— Por Everton Barboza
A crise estrutural do capitalismo mundial tem aprofundado as contradições impostas pelos interesses do imperialismo. Em todas as regiões do globo, há sinais evidentes desse processo. Guerras entre nações — umas ligadas direta ou indiretamente ao imperialismo, outras que se recusam a se submeter ao domínio do império — se espalham cada vez mais. As contradições entre capital e trabalho também se acentuam em escala global. A agudização da luta de classes torna-se cada vez mais impossível de ser escamoteada. Até mesmo na maior economia imperialista do mundo, essa realidade é visível: as medidas xenófobas de Donald Trump têm provocado conflitos entre imigrantes e as autoridades do Estado norte-americano.
Nessa conjuntura de crise, as contradições entre capital e trabalho se intensificam também nos países em desenvolvimento. Esse agravamento está diretamente ligado à atuação do imperialismo, que exige, com agressividade crescente, a imposição de projetos políticos e econômicos que fragilizem a soberania nacional. Isso ocorre para facilitar a extração de mais-valia, entregar riquezas naturais, permitir a instalação de bases militares imperialistas e atacar — ou permitir que se ataquem — as forças que se opõem ao domínio do império.
No Brasil, mesmo sob um governo que se identifica como de esquerda, o projeto imperialista avança com relativa facilidade. O governo Lula, pressionado por um Congresso profundamente reacionário, tem se mostrado impotente — não apenas para resistir ao imperialismo, mas também para implementar um programa minimamente popular, voltado aos interesses da população pobre.
Toda tentativa, ainda que tímida, de contrariar os interesses do imperialismo gera reação imediata: “o mercado” se agita, o Congresso conservador bloqueia a iniciativa, e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, corre para tranquilizar os donos do poder, garantindo que o governo manterá a linha ditada pelos Estados Unidos. A carestia cresce num ritmo mais acelerado até mesmo que a queda da popularidade do governo. E tudo isso para manter “o mercado” calmo — ou seja, para garantir que nenhuma medida desagrade o império.
“Mas é preciso entender que o governo Lula está fragilizado, emparedado por um Congresso extremamente reacionário”, dizem alguns, não sem razão. Outros, mais demagógicos, culpam o próprio povo: “Enquanto o povo não souber votar em parlamentares progressistas, será impossível avançar.” Culpa-se, assim, a vítima, e não o algoz. No fundo, o que essas declarações tentam afirmar é que nada pode ser feito — que o governo petista está impedido de governar, e ponto final.
Mas isso não é verdade.
É evidente que há o que fazer. Porém, isso exige coragem, combatividade e disposição de enfrentar o imperialismo e suas ameaças. Exige mobilizar o povo, elevar sua consciência e, em vez de “cuidá-lo” paternalisticamente, incentivá-lo a tomar em suas mãos a condução da história. A classe trabalhadora só poderá avançar se os interesses imperialistas forem barrados e o Congresso reacionário, agente direto do império, for enfrentado e derrotado.
É neste ponto que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, oferece uma lição a Lula. Também enfrentando um Congresso hostil, Petro apresentou recentemente um projeto de reforma trabalhista que previa, entre outras medidas, a redução da jornada de trabalho e o pagamento justo de horas extras. O projeto tem amplo apoio popular, mas foi imediatamente rejeitado pelo Congresso colombiano — tão submisso ao imperialismo quanto o brasileiro. Como Lula, Petro não tem maioria na casa legislativa, o que inviabiliza a aprovação da reforma.
Contudo, diferentemente de Lula, que se limita a negociar e modificar projetos até que se tornem irreconhecíveis — e, portanto, aceitáveis pelos parlamentares reacionários —, Petro anunciou que levará o tema à população, convocando um plebiscito. A medida gerou furiosa reação do imperialismo. Coincidência ou não, um pré-candidato da direita colombiana, o senador Miguel Uribe, sofreu um atentado logo após o anúncio, alimentando a instabilidade política no país. Ainda assim, Petro manteve