Raquel, cujo nome artístico já foi Raquel Virgínia, lança seu primeiro álbum solo após o fim, em 2021, da banda As Baías, que chegou a apresentar três bons discos em dez anos de existência — dois deles indicados ao Grammy Latino.
A CartaCapital, ela afirmou que o novo projeto carrega suas angústias e seus dilemas pessoais. Com rara sinceridade sobre si mesma, disse que no novo disco, chamado de Não Incendiei a Casa por Milagre, oferece suas inquietações. “A gente sempre fala do quanto o outro é tóxico, é invejoso, é mentiroso, e raramente a gente se expõe.”
O título do disco, segundo ela, tem a ver com o fato de querer “botar fogo” em si própria — no sentido metafórico — por ser invejosa e egoísta, às vezes.
O nome do álbum vem de um trecho do livro de contos O Último Sonho, do cineasta Pedro Almodóvar. “Essa frase representa o abismo psicológico que a gente vive, até por conta das interações difíceis com as redes sociais.”
A sonoridade do trabalho conversa muito bem com a letras aflitas. Por isso, diz Raquel, trata-se de um álbum de rock.
“Entendi que somente guitarras extremamente agressivas, uma bateria mais contundente e um baixo mais expressivo seriam capazes de mostrar todos esses dilemas que proponho.”
O disco tem produção de Moreno Veloso, que, ao lado do pai, Caetano Veloso, produziu Recanto (2011), um dos melhores trabalhos de Gal Costa neste século — Raquel entendeu, ao escrever as primeiras músicas do novo álbum, que ele se aproximaria da sonoridade de Recanto, e daí veio o convite a Moreno.
Da banda que gravou o trabalho, formada por Bruno Di Lullo (baixo), Domenico Lancellotti (bateria), Pedro Sá (guitarra) e Eduardo Manso (bases eletrônicas), os dois primeiros também gravaram Recanto.
O álbum tem o mérito de levar a instrumentação para a temática das músicas, com cinco faixas autorais e duas regravações: Vidinha (Rita Lee) e Autotune Autoerótico (Caetano Veloso).
“Forma e conteúdo fazem uma obra de arte”, resume Raquel. “Uma obra de arte é feita de forma, conteúdo e seus contrastes. Em momentos em que eu grito, aparece minha voz extremamente suave.”
Além de cantora, Raquel é empreendedora da Nhaí, uma agência inovadora de diversidade já mencionada em CartaCapital. O cenário, especialmente sob o governo de Donald Trump nos Estados Unidos, é de retrocesso, mas ela afirma que continua a ampliar seu trabalho com empresas brasileiras.
Assista à entrevista de Raquel a CartaCapital: