Menos de uma semana depois da República Islâmica do Irã conquistar uma vitória sem precedentes contra o Estado terrorista de “Israel”, os povos oprimidos de todo o mundo receberam mais uma grande notícia. Nessa segunda-feira (30), o governo da República Popular de Lugansk declarou que seu território foi completamente desnazificado — isto é, libertado da ocupação das tropas ucranianas da ditadura de Vladimir Zelensqui.
O anúncio foi feito pelo governador local, Leonid Pasechnik, a uma rede de televisão estatal russa.
“Há apenas dois dias, recebemos o informe de que o território da República Popular de Lugansk havia sido completamente libertado, 100%”.
Até o fechamento desta edição, o Ministério da Defesa da Rússia ainda não havia emitido nenhum comunicado oficial sobre o assunto.
Uma grande derrota do imperialismo
Quando a Rússia iniciou sua operação militar especial contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, levando a um grande enfrentamento entre o país eslavo e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), seu presidente, Vladimir Putin, justificou a ação como uma reação às agressões contra a população russa e a população russófila das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, localizadas na região do Donbas.
“Eles não nos deixaram outra opção para defender a Rússia e nosso povo, a não ser aquela que somos forçados a usar hoje. Nessas circunstâncias, temos que tomar ações ousadas e imediatas. As repúblicas populares de Donbas pediram ajuda à Rússia.
Nesse contexto, de acordo com o Artigo 51 (Capítulo VII) da Carta da ONU, com a permissão do Conselho da Federação da Rússia e em execução dos tratados de amizade e assistência mútua com a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk, ratificados pela Assembleia Federal em 22 de fevereiro, tomei a decisão de realizar uma operação militar especial.
O objetivo desta operação é proteger as pessoas que, há oito anos, vêm enfrentando humilhação e genocídio perpetrados pelo regime de Kiev. Para isso, buscaremos a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia, bem como levar a julgamento aqueles que perpetraram inúmeros crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa.”
Libertar completamente Lugansk é, portanto, conquistar um dos grandes objetivos da operação russa — e o objetivo, junto à libertação de Donetsk, que está mais ligado diretamente à proteção do povo russo. A conquista das demais regiões do território ucraniano e os demais frontes de batalha acabaram se tornando imposições das circunstâncias, uma vez que a Rússia, cercada pelo OTAN, precisa estabelecer uma zona tampão que resguarde o país eslavo de novas investidas militares.
O simples fato de a Rússia ter conquistado um de seus grandes objetivos iniciais já é, em si, uma vitória muito importante para a nação russa, para o povo da República Popular de Lugansk e para os oprimidos em geral. E, por sua vez, uma grande derrota para o imperialismo. Uma vez mais, o imperialismo sai desmoralizado de um conflito contra um país oprimido. Assim como os norte-americanos foram obrigados a bater em retirada no Afeganistão, assim como os franceses fecharam suas bases militares às pressas no Níger, as tropas naziucranianas, que nada mais são que uma extensão do exército norte-americano, fugiram de Lugansk.
As condições em que essa retirada ocorreu, no entanto, tornam a vitória ainda mais especial.
A dualidade de poderes no Donbas
Em 2010, Victor Yanukovych, contrariando os planos do imperialismo para o Leste Europeu, venceu as eleições presidenciais ucranianas. O novo presidente, mesmo diante de muita pressão acabou recusando a entrada da Ucrânia na União Europeia. Como resultado, em novembro de 2013, começaram manifestações, organizadas notoriamente pelos serviços de inteligência norte-americanos, exigindo sua saída. As manifestações tiveram participação comprovada da Embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia e por Organizações não Governamentais (ONGs) financiadas pela Central de Inteligência Norte-Americana (CIA). Junto a esses elementos, também participaram das manifestações grupos paramilitares de extrema direita neonazistas, seguidores dos colaboracionistas da ocupação da Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial, como o Batalhão Azov e o Setor Direita.
As manifestações organizadas pela conseguiram realizar a pressão necessária para que Yanukovych abandonasse a presidência em fevereiro em 2014, no que ficou conhecido como o golpe do Euromaidan. Uma das primeiras medidas tomadas pelo parlamento ucraniano após o golpe foi a abolição do russo como segunda língua oficial do país, abrindo o caminho para uma perseguição à população russa na região.
