O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou nesta terça-feira, 1, um protocolo de intenções com a Prefeitura do Rio de Janeiro para viabilizar o projeto Rio AI City. A iniciativa busca transformar a capital fluminense em um centro estratégico de data centers e inteligência artificial na América Latina.

O acordo de cooperação também envolve o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Eletrobras e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A assinatura ocorreu na sede do BNDES, durante a abertura do evento “Governança e Estratégias Públicas em Inteligência Artificial”.

Fundo para impulsionar setor de tecnologia

O diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDES, Nelson Barbosa, afirmou que o banco pretende estruturar um fundo específico para apoiar projetos voltados a data centers e inteligência artificial. O aporte inicial está estimado entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão, podendo atingir entre R$ 2,5 bilhões e R$ 5 bilhões com a entrada de recursos privados.

De acordo com Barbosa, o foco será o incentivo a todos os elos da cadeia produtiva do setor, com atenção especial às pequenas e médias empresas. O fundo integra a estratégia de retomada de investimentos diretos do BNDES em companhias, anunciada na semana anterior pelo presidente da instituição, Aloizio Mercadante.

Segundo Mercadante, a política prevê R$ 10 bilhões em investimentos no biênio 2025-2026, sendo R$ 5 bilhões por meio de participações diretas e R$ 5 bilhões via fundos de investimento em participações (FIPs).

Apoio a infraestrutura e capital humano

Barbosa ressaltou que, desde 2023, o banco já destinou R$ 1,7 bilhão ao setor de tecnologia da informação. O montante inclui R$ 1 bilhão em operações com foco em hardware, como equipamentos de TI e data centers, além de R$ 63 milhões aplicados diretamente em duas empresas do setor. Outros R$ 700 milhões foram investidos em sete FIPs, com potencial de alavancar até R$ 2,3 bilhões de capital privado.

O diretor destacou a necessidade de reforçar a infraestrutura física e digital. “Precisamos fazer mais aportes em infraestrutura, ampliar a oferta de energia, melhorar a conectividade e investir em capital humano para desenvolver o setor”, afirmou.

Estrutura do projeto Rio AI City

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que o município reúne condições favoráveis para atrair o novo polo de tecnologia. Entre os fatores citados estão o ambiente regulatório, a disponibilidade de energia limpa, a malha de fibra óptica e a qualificação da mão de obra local. A área escolhida para sediar o projeto fica na Barra da Tijuca.

A expectativa é que o hub alcance capacidade de 3 gigawatts até 2032, com investimentos totais estimados em US$ 65 bilhões.

Plano Brasileiro de Inteligência Artificial

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou que a criação do Rio AI City está alinhada ao Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. O programa, segundo ela, prevê investimentos de R$ 23 bilhões até 2028 e já tem 31% de suas metas em execução ou concluídas.

“Estamos comprometidos em colocar a inteligência artificial a serviço de um projeto de crescimento com justiça social e equidade”, declarou. Santos também apontou a importância da soberania nacional no desenvolvimento de IA. “Dominar a IA é uma questão de soberania nacional crucial diante das mudanças na geopolítica do mundo”, disse.

Inclusão e governança digital

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, afirmou que a transformação digital pode ser um vetor de redução de desigualdades e de crescimento econômico. Segundo ela, a digitalização deve estar conectada a valores como ética, sobriedade e centralidade nas pessoas.

Dweck também apresentou uma proposta para integrar dados de diferentes esferas do governo federal em uma única base. “Temos que trabalhar com a lógica de que a inteligência artificial no Brasil seja inclusiva, sóbria, ética e centrada nas pessoas”, afirmou.

Regulação e soberania de dados

Durante o painel sobre governança e economia de dados, especialistas defenderam a regulação como instrumento essencial para garantir o desenvolvimento soberano do setor.

O professor Ronaldo Mota, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alertou para o risco de decisões sobre o uso de IA serem tomadas sem controle local. “Ou somos peças ativas na formulação dessas políticas ou ficaremos submetidos ao que é decidido fora do nosso controle”, afirmou.

Luca Belli, da Fundação Getúlio Vargas, acrescentou que a regulação pode fomentar a inovação quando bem estruturada. “É importante lembrar que a publicação das regras é apenas o início da jornada regulatória. É necessário acompanhar a implementação de perto”, disse.

João Vasconcellos, do Banco Mundial, destacou que os governos enfrentam o desafio de integrar as pautas de inteligência artificial e sustentabilidade. “São duas grandes transições que os governos estão tentando abraçar, mas é preciso que essas agendas estejam entrecruzadas”, comentou.

Continuidade da programação

O evento “Governança e Estratégias Públicas em Inteligência Artificial” segue nesta quarta-feira (2), com debates sobre infraestrutura para data centers e políticas públicas voltadas à implementação ética e eficiente da inteligência artificial.

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Last Update: 02/07/2025