O dólar comercial encerrou esta quarta-feira, 2, em queda de 0,77%, cotado a R$ 5,4191, no menor valor desde 19 de agosto do ano passado. O recuo da moeda norte-americana ocorreu em meio ao ambiente de juros elevados no Brasil e à repercussão da derrubada do decreto que aumentava o IOF, aprovada pelo Congresso na semana passada.
A queda acumulada do dólar em 2025 chegou a 12,30%, em linha com o movimento de valorização do real observado nos últimos meses. No mercado futuro, às 17h28, o dólar com vencimento em agosto, o contrato mais negociado na B3, caía 0,57%, sendo negociado a R$ 5,4615.
Pela manhã, o dólar chegou a superar os R$ 5,50, acompanhando o fortalecimento da moeda dos Estados Unidos frente a outras divisas no exterior. No entanto, ao longo do dia, o movimento perdeu força, e a divisa passou a cair tanto no cenário internacional quanto em relação ao real.
Desde que o Congresso Nacional derrubou, na semana passada, o decreto do Executivo que previa o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o dólar acumulou uma queda de aproximadamente R$ 0,14. A reversão da medida ainda gera repercussões no mercado, com investidores monitorando os próximos passos do governo.
Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a se manifestar sobre o tema, após a Advocacia-Geral da União (AGU) anunciar que acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) para defender o decreto. Segundo Haddad, “as discussões sobre o tema não são políticas, mas jurídicas”.
Outro fator apontado por analistas como influente na queda do dólar é a taxa básica de juros no Brasil, atualmente em 15%, que mantém o país como destino atrativo para capital externo. A expectativa de que o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, inicie um ciclo de cortes nas taxas de juros nos próximos meses também tem contribuído para essa dinâmica.
O relatório nacional de emprego da ADP, divulgado nesta manhã, mostrou que o setor privado dos Estados Unidos perdeu 33 mil vagas em junho. O número surpreendeu analistas, que esperavam a criação de 95 mil postos. A leitura do mercado é de que os dados reforçam a possibilidade de redução dos juros pelo Fed já no final de julho, o que aumentaria a atratividade de investimentos em países com taxas mais elevadas, como o Brasil.
A cotação do dólar à vista oscilou durante o pregão. Após atingir a máxima de R$ 5,5070 às 9h13, logo após a abertura, a moeda inverteu a trajetória e caiu ao mínimo de R$ 5,4155 às 16h46, já no fim da sessão.
Durante evento do Citi realizado em São Paulo, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, comentou o cenário cambial. “Onde o câmbio vai parar tem muito mais a ver com o comportamento do dólar no mundo do que com o desempenho do real”, afirmou.
David também disse que o Banco Central não interveio no câmbio neste ano e que atuações da autoridade monetária só ocorrem para corrigir disfuncionalidades, e não com o objetivo de alterar o preço da moeda.
Mais cedo, o Banco Central informou que o Brasil registrou fluxo cambial negativo de US$ 3,711 bilhões em junho até o dia 27. A informação reforça o movimento de saída líquida de recursos do país durante o mês. Apesar disso, o real manteve trajetória de valorização, apoiado pelos fundamentos domésticos.
Na parte operacional, o Banco Central vendeu integralmente sua oferta diária de 35 mil contratos de swap cambial tradicional. A operação visa manter liquidez no mercado e suavizar oscilações abruptas.
No mercado internacional, o índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, subia 0,15% no fim da tarde, alcançando 96,787 pontos. O comportamento da moeda norte-americana em relação ao real, no entanto, seguiu trajetória contrária.
Analistas avaliam que a combinação de fatores internos e externos continuará influenciando a taxa de câmbio nas próximas semanas. A definição sobre o futuro do decreto do IOF no STF, além dos próximos dados econômicos nos Estados Unidos, são pontos monitorados por investidores.
A expectativa no mercado local também se volta para possíveis sinalizações do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nas próximas reuniões, diante do atual nível da taxa Selic e da perspectiva de desaceleração da inflação.