O esquema ilegal de vendas de presentes de luxo oficiais no exterior pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno foi baseado em ordens vindas “de cima”, defesa “genérica” e até trapalhadas na hora de recuperar os itens milionários, entregues por autoridades estrangeiras ao Estado brasileiro quando o político inelegível estava à frente do Palácio do Planalto.
As ordens de Bolsonaro
De acordo com as investigações da Polícia Federal, as ordens para a venda dos presentes oficiais e até a omissão de registros no sistema de bens do acervo privado de Bolsonaro partiram diretamente do mesmo, conforme os depoimentos do ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid; e do ex-assessor Osmar Crivelatti.
Bolsonaro também teria dado aval para um leilão de um dos conjuntos de joias que recebeu quando era presidente. Em mensagens, Cid enviou link do leilão e Bolsonaro respondeu com o jargão militar “Selva”.
Defesa rasa
Outras mensagens analisadas pelos investigadores apontam também que o advogado Frederick Wassef enviou um áudio a Bolsonaro, em 8 de março de 2023, afirmando a necessidade de uma defesa “genérica”, para que o caso fosse tratado como fake news.
Operação de recompra
Mauro Cid, que delatou o caso das joias, inicialmente revelado pelo jornal Estado de S. Paulo, chegou a apagar mensagens de WhatsApp que havia trocado com o ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre a recuperação do que ficou conhecido como “kit ouro branco”, formado por um anel, abotoaduras, um rosário islâmico e um relógio da marca Rolex, recebido Bolsonaro em visita oficial à Arábia Saudita em 2019.
As trapalhadas de Wassef
Wassef – que acabou excluído da defesa de Bolsonaro – foi até aos Estados Unidos, onde se encontrou com o ex-presidente e recuperou o relógio Rolex desviado da União.
Conclusões
A PF concluiu que, no total, as jóias recebidas por Bolsonaro somam cerca de R$ 6,8 milhões, em valores atualizados. O montante, no entanto, não considera os bens pendentes de perícia, além de esculturas douradas de um barco e uma árvore e um relógio Patek Philippe, que foram vendidos.
Isso não significa que todo esse dinheiro foi para o bolso do ex-presidente, mas a venda tinha o objetivo de “enriquecimento ilícito” de Bolsonaro, de acordo com a corporação.
A PF concluiu que o desvio dos presentes oficiais também está relacionado à produção de fake news e ao uso indevido de recursos do Estado.
Ontem, o caso foi enviado para análise da Procuradoria-geral da República (PGR), que terá 15 dias para se manifestar se apresentará uma denúncia formal contra os envolvidos, se pedirá novas diligências ou arquivará o caso.