próxima, matricularam-se em um curso de treinamento organizado pela Sociedade do Crescente Vermelho Palestino. Ambas se formaram como enfermeiras, o que demonstrava a preocupação da resistência em atuar não apenas na frente de combate, mas também na retaguarda de apoio ao povo.
Após o início da guerra civil no Líbano, Dalal al-Mughrabi uniu-se ao Batalhão Jarmaq, conhecido também como Batalhão Estudantil, e participou ativamente dos combates entre 1975 e 1977. Sua vida pessoal também foi marcada por sua dedicação à revolução: em 1975, ela ficou noiva de outro combatente palestino, mas rompeu o noivado porque seu prometido se opunha à sua participação ativa na luta.
A Operação Kamal Adwan, uma das mais audaciosas ações da Resistência Palestina, teve Dalal al-Mughrabi como líder. Em dezembro de 1977, ela foi designada para comandar esta operação de um grupo de fedayeen (comandos). Antes de partir, Dalal foi para casa despedir-se da família e compareceu à festa de aniversário de seu irmão mais novo. “Esta é a última festa de aniversário a que comparecerei”, disse ela à sua irmã Rashida. A operação, no entanto, foi adiada por dois dias devido ao mau tempo, o que permitiu que ela retornasse brevemente para casa.
Em 9 de março de 1978, um navio partiu da costa libanesa, transportando o grupo Deir Yasin, composto por treze combatentes da Palestina, Líbano e Iêmen. Dalal al-Mughrabi liderava o grupo, usando o nome de guerra Jihad. A operação recebeu o nome de Kamal Adwan, um líder palestino assassinado pelas forças de “Israel” em 10 de abril de 1973 em Beirute, junto com outros dois proeminentes líderes palestinos: Muhammad Yusef al-Najjar e Kamal Nasser.
O planejamento da Operação Kamal Adwan foi supervisionado por Khalil al-Wazir (Abu Jihad), vice-comandante-em-chefe das forças armadas da Revolução Palestina e chefe das operações do Fatá nos territórios palestinos ocupados, conhecido como Setor Ocidental. O objetivo do grupo era assumir o controle de um hotel em Telavive, fazer reféns e exigir a libertação de combatentes palestinos detidos nas prisões de “Israel”.
Quando o navio se aproximou da costa palestina, os combatentes desembarcaram e se transferiram para dois botes infláveis franceses Zodiac. Contudo, as embarcações perderam o rumo em alto mar devido ao mau tempo que persistiu por dois dias. Um dos botes chegou a virar, resultando no afogamento de dois combatentes. Os ventos acabaram levando o restante do grupo para a praia, nas proximidades do assentamento de Ma’agan Michael, localizado a 25 quilômetros ao sul de Haifa.
No sábado, 11 de março, os combatentes alcançaram a rodovia entre Haifa e Telavive. Ali, eles abordaram um táxi e dois ônibus de passageiros. Todos os passageiros foram reunidos em um único ônibus, que seguiu em direção a Telavive, rompendo várias barreiras policiais que haviam sido montadas ao longo do caminho.
À medida que o ônibus se aproximava da cidade de Herzliya, uma batalha feroz e prolongada, que durou horas, teve início entre os combatentes palestinos e as forças militares de “Israel”. Existem relatos divergentes sobre o curso da batalha, e fontes “israelenses” não divulgaram o número de militares mortos no confronto.
Ao final do embate, o ônibus explodiu, resultando na morte de todos que estavam em seu interior. Nove combatentes palestinos, incluindo Dalal al-Mughrabi, foram mortos. Dois outros, Hussein Mahmoud Fayyad, nascido em Khan Yunis, na Faixa de Gaza, e Khaled Mohammad Ibrahim Abu Osbaʿ, um palestino nascido no Cuaite, foram capturados e permaneceram nas prisões de “Israel” até 1985, quando foram libertados em um acordo de troca de prisioneiros entre a Frente Popular para a Libertação da Palestina – Comando Geral e o governo “israelense”. Estima-se que cerca de trinta “israelenses” foram mortos e oitenta ficaram feridos nessa operação.
O então ministro da Defesa de “Israel”, Ehud Barak, que se acredita ter liderado a unidade responsável pelos assassinatos dos três líderes palestinos em 1973 (incluindo Kamal Adwan, que deu nome à operação), também liderou uma das unidades do exército de “Israel” que interceptou o grupo Deir Yasin. Uma fotografia perturbadora tirada após o fim da operação mostra Ehud Barak em pé ao lado do corpo de Dalal al-Mughrabi, segurando-o para exibi-lo aos cinegrafistas e fotógrafos, um ato que expõe a barbaridade do regime sionista.
A Operação Kamal Adwan teve um impacto significativo em nível local, regional e internacional. Gerou também um intenso debate entre o exército e a polícia de “Israel” sobre a responsabilidade pela falha em impedir que o grupo de comandantes palestinos alcançasse com sucesso a rodovia Haifa-Telavive e tomasse reféns.
Quando a notícia da operação chegou ao bairro onde a família de Dalal al-Mughrabi morava, todos ficaram chocados, pois Dalal nunca havia revelado sua vida militar e nunca havia sido vista em uniforme em sua comunidade. Ela deixou um testamento escrito à mão, no qual pedia a todos os combatentes palestinos de todas as facções que suspendessem as contradições secundárias e intensificassem a luta contra o ocupante “israelense”, um chamado à unidade da resistência.
“Israel” recusou-se a entregar o corpo de Dalal al-Mughrabi. Ela foi enterrada no que é conhecido como cemitério dos números de “Israel”, onde são sepultados os corpos de combatentes palestinos e árabes que realizaram operações contra o país artificial. Esses corpos geralmente são entregues apenas como parte de trocas de prisioneiros.
Após a assinatura dos Acordos de Oslo, o presidente da OLP, Yasir Arafat, prometeu à irmã de Dalal, Rashida, que faria tudo ao seu alcance para que o corpo de sua irmã fosse devolvido e enterrado dignamente. A ditadura sionista, no entanto, recusou-se a entregá-lo.
Em 17 de julho de 2008, o partido libanês Hesbolá exigiu a devolução do corpo de Dalal al-Mughrabi como parte de um acordo de troca de prisioneiros com “Israel”. Em antecipação à sua repatriação, bandeiras palestinas foram hasteadas na varanda da casa de sua família. Sua mãe, Amna Ismail, já idosa, precisava da ajuda de sua neta Dalal, de sete anos, para levantar-se e cumprimentar os convidados que vinham para congratulá-la pelo iminente retorno dos restos mortais de sua filha.
Testes de DNA realizados nos restos mortais de cinco combatentes do grupo Deir Yasin, no entanto, mostraram que o corpo de Dalal al-Mughrabi não estava entre os entregues. A localização de seus restos mortais permanece desconhecida até hoje.
Conhecida como a “Noiva de Jafa”, Dalal al-Mughrabi é considerada uma das mais proeminentes combatentes da luta pela libertação da palestina e uma das mulheres mais famosas entre elas. O heroísmo, a coragem e a determinação demonstrados pela jovem palestina de 18 anos de idade despertaram orgulho em todo o mundo árabe, inclusive por muitos escritores árabes conhecidos, como o poeta sírio Nizar Qabbani e o romancista libanês Elias Khoury.