Brasileiros no front – da esquerda para a direita: Bruno Samurai, Rafael Ben, Rafael dos Santos Leite, Carlos Cândido junto a um militar ucraniano. Foto: Divulgação

Do interior do Brasil às trincheiras da Ucrânia, a guerra contra a Rússia tem atraído cada vez mais voluntários estrangeiros, entre eles, brasileiros que, por diferentes razões, decidiram se alistar ao Exército ucraniano. A experiência no front, no entanto, é marcada por riscos extremos, combates intensos e a ausência de qualquer respaldo do governo brasileiro.

Um desses voluntários é Vinicios Santos do Carmo, de 26 anos, ex-militar capixaba que chegou à Ucrânia em novembro de 2022, quando tropas ucranianas iniciavam a retomada da região de Kherson.

Durante uma noite de inverno, enquanto dividia uma refeição com um soldado ucraniano em uma casa abandonada, o local foi atingido por um bombardeio russo. O teto desabou. Do lado de fora, artilharia e drones kamikazes avançavam rapidamente. “Achei que íamos morrer”, lembra.

O episódio, embora extremo, não é isolado.

A presença de brasileiros no conflito cresceu após uma campanha nas redes sociais iniciada em março pelo Centro de Recrutamento Estrangeiro da Ucrânia, com vídeos em português e espanhol.

Segundo o órgão, houve um aumento de 20% nas inscrições de brasileiros, embora o número exato de combatentes do país não seja revelado por questões de segurança.

Atualmente, estrangeiros interessados em lutar devem preencher um cadastro online, passar por entrevistas, avaliações psicológicas e físicas, e comprovar não ter antecedentes criminais ou doenças crônicas. Os aprovados assinam contrato com o Ministério da Defesa da Ucrânia, com duração de até três anos e possibilidade de encerramento após seis meses.

O salário varia conforme o tempo no front: combatentes que atuam por pelo menos 30 dias em zonas de conflito podem receber entre US$ 3 mil e US$ 5 mil por mês (cerca de R$ 16,7 mil a R$ 27,8 mil). Já quem está em fase de treinamento recebe valores mais baixos, como US$ 490 (R$ 2,7 mil).

Frente no conflito na Ucrânia. Foto: Divulgação

Outro brasileiro na linha de combate é Rafael dos Santos Leite, de 28 anos, nordestino e ex-marceneiro. Sem experiência militar, decidiu viajar para a Ucrânia em 2023 em busca de um novo propósito. Partiu do Brasil até a Polônia e, de lá, percorreu 800 quilômetros de ônibus até Kiev.

Durante dois meses, passou por treinamentos para operar armas, drones e sobreviver em campo. Logo de início, Leite enfrentou o inverno ucraniano com temperaturas de até -20°C. Adoeceu, mas foi ajudado por moradores locais.

“Desde o começo, fui tratado com gratidão. É por isso que continuo aqui”, afirmou. Em uma das missões, precisou esconder um soldado americano ferido sob uma rede de camuflagem para protegê-lo de um ataque de drone, que acabou atingindo o local, mas sem causar morte.

De acordo com Oleksiy Bejevets, comissário de recrutamento do Ministério da Defesa da Ucrânia, cidadãos de mais de 100 países já integram formalmente as forças armadas do país. O Brasil aparece como o segundo com maior número de combatentes, atrás apenas da Colômbia.

“Mesmo com tecnologias avançadas, como drones e mísseis, o soldado na linha de frente ainda é nossa prioridade. Os estrangeiros são motivados e têm papel importante na nossa resistência”, explicou Bejevets.

O convite para alistamento é direcionado a homens e mulheres entre 18 e 60 anos, desde que estejam em boas condições físicas e com histórico limpo. A linha de frente da guerra tem cerca de 1.200 quilômetros de extensão, mas, segundo Bejevets, no centro da Ucrânia, a vida segue em relativa normalidade.

Apesar do envolvimento de brasileiros na guerra, o Itamaraty reforça que não apoia a participação de cidadãos nacionais em conflitos armados no exterior. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, recomenda que todos evitem viagens ou permanência na Ucrânia.

Mesmo assim, tanto Carmo quanto Leite planejam continuar no país até o fim da guerra. “Queremos estar aqui no dia em que os mísseis e os drones pararem de matar”, afirmou um deles. Com informações do Globo.

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Last Update: 29/06/2025