
A vereadora Jéssica Lemonie (PL), do município de Itapoá (SC), se tornou centro de uma controvérsia nacional após propor a retirada do livro “Capitães da Areia”, clássico da literatura brasileira escrito por Jorge Amado, das escolas municipais. A parlamentar argumenta que a obra é “inapropriada” para estudantes do ensino fundamental por conter, segundo ela, “romantização do estupro” e apologia à criminalidade.
Durante sessão da Câmara Municipal, a bolsonarista afirmou que “um autor comunista está sendo usado para infiltrar ideologias de esquerda no conteúdo escolar” e pediu providências da Secretaria de Educação para que o livro fosse retirado das salas de aula.
Segundo Jéssica, estudantes de 12 e 13 anos não deveriam ter contato com temas como violência, roubo e sexualidade, elementos centrais da obra publicada originalmente em 1937, que retrata a vida de crianças marginalizadas nas ruas de Salvador.
A proposta de Lemonie provocou forte reação de educadores, especialistas em literatura e até da Fundação Casa de Jorge Amado, que classificou a tentativa como censura.
Professores da rede municipal argumentam que a obra faz parte do acervo recomendado por diversos programas de leitura do MEC e já foi cobrada em edições anteriores do Enem. Eles defendem que o livro é uma ferramenta essencial para discutir desigualdade, abandono infantil e direitos humanos.
— VIDRAÇA TAMBÉM É GENTE, GENTE… (@VidrsGente) July 2, 2025
Quem é Jéssica Lemonie
Antes do cargo na Câmara de Itapoá, Jéssica se formou em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Santa Catarina. Foi eleita vereadora de Itapoá em 2024 com 388 votos, pelo Partido Liberal. Aos 27 anos, assumiu o cargo como a parlamentar mais jovem da legislatura.
Antes disso, presidiu o núcleo municipal do PL Jovem por seis meses, o que a impulsionou na trajetória política junto à base bolsonarista da região.
A vereadora cresceu no bairro São José, filha de empresários locais do ramo de comércio e construção civil. Estudou em escolas públicas da cidade e, segundo ela própria, a vivência comunitária e o contato com as realidades sociais de Itapoá a motivaram a entrar na política.
Seguindo o cartilha da extrema-direita, Jéssica mantém uma presença forte nas redes sociais, onde utiliza perfis para reforçar posicionamentos conservadores, criticar o que chama de “doutrinação ideológica” nas escolas e defender pautas alinhadas ao bolsonarismo.
A tentativa de censura ao livro de Jorge Amado rendeu à vereadora milhares de novos seguidores.
A Secretaria Municipal de Educação ainda não se posicionou oficialmente sobre o pedido de retirada do livro. No entanto, educadores do município relatam que, por precaução, algumas escolas optaram por suspender temporariamente o uso da obra enquanto aguardam uma decisão formal.