O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve divulgar uma resposta formal à revista britânica The Economist, que publicou uma reportagem com críticas à política externa do Brasil e à condução interna do governo. A decisão foi tomada após reuniões realizadas no Palácio do Planalto nesta terça-feira (1), conforme publicado pela Folha de S.Paulo.

A matéria da The Economist classificou Lula como “incoerente no exterior” e “impopular em casa”. O texto apontou o que chamou de contradições na diplomacia brasileira e dificuldades do Executivo em manter articulação com o Congresso Nacional. A reportagem repercutiu no meio político e passou a ser utilizada por parlamentares da oposição como argumento contra o governo.

Segundo fontes do governo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deverá ser o responsável por redigir e encaminhar a resposta institucional em nome do Brasil. O encontro entre Lula e Vieira foi registrado como o primeiro compromisso oficial do presidente nesta terça-feira, conforme consta na agenda do Palácio do Planalto.

No campo internacional, a publicação da revista destacou o posicionamento recente do Itamaraty em relação aos ataques conduzidos pelos Estados Unidos contra alvos nucleares no Irã.

O governo brasileiro condenou a ação, o que foi interpretado pela The Economist como uma posição isolada entre democracias ocidentais. A crítica aponta um suposto distanciamento do Brasil em relação a países da esfera ocidental, sugerindo que a diplomacia de Lula estaria desalinhada com aliados tradicionais.

Além disso, a revista acusou o governo de adotar uma postura “hostil ao Ocidente” ao intensificar a aproximação com os países do Brics — bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A matéria ressalta o papel crescente de Rússia e China no grupo e argumenta que o Brasil estaria se afastando de valores compartilhados por democracias liberais ao reforçar essa aliança.

Outro aspecto mencionado pela reportagem foi a ausência de diálogo direto com a administração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A The Economist relembrou ainda a visita de Lula a Moscou, prevista para maio, durante as comemorações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista. O evento, promovido pelo presidente russo Vladimir Putin, ocorre em meio à escalada de tensões entre potências ocidentais e o Kremlin.

No plano doméstico, a reportagem também abordou a perda de apoio parlamentar enfrentada pelo governo. Como exemplo, foi citada a derrota do Executivo na Câmara dos Deputados na votação que derrubou um decreto presidencial sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Segundo o texto, esse episódio foi interpretado como reflexo da dificuldade do Planalto em consolidar uma base de sustentação sólida no Legislativo.

A resposta em elaboração pelo governo deve abordar os principais pontos levantados pela The Economist. O objetivo é defender a coerência da política externa adotada por Lula com base nos princípios históricos da diplomacia brasileira, incluindo a defesa da soberania, da autodeterminação dos povos e da não intervenção. Também será reafirmado o compromisso do país com o multilateralismo e com os valores democráticos.

Aliados do governo avaliam que a resposta é necessária para rebater o que consideram interpretações parciais e para reafirmar a posição do Brasil em fóruns internacionais. A avaliação interna é de que o país mantém diálogo com diferentes atores globais, independentemente de alinhamentos geopolíticos, e que isso não representa hostilidade a qualquer bloco ou nação.

No cenário político interno, integrantes da base governista defendem que o desgaste com o Congresso faz parte das dinâmicas da coalizão presidencialista e que a derrota sobre o IOF não compromete a capacidade do governo de aprovar projetos estruturais. A estratégia da resposta oficial deverá incluir a defesa da legitimidade das medidas econômicas propostas e o reforço dos esforços de articulação do governo junto ao Parlamento.

A publicação da The Economist gerou reações imediatas por parte de parlamentares da oposição. Entre os que se manifestaram nas redes sociais estão os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Sergio Moro (União Brasil-PR), que usaram trechos da matéria para intensificar críticas à condução do governo federal.

O conteúdo da resposta oficial ainda não foi divulgado, mas a expectativa é de que ela seja publicada em veículos internacionais e em canais oficiais do Itamaraty nos próximos dias. O governo também avalia utilizar entrevistas e notas públicas para ampliar a repercussão da manifestação.

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Last Update: 01/07/2025