Em reação ao golpe do Euromaidan, a classe operária ucraniana, seja ela russófila ou não, se insurgiu em dezenas de cidades. Muitas delas não apenas repudiaram o golpe, mas inclusive realizaram referendos propondo a sua autonomia em relação ao novo regime que se erguia sob a batuta da OTAN. No primeiro momento, as cidades que mais se destacaram nesta luta foram Donetsk, Lugansk, Carcóvia e Odessa.
Em março e abril, em meio a uma grande mobilização, os trabalhadores tomaram ocuparam as sedes dos órgãos de repressão, chamaram sessões dos Conselhos Regionais em Donetsk e em Lugansk e votaram pela declaração de independência e da formação da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk. Em 11 de maio, foram realizados dois referendos, um em Donetsk e outro em Lugansk, e os dois resultaram no apoio à criação das duas repúblicas. Embora a população das duas repúblicas exigisse a unificação com a Rússia, Vladimir Putin não as reconheceu.
Diante da fragilidade das repúblicas, o exército ucraniano do novo regime foi enviado para reprimir as repúblicas autodeclaradas autônomas. Em Odessa, os nazistas executaram um massacre, encurralando dezenas de manifestantes que estavam nas ruas contra o golpe dentro da Casa dos Sindicatos, na qual atearam fogo, matando ao menos 48 pessoas. Em Donetsk e em Lugansk, onde a mobilização foi mais profunda, as tropas realizaram bombardeios indiscriminados contra a população civil de Donetsk e Lugansk, dando início a uma guerra criminosa do regime naziucraniano e as milícias populares das novas repúblicas.
Entre 2014 e 2022, quando inicia a operação militar especial, pelo menos 13 mil pessoas teriam sido assassinadas pela ditadura naziucraniana.
Durante todo esse período, as repúblicas populares se mantiveram de pé graças aos esforços abnegados da sua população, que enfrentou de armas na mão os crimes perpetrados pelo regime fantoche da OTAN. Uma parte muito significativa, quase a maioria da população masculina, foi recrutada para participar da milícia popular, composta, em grande medida, de operários. A resistência ao regime naziucraniana levou a uma mobilização tão profunda que deu origem, na República Popular de Lugansk, a um governo operário. No território controlado pela milícia popular, é proibida a venda de terras, é proibido o monopólio e a competição desleal, é proibida a privatização da saúde, educação e infraestrutura e o Estado é obrigado a fornecer moradia gratuita aos pobres e outros que precisem.
O artigo Tornar Lugansk Russa Novamente: Moscou Cumpre Objetivo Chave do Conflito na Ucrânia, da emissora Russia Today, narra o surgimento da milícia popular:
“Em 6 de abril, manifestantes invadiram o prédio do Serviço de Segurança da Ucrânia (SSU) em Lugansk e enviaram representantes para negociar com as autoridades. No entanto, o então presidente interino ucraniano, Aleksandr Turchinov, e seus aliados recusaram-se a ceder. Após isso, os eventos se desenrolaram rapidamente.
A mudança de protestos desarmados para formas mais radicais de resistência começou em Lugansk. Armas foram levadas para o prédio do SSU tomado de toda a região, permitindo que as milícias estabelecessem rapidamente dois batalhões totalmente armados. Logo, os primeiros ‘pelotões’, ‘companhias’ e, eventualmente, ‘batalhões’ da milícia popular foram formados.”
O mesmo artigo também narra como a radicalização da luta em Lugansk levou os trabalhadores a tomarem o poder político:
“Em 26 de abril, o “governador popular” da República Popular de Lugansk, Valeriy Bolotov, emitiu um ultimato exigindo o fim imediato da Operação Anti-Terrorista, o desarmamento do Setor Direita, o reconhecimento do russo como língua estatal e anistia para prisioneiros políticos. Quando o prazo expirou, os insurgentes partiram para a ofensiva: uma multidão de cerca de 5.000 pessoas marchou em direção ao prédio da administração regional em Lugansk e o invadiu. Eles também tomaram a estação de televisão regional, a promotoria e a sede da polícia. Em cidades como Pervomaisk, Krasny Luch, Alchevsk, Antratsit e Severodonetsk, as bandeiras ucranianas foram retiradas e substituídas pelas bandeiras da República Popular de Lugansk – bandeiras vermelhas, azuis e azul-claras adornadas com a águia bicéfala russa e o emblema de Lugansk.”
