Leo Lins Preta Gil

Por Felipe Borges
Pragmatismo Político

Condenado a mais de oito anos de prisão por propagar conteúdos discriminatórios, o humorista Leo Lins voltou a se apresentar em São Paulo com o espetáculo “Enterrado Vivo”. Em cartaz no Teatro Gazeta, na Avenida Paulista, o comediante dobrou a aposta no discurso que o levou ao banco dos réus: fez piadas com negros, indígenas, deficientes, obesos, soropositivos, vítimas de pedofilia, nazismo e, de forma direta, com o câncer da cantora Preta Gil.

Durante a apresentação da última quinta-feira (19), acompanhada pela reportagem do jornal O Globo, Leo ironizou a própria condenação e retomou episódios anteriores de processos judiciais que enfrentou. Ao relembrar uma ação movida por Preta Gil, em 2019, por danos morais, Lins disse:

“A Preta Gil veio me processar por causa de uma piada de anos atrás. Três meses depois que chegou o processo, ela apareceu com câncer. Bom, parece que Deus tem um favorito. Acho que ele gostou da piada. E pelo menos ela vai emagrecer.”

A plateia, cerca de 720 pessoas que lotaram o teatro, reagiu com risos. No espetáculo, a gravação de vídeos é proibida. Os celulares são lacrados em sacos pretos logo na entrada, medida que, segundo Lins, é tomada a pedido de seus advogados.

Com mais de 70 minutos de duração, o show traz um repertório de ataques a minorias e segmentos vulneráveis. Para além da retórica ofensiva, o comediante aproveita o palco para satirizar a Justiça brasileira. “Se você cometeu um homicídio sendo réu primário, sabe quantos anos você pega? Seis anos. Eu peguei oito. A mensagem da Justiça é: ‘Se você é preconceituoso, não faça piada, mate!’ Vai sair mais cedo da cadeia.”

Apesar da gravidade das falas, Lins se defende alegando que tudo faz parte de uma encenação. “Quem fala no palco, diz, não é ele, mas o personagem”, afirmou, ao Globo. Ele também ironizou as consequências legais de seus atos, dizendo que a “perseguição judicial” tem, na verdade, ampliado sua visibilidade: “Quanto mais tentam me calar, mais ouvido eu sou. Até surdo já me escuta.”

A estratégia de lacrar celulares, contudo, escancara a contradição entre o discurso de liberdade irrestrita que o humorista professa e a tentativa de blindar-se de reações externas. A ausência de registros públicos também dificulta eventuais responsabilizações futuras.

A condenação de Leo Lins, decretada pela Justiça Federal, ainda não foi cumprida porque cabe recurso. O humorista segue solto enquanto recorre da decisão. Ele foi responsabilizado por “propagar conteúdos discriminatórios sob o pretexto de fazer humor”, com base em vídeos e trechos de espetáculos em que ofende deliberadamente populações vulneráveis.

O espetáculo “Enterrado Vivo” segue em turnê pelo país. Em suas redes sociais, Leo Lins exibe a lotação dos teatros como uma resposta aos processos que enfrenta. A estratégia tem funcionado: a polêmica tornou-se, para ele, uma forma de capital político e comercial.

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Last Update: 27/06/2025