O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) anunciaram nesta terça-feira, 1º, uma série de iniciativas voltadas à ampliação da infraestrutura de inteligência artificial (IA) e ao desenvolvimento de data centers no Brasil. O principal destaque é a assinatura de um protocolo de intenções para consolidar o Rio de Janeiro como um centro nacional de processamento de dados.
O acordo envolve o governo federal, a prefeitura do Rio e a Eletrobras. A divulgação foi feita durante o seminário “Governança e Estratégias Públicas em Inteligência Artificial”, realizado na sede do BNDES, no Rio, paralelamente à cúpula do BRICS.
Segundo o diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa, o banco estuda criar um fundo específico voltado a projetos de IA e data centers, com investimentos do BNDESPar, seu braço de participações, que podem variar entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. “Dos R$ 5 bilhões destinados a fundos, estamos avaliando um fundo direcionado para data center e IA com potencial do BNDES aportar algo entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão”, declarou.
O fundo poderá alcançar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 5 bilhões, considerando o capital privado que poderá ser atraído. Barbosa afirmou que o objetivo é apoiar toda a cadeia de tecnologia da informação, incluindo modelos de data centers, pesquisa em algoritmos, desenvolvimento de aplicativos, soluções de IA e hardwares. O escopo também contempla setores como jogos eletrônicos e a indústria criativa.
Desde 2023, o BNDES já destinou R$ 1,7 bilhão ao setor tecnológico por meio de financiamentos diretos e participações em fundos. Esse montante inclui:
- R$ 1 bilhão em novas operações com foco em hardware, data centers e produtos de tecnologia da informação;
- R$ 63 milhões em investimentos diretos em duas empresas por meio do BNDESPar;
- R$ 700 milhões aplicados em sete fundos de participação focados em empresas de base tecnológica ou que utilizam IA.
Ainda de acordo com Barbosa, a expectativa é que os R$ 700 milhões investidos nesses fundos possam alavancar até R$ 2,3 bilhões em capital privado, com potencial de ampliação do impacto no setor.
O presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, afirmou que o protocolo pode atrair empresas internacionais e tornar o Brasil mais competitivo no setor tecnológico. “O protocolo é feliz em perceber a questão do financiamento. Ou seja, ele cria um modelo diferenciado entre Finep, BNDES e Eletrobras ao reconhecer a oportunidade que o Rio tem. A cidade passa a ser um centro atraente de investimentos pela capacidade de conectividade que terá”, afirmou Elias.
Ele também mencionou a importância da infraestrutura de cabos submarinos instalada na capital fluminense durante os Jogos Olímpicos de 2016, que poderá ser aproveitada para sustentar a instalação de novos data centers.
O dirigente da Finep destacou ainda que o memorando está alinhado ao Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, lançado pelo governo federal. “[Esse memorando] traz uma iniciativa estratégica de um impacto não só econômico, mas científico e tecnológico muito grande”, concluiu.
As ações fazem parte da política industrial Nova Indústria Brasil, relançada em 2024 pelo governo Lula. A estratégia visa à reindustrialização do país com foco em inovação e sustentabilidade, tendo a inteligência artificial como um dos eixos centrais. O fortalecimento da infraestrutura de dados também é apontado como parte essencial para consolidar o país no cenário internacional do setor tecnológico.
Caso o plano avance conforme previsto, o Rio poderá assumir um novo papel como polo estratégico de conectividade, com impacto regional. A integração entre setor público, empresas estatais e investidores privados será o modelo adotado para viabilizar os investimentos.
A assinatura do protocolo acontece em meio ao esforço de governos e instituições para reduzir a dependência tecnológica externa e ampliar a presença nacional em áreas de alto valor agregado. O projeto busca criar um ambiente propício à instalação de data centers, fomento à pesquisa em IA e desenvolvimento de soluções tecnológicas com base nacional.
Além da infraestrutura técnica, a iniciativa prevê ações para estimular a formação de mão de obra qualificada, facilitar parcerias com centros de pesquisa e viabilizar novas rotas de financiamento para empresas do setor.
O Rio, que já conta com ativos relevantes de conectividade, como os cabos submarinos e o histórico de eventos internacionais, surge como uma das cidades com maior potencial para sediar estruturas tecnológicas de larga escala. O investimento previsto, somado à articulação institucional, pode redefinir o papel da cidade no mapa da inovação e tecnologia da informação na América Latina.
Com o apoio financeiro do BNDES e da Finep, o novo plano poderá ser decisivo para consolidar um ecossistema nacional de inteligência artificial, com impacto em múltiplos setores da economia. A participação da Eletrobras e o engajamento das esferas municipal e federal são apontados como componentes centrais para a execução das medidas previstas.