Em meio à crise política de seu terceiro mandato e com a disputa presidencial de 2026 no horizonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a adotar tom combativo e a investir em contato direto com camadas populares .
A orientação do Planalto prevê ida frequente a periferias urbanas e atenção a medidas voltadas à população de baixa renda. Em São Paulo, na Favela do Moinho, o presidente alterou o local de um evento oficial para conversar com moradores, caminhou por uma quadra esportiva sem palanque e anunciou a aquisição de moradias para a comunidade .
No Tocantins, Lula afirmou que setores da sociedade se opõem ao seu nome por causa da proposta de reformar o Imposto de Renda. “Tem gente que não gosta de mim porque eu quero que rico pague mais Imposto de Renda para pobre ser isento até R$ 5 mil”. E completou: “Eu sou do lado do povo trabalhador, dos professores e da classe média baixa” .
A mudança de foco ocorre após derrota no Congresso, quando o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras foi derrubado em sessão do Plenário, gerando recuo do governo e evidenciando fragilidade da coalizão .
O Executivo tem evitado cortes de despesas, mas optado por elevar a arrecadação. Dados do Banco Central mostram que a arrecadação federal alcançou R$ 1,2 trilhão entre janeiro e maio de 2025, englobando receitas tributárias, contribuições sociais e receitas não tributárias .
Especialistas e opositores criticam a resistência em apresentar plano de ajuste fiscal. “O governo terá que cortar gastos. As chances de o equilíbrio das contas ser alcançado pelo aumento da carga tributária são baixas, especialmente em um contexto em que a maioria legislativa do Executivo não é substantiva”, disse o cientista político Carlos Pereira, da FGV . A economista Zeina Latif também alertou: “Para o ano que vem, a situação é de colapso. Não tem bala de prata. O governo terá que fazer um contingenciamento forte, talvez até rever políticas como Pé-de-Meia e Vale-Gás” .
Assessores do presidente reconhecem motivação eleitoral. A expressão “colocar o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda” voltou ao centro da retórica petista e, segundo pesquisas internas, tem receptividade entre a população .
A agenda de proximidade será ampliada em 7 de julho, quando Lula participará de cerimônia em Salvador pela Independência da Bahia. Outras viagens em tom semelhante estão em análise. Em contrapartida, compromissos internacionais serão limitados a situações como a Cúpula do Mercosul, também agendada para esta semana .
No Senado, o líder do PL, Carlos Portinho (PL-RJ), avaliou que a derrota no caso do IOF decorre de “erros na condução econômica”. “Já advertimos isso. O governo só pensa em coletar impostos e atinge todo mundo, inclusive os pobres. E se recorrer ao STF, vai agravar ainda mais a sua relação com o Congresso” .
Propostas de restrição a supersalários e de revisão de benefícios seguem paradas em comissões da Câmara e do Senado, sem previsão de votação neste semestre .
Instituições públicas, como universidades federais, INSS, agências reguladoras e Forças Armadas, já sentem efeitos de bloqueios no Orçamento. Cerca de 90% dos recursos da União estão comprometidos com despesas obrigatórias, o que limita investimento em programas e ações de governo .
Relatórios do Banco Mundial e da Instituição Fiscal Independente indicam ajuste de 3% do Produto Interno Bruto para restaurar o equilíbrio nas contas públicas e alertam que o ritmo de crescimento das despesas torna o arcabouço fiscal insustentável .
Neste cenário, Lula aposta em resgatar imagem de líder popular para enfrentar a narrativa de crise e fortalecer estratégia para 2026. A guinada pode criar ponto de tensão com o Legislativo, mas reforça orientação em torno de bandeiras sociais que marcaram o governo .