Existem ciclos de nostalgia que revigoram produtos e marcas. Às vezes, sem muita lógica ou sem nenhum pensamento estratégico, grupos de consumidores reavivam o passado distante ou recente. E eles despontam como uma novidade que já nasce ultrapassada. Fenômenos como esses acontecem com frequência.
Símbolo do período pré-histórico das redes sociais, o Orkut está para ser relançado. A informação tem circulado sob um misto de esperança e dúvidas. Quando foi criado, em 2004, o Orkut promoveu a primeira grande revolução das redes sociais. A ideia era criar comunidades em que grupos de pessoas interagissem. A proposta funcionou e, só no Brasil, 30 milhões de usuários tiveram contas na plataforma. A queda veio depois de problemas de segurança e do surgimento do Facebook, muito mais centrado em ações individuais e não necessariamente em grupos e comunidades.
A expectativa de Orkut Büyükkökten, criador da plataforma que leva seu nome, é de voltar com mais segurança para os usuários e promover interações genuínas. A pretensão é fugir da armadilha dos grupos que tendem a falar entre si e abrir espaço para que os divergentes se encontrem. Outra medida adotada será o uso de IA em um sistema de moderação, que seria responsável por excluir conteúdo ofensivo e que disseminem desinformação.
A tendência na qual o Orkut espera surfar tem relação com a “nostalgia tecnológica”, que também apresenta outros movimentos recentes. Nos EUA, uma febre vem tomando conta do TikTok: vídeos pedindo a volta do BlackBerry, icônico modelo de celular lançado no início dos anos 2000. O aparelho foi uma revolução no mundo empresarial e político, integrando ligações, recebimento de e-mails, um sistema de mensagens instantâneas e o teclado físico QWERTY. Pouco depois, chegou a ter 50% do mercado americano, sendo superado pelo lançamento do iPhone em 2007, que mudou as regras do jogo.
Apesar de ser um produto que parte significativa da Geração Z nunca segurou nas mãos, o movimento pedindo seu retorno está se expandindo. Alguns tentam justificar essa saudade do passado tecnológico como mais um sinal de desgaste das telas entre os jovens. Eles estariam cansados da vida conectada e buscando as tais conexões reais. Outro sintoma dessa tendência é a queda no uso de aplicativos de relacionamento.
De olho nessa mudança, uma empresa chinesa, a Unihertz, está lançando o smartphone Titan 2 com teclado físico, a marca registrada do BlackBerry. A ideia é trazer um visual mais próximo desses aparelhos antigos, mas com alta tecnologia. O aparelho vem com sistema operacional Android 15, conexão 5G e chip Dimensity 7300.
Esse movimento é o mesmo que levou a HMD Global a planejar a volta do Nokia 3210, aparelho que fez sucesso há 20 anos e chegou a 160 milhões de unidades vendidas. As características prioritárias foram mantidas: a parte superior levemente mais larga, o teclado T9 e, claro, o jogo da cobrinha. O preço é convidativo: cerca de 80 euros, menos de 500 reais.
Movimentos da chamada “nostalgia tecnológica”, geralmente, são de nicho e passageiros. Já assistimos ao retorno dos LPs e, agora, vemos um movimento de jovens ouvindo as antigas fitas K7. Isso levou nomes como Taylor Swift, Kendrick Lamar, Billie Eilish e Dua Lipa a lançarem músicas nesse formato.
A contraposição entre o antigo e o novo é falsa. O que vale é ter algo que diferencie o consumidor da grande massa e, ao mesmo tempo, o coloque em um grupo. As novas tecnologias seduzem pela novidade e passam a sensação de fazer parte de uma vanguarda. Buscar equipamentos e serviços do passado cria uma aura mais cult, mas invariavelmente de nicho, o que também reforça um sentimento de pertencimento. A novidade sempre vai prevalecer por um motivo muito simples: pesquisa-se mais sobre o que pode ser feito de novo do que sobre como reaproveitar o que já foi feito. Lança-se mais novidades do que se recuperam produtos do passado. Isso, essencialmente, porque o passado está disponível para todos. Já o futuro merece atenção e a chance de ocupar um espaço apenas seu.