Um Congresso complexo II, por Beto Faro

Domingo passado publicamos artigo, neste espaço, intitulado “Um Congresso Complexo”, no qual, com muita responsabilidade, mas de forma assertiva, procuramos expor as nossas impressões sobre o perfil pouco colaborativo, com o país, da atual composição majoritária do Congresso Nacional. Na verdade, um parlamento em cuja composição remanesce participação acentuada da extrema direita que invadiu a política com o ‘tsunami’ bolsonarista do período 2018/2022. Graças a Deus o ‘tsunami’ tende, hoje, quando muito, para uma ‘pororoca’. Demos destaque, no artigo, aos onze vetos do presidente Lula derrubados pelo Congresso. Somente um deles, que incidiu em trechos da lei que cria o marco legal das eólicas offshore resultará em prejuízos para a população brasileira estimado em R$ 600 bilhões até 2050, segundo as novas estimativas oficiais.

Comprovando a pertinência das reflexões do artigo, nesta semana, para surpresa de ninguém, o Congresso derrubou o Decreto do governo (Decreto 12.499/25) sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cujo texto, sublinhe-se, fruto de negociações do Ministro Haddad com as presidências da Câmara e Senado, suavizou os termos de outros dois Decretos anteriores (decretos 12.466/25 e 12.467/25). Tudo isso foi ignorado para se impor mais uma derrota política ao governo; na realidade, uma derrota ao país. Parece que o desejo de derrotar o governo por alguns setores tidos como aliados vem sendo alimentado pelas pesquisas de opinião que apontam a queda da popularidade do presidente. Claro, a torcida pela inviabilização da candidatura Lula, totalmente irrealista, anima esses setores por protagonismo nos arranjos para 2026. Em parte, isso é bom para que saibamos quem é quem desde logo, pois ajudará as forças democráticas progressistas a traçarem as suas estratégias para as próximas eleições.

Ao derrubar o Decreto, o Congresso poupou setores mais aquinhoados da sociedade de participarem dos esforços para o equilíbrio das contas públicas. Há uma conduta obsessiva para que as metas fiscais sejam cumpridas com corte nos gastos do governo que punam o “andar de baixo”, conforme exploramos no artigo anterior. Tão grave quanto o mérito, os procedimentos políticos que cercaram o ato foram inusitados. De forma atípica, o presidente da Câmara que vem sendo tratado a “pão de ló” pelo governo, divulgou pela internet, quase à meia noite, que no dia seguinte a revogação do Decreto constaria da pauta daquela Casa. Sugerindo tratar-se de atitude combinada com a oposição, 2 minutos depois, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro, divulgou e comemorou a decisão de Hugo Motta nas redes sociais.

O ato do Congresso, além de tudo é inconstitucional, à medida que o decreto derrubado versa sobre alíquotas de tributo, matéria que constitui prerrogativa exclusiva do Poder Executivo. Fato é que a extinção do Decreto fará com que o governo deixe de arrecadar em Imposto sobre Operações Financeiras, cerca de 12 bilhões de Reais somente neste restante de 2025. Lembrem que o governo já bloqueou ou contingenciou R$ 31,3 bilhões em despesas neste exercício ano. Mas, Congresso, mercado e parte da mídia querem mais! O Decreto visava, por exemplo, aumentos residuais nas alíquotas do IOF sobre cartões de crédito, débito e pré-pagos internacionais; em compra de moeda estrangeira; contratação de empréstimos externos de curto prazo (menos de 1 ano).

Causa perplexidade que essas atitudes do Congresso sejam revestidas de discursos inflamados por parte de lideranças da oposição exigindo responsabilidade fiscal via corte de gastos pelo governo. Mas o Congresso tem sido uma fábrica de gastos em escala!!! Enfim, sinto orgulho de integrar a base de um governo que prioriza os pobres buscando a maior contribuição dos ricos, mas sem a pretensão de punir quem quer que seja.

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