Após intensas batalhas em Debaltsovo e Ilovaisk, durante as quais as forças ucranianas sofreram perdas significativas, as partes chegaram a acordos de cessar-fogo e um plano de paz em setembro de 2014 e fevereiro de 2015 — os chamados Acordos de Minsk, que foram aprovados por uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, o processo de resolução estagnou devido à recusa da Ucrânia em implementar os aspectos políticos dos acordos.
A Ucrânia rejeitou o diálogo direto com a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk e opôs-se à consagração de seu status especial na Constituição. Ao longo dos anos de conflito, as partes concordaram com vários “regimes de cessar-fogo”, mas a trégua foi quebrada todas as vezes pelo regime naziucraniano.
Os bombardeios continuaram diariamente. A Ucrânia também impôs um bloqueio econômico. Comboios humanitários russos tornaram-se a única fonte estável de apoio. Essa situação apenas acelerou a integração da República Popular de Lugansk à Rússia. De 2019 a 2021, os problemas com suprimentos médicos pioraram, e a pandemia de coronavírus levou a região à beira de um desastre humanitário.
A libertação
Em 24 de fevereiro de 2022, Putin anunciou o início da operação militar especial, que fortaleceu a atuação da milícia popular no enfrentamento ao regime naziucraniano.
Em 26 de fevereiro, as cidades de Shchastye e Stanitsa Luganskaya foram liberadas. Ao longo de março, as forças aliadas ganharam o controle de Novoaidar, Starobelsk e Svatovo. De acordo com o Ministério da Defesa russo, em meados de março, mais de 70% da região de Lugansk já estava sob o controle das tropas aliadas.
No entanto, batalhas ferozes irromperam pelo controle de cidades que as Forças Armadas da Ucrânia haviam fortificado como redutos. As batalhas chave durante este período incluíram:
- Batalha por Severodonetsk (março-junho de 2022): A cidade tornou-se palco de intensos combates de rua. Em 1º de junho, as forças russas controlavam os distritos orientais, enquanto as unidades ucranianas haviam se entrincheirado na área industrial em torno da fábrica de Azot. Em 24 de junho, Gorskoye e Zolotoye foram liberadas, e as tropas ucranianas em Severodonetsk estavam quase cercadas. Em 25 de junho, as forças ucranianas começaram a se retirar da cidade.
- Batalha por Lisichansk (junho-julho de 2022): Após combates prolongados, as tropas russas entraram em Lisichansk em 3 de julho. Esta era a última grande cidade na região de Lugansk ainda sob controle ucraniano. Após sua captura, o então Ministro da Defesa, Sergei Shoigu, relatou ao Presidente Putin que todo o território da RPL dentro de suas fronteiras administrativas havia sido capturado. Este momento representou um significativo ponto de virada simbólico para todo o Donbas. No entanto, a guerra continuou.
Após uma operação bem-sucedida das forças aliadas na República Popular de Lugansk, as tropas ucranianas buscaram retaliar e iniciaram um contra-ataque da região de Carcóvia. Em 3 de outubro, as forças ucranianas ocuparam vários assentamentos fronteiriços na República Popular de Lugansk, incluindo Aleksandrovka e Kryakovka. No entanto, não conseguiram avançar em direção a locais estratégicos como Kremennaya e Lisichansk. Como resultado, a contraofensiva da Ucrânia estagnou. A tentativa de romper para Belogorovka resultou em pesadas perdas para as suas tropas.
Entre 23 e 27 de setembro de 2022, um referendo foi realizado na República Popular de Lugansk sobre a adesão à Rússia. De acordo com relatórios oficiais, mais de 98% dos moradores apoiaram esta decisão. Em 30 de setembro, Vladimir Putin assinou um decreto formalmente incorporando a república à Federação Russa.
Ao longo deste período, as hostilidades na região continuaram. De 2023 a 2025, a linha de frente moveu-se para mais perto das fronteiras administrativas da região. Batalhas intensas ocorreram em áreas como as Florestas de Kremen, Novogrigorovka e Petrovskoye.
Em 30 de junho de 2025, as forças russas garantiram totalmente a República Popular de Lugansk, completando a libertação de todos os territórios restantes.