Criados como resposta temporária a uma das maiores catástrofes do século XX, os campos de refugiados palestinos se transformaram, ao longo de mais de sete décadas, em símbolos permanentes da luta do povo palestino contra a opressão sionista e o imperialismo. De estruturas improvisadas em zonas de fronteira, os campos se tornaram centros de organização política, resistência armada e afirmação nacional. Sua história é a própria história da Nakba — a catástrofe da expulsão forçada de mais de 700 mil palestinos em 1948 — que permanece em curso.
De tendas a abrigos: a gênese dos campos
Durante os 19 meses da guerra de 1948, a ofensiva colonial sionista, apoiada diretamente pelo imperialismo britânico e, em seguida, pelos Estados Unidos, provocou a expulsão de cerca de dois terços da população árabe palestina. Impedidos de retornar após o fechamento arbitrário das fronteiras por parte de “Israel”, os refugiados buscaram abrigo principalmente em Gaza e na Cisjordânia, além de países vizinhos como Jordânia, Síria e Líbano.
Naquele primeiro momento, famílias inteiras se instalaram em tendas distribuídas por organizações humanitárias ou buscaram refúgio em escolas, mesquitas e outros edifícios abandonados. A Resolução 194 da ONU, aprovada ainda em 1948, reconheceu o direito de retorno dos refugiados, mas foi sistematicamente ignorada e violada por “Israel” — com a cumplicidade das grandes potências imperialistas.
A criação da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), em 1949, representou uma tentativa da ONU de “administrar” uma crise que ela própria ajudou a criar. Ao invés de assegurar o retorno, a ONU passou a oferecer assistência humanitária provisória, que ao longo do tempo apenas ajudou a consolidar o exílio forçado.
A consolidação dos campos e a política de contenção
Nos anos seguintes, a UNRWA, em conluio com governos anfitriões, tentou racionalizar a presença dos refugiados em áreas organizadas, criando campos oficiais e transferindo pessoas de acampamentos improvisados ou considerados “ameaças à segurança”. No início da década de 1950, havia 71 campos; esse número foi reduzido para 57 em 1955, refletindo uma política deliberada de concentração e controle da população refugiada.
Em 1951, começou-se a substituir tendas por estruturas mais sólidas, como cabanas de barro, pedra ou materiais reciclados. O programa de abrigos da UNRWA visava padronizar os acampamentos, com unidades básicas de concreto onde os próprios refugiados podiam, segundo seus meios, adicionar cômodos, cozinhas e latrinas. Embora apresentadas como iniciativas de “autoajuda”, essas medidas foram pensadas para prolongar o exílio sem resolvê-lo.
O layout dos campos incluía zonas residenciais, escolas, clínicas e vias circulares. Porém, mesmo sob essa engenharia social promovida pelas potências ocidentais e seus aliados locais, os refugiados palestinos impuseram sua marca: muitos reconstruíram, dentro dos campos, os padrões das vilas destruídas na Palestina, fortalecendo laços comunitários e reafirmando sua identidade nacional.
Ocupação, destruição e reconstrução
Com a guerra de 1967 e a nova onda de deslocamentos provocados pela ocupação da Cisjordânia e de Gaza por “Israel”, uma segunda geração de campos foi criada. Na Jordânia, seis novos campos surgiram entre 1967 e 1970. Nesse período, a presença palestina era tratada abertamente como uma ameaça militar, e tanto os sionistas quanto regimes árabes reacionários como o jordaniano e o libanês passaram a considerar os campos como “focos de instabilidade”.
A repressão se intensificou. Em 1970, o exército jordaniano lançou uma campanha brutal contra os campos durante os confrontos com a resistência armada palestina. No Líbano, durante a guerra civil, campos como Tal al-Za’atar e Jisr al-Basha foram completamente destruídos por milícias cristãs aliadas ao imperialismo.
Outros, como Nabatiyya e Ayn al-Hilwa, foram bombardeados por aviões sionistas. O extermínio da população dos campos fazia parte de uma política deliberada: empurrar os palestinos cada vez mais para longe de suas terras originárias.
Em Gaza e na Cisjordânia, as Forças Armadas de “Israel” promoveram a destruição sistemática dos campos a partir dos anos 1970, sob o pretexto de ampliar vias ou “melhorar a segurança”. O caso de Nuweimeh, transformado em campo de treinamento militar sionista, é emblemático da desumanização a que foram submetidos os refugiados.
Em Jenin, durante a Segunda Intifada, mais de 400 casas foram destruídas pelo exército sionista. Em todos os casos, a reconstrução foi conduzida com enorme esforço pelas próprias comunidades palestinas — como em Ayn al-Hilwa, onde mulheres lideraram a reconstrução enquanto os homens estavam presos.
A precariedade institucionalizada
Desde 1970, nenhum novo campo foi construído. Por outro lado, os existentes se expandiram de maneira desordenada, em meio à superlotação e à escassez crônica de recursos.
Refugiados passaram a comprar, vender e alugar abrigos dentro dos campos, numa tentativa de vida “normal” dentro do anormal. Essa precariedade, longe de ser um erro administrativo, é o resultado direto de uma política que nega deliberadamente direitos aos palestinos.
Em alguns países, como o Líbano, os palestinos enfrentam discriminação legal aberta: são proibidos de exercer dezenas de profissões e de adquirir propriedades. Em outros, como a Síria, a guerra civil obrigou milhares de refugiados a se deslocarem novamente. O exílio palestino, portanto, não é estático: ele é múltiplo, prolongado e intencional.
A UNRWA, por sua vez, sofre com o subfinanciamento crônico. A decisão dos Estados Unidos de cortar totalmente o financiamento da agência em 2018 agravou ainda mais a situação.
Programas de melhoria dos campos — lançados nos anos 2000 — fracassaram em transformar a realidade dos campos sem comprometer o direito de retorno. Refugiados, com razão, temiam que reformas fossem interpretadas como aceitação do exílio.
Os campos de refugiados palestinos são a expressão mais concreta do crime sionista cometido em 1948 com o apoio direto do imperialismo. Em vez de representar uma suposta “normalização” do exílio, como querem os inimigos do povo palestino, os campos seguem sendo núcleos de organização popular e, muitas vezes, de resistência armada contra a ocupação. Cada casa improvisada, cada escola construída coletivamente, cada bairro reconstituído com base nas aldeias destruídas pelo sionismo é uma prova da disposição dos palestinos de não aceitar a colonização e de seguir lutando pelo retorno às suas terras.
Os campos de refugiados palestinos são a expressão mais concreta do crime sionista cometido em 1948 com o apoio direto do imperialismo. Em vez de representar uma suposta “normalização” do exílio, como querem os inimigos do povo palestino, os campos seguem sendo núcleos de organização popular e, muitas vezes, de resistência armada contra a ocupação. Cada casa improvisada, cada escola construída coletivamente, cada bairro reconstituído com base nas aldeias destruídas pelo sionismo é uma prova da disposição dos palestinos de não aceitar a colonização e de seguir lutando pelo retorno às suas terras.
Cada casa construída com barro, cada escola improvisada, cada centro de saúde mantido por voluntários expressa a força de um povo que se recusa a desaparecer. Os campos de refugiados palestinos não são “assentamentos informais”, como prefere chamá-los a imprensa capitalista. São o coração pulsante de uma causa que não será derrotada: a libertação total da Palestina histórica, do rio ao mar.