Os 12.400 malucos fiéis a seu Jair
por Fernando Castilho
Como até o vão do MASP já previa, o circo armado por Silas Malafaia – indiretamente, claro, com o nosso dinheiro, já que os carros de som foram pagos pela sua santa igreja isenta de impostos – foi um retumbante fracasso. Mas, para a surpresa de absolutamente ninguém, aqueles míseros 12.400 abnegados (o resto que sobrou no fundo do coador depois de passar um café ralo) ainda insistem em acreditar em Jair Bolsonaro. Sim, mesmo depois de todas as barbaridades que ele fez e, também, das que não fez (vide a negação na compra das vacinas contra a Covid), e apesar de vê-lo rastejar pateticamente diante de Alexandre de Moraes no STF.
Os discursos, como sempre, apenas confirmaram o carinho com que Seu Jair se refere aos seus fiéis seguidores: um bando de malucos. Basta dar uma espiada nos vídeos do senador Magno Malta discursando visivelmente embriagado ou do deputado Gustavo Gayer pagando mico em inglês. Malafaia, sempre à altura da sua plateia amalucada, não decepcionou: esbravejou contra Alexandre de Moraes, chamando-o de “ditador da toga” por censurar a “liberdade de expressão” que ele próprio usou e abusou até cansar.
O único pingo de sanidade em meio àquele festival de tresloucados foi Tarcísio de Freitas. O governador carioca de São Paulo surgiu em cena com a segunda camisa da seleção e com o número 2 às costas, numa demonstração de que entende de semiótica como poucos para manipular mentes fracas e amalucadas. Deixou claríssimo que não pretende trair seu mito… ao menos não antes das eleições, quando a transferência de votos se tornará uma questão de vida ou morte política.
Jair, por sua vez, parece finalmente começar a se conformar com o fato de que não será candidato em 2026. E, vejam só, já está trabalhando em uma nova imagem: do “imbrochável” para o “visivelmente abatido e enfraquecido”. Uma estratégia para garantir uma prisão domiciliar em sua aconchegante mansão em Angra dos Reis.
Mas o tom do discurso de Tarcísio, já em plena campanha eleitoral, lança sérias dúvidas sobre a pretensão de Flávio Rachadinha. Aquele sonho de que o governador eleito assine um decreto de graça para o papai Jair, que seria imediatamente contestado pelo STF, exigiria que Tarcísio usasse a força contra o tribunal. Ou seja, mandar prender ministros e dar um golpe.
Mas por que Tarcísio se daria a um trabalho tão cansativo e espinhoso? Para soltar um criminoso que, uma vez livre, só lhe traria dor de cabeça e interferiria em seu governo? Não seria infinitamente mais tranquilo e sensato deixar o homem onde ele está?
Não tenho a menor dúvida sobre o caráter de Tarcísio de Freitas, conhecendo seu histórico. Ele, inteligentemente, vai se aproveitar do espólio de Bolsonaro e, uma vez eleito, mandará o mito às favas.
É a velha história da criatura contra o criador.
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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