A Polícia Federal (PF) ouve nesta terça-feira (1º) três nomes ligados diretamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no inquérito que apura tentativa de obstrução da Justiça e uso indevido de informações sigilosas da delação do tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista que visava manter Bolsonaro no poder após as eleições de 2022. Os depoimentos ocorrem na Superintendência da PF em São Paulo, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os convocados estão o advogado Paulo Costa Bueno, integrante da equipe de defesa de Bolsonaro; o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten; e o advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro — que foi preso por ordem de Moraes na semana passada.

Mensagens sob suspeita

As oitivas acontecem após a divulgação de mensagens atribuídas a Mauro Cid em um perfil no Instagram que supostamente discutia detalhes de sua delação premiada. Em depoimento anterior à PF, Cid negou ter mantido qualquer conversa sobre o acordo por meio de redes sociais e declarou desconhecer o perfil “GabrielaR702”. A conta, que remete ao nome de sua esposa, foi apontada em mensagens entregues por Kuntz ao STF.

A própria defesa de Cid pediu a investigação da conta, alegando que as mensagens não foram escritas por ele. Atendendo ao pedido, Moraes determinou que a Meta fornecesse os dados do perfil, o que revelou uma conversa entre Kuntz, o perfil suspeito e o advogado Paulo Amador Cunha Bueno, também da equipe de Bolsonaro.

Relação direta com a família

A defesa de Mauro Cid sustenta que Kuntz e Wajngarten buscaram contato com o militar por meio de sua filha menor de idade, além de abordarem sua esposa e sua mãe em tentativas de convencê-lo a abandonar a colaboração com a PF. “Cercaram-na no sentido de demover a defesa então constituída por Mauro Cid”, afirmaram os advogados.

Em depoimento anterior, Cid relatou à PF que os advogados mantiveram contato com seus familiares de forma recorrente, inclusive pessoalmente em eventos esportivos. A estratégia, segundo ele, visava acessar informações confidenciais sobre sua delação.

Reação

Em reação à convocação, Fábio Wajngarten se manifestou pela rede social X afirmando que recebeu “com tranquilidade” a decisão. Ele acusou o STF de expor publicamente a medida sem apresentar os fundamentos legais, que correm em sigilo.

A criminalização da advocacia é a cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração”, escreveu.

Indícios de crime

Para Alexandre de Moraes, os indícios reunidos apontam para uma atuação coordenada e deliberada com o objetivo de comprometer a investigação. “São gravíssimas as condutas noticiadas nos autos, indicando, neste momento, a possível tentativa de obstrução da investigação, por Marcelo Costa Câmara e por seu advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz, que transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado”, registrou o ministro em sua decisão.

Leia também:

Acompanhe as últimas notícias:

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 30/06/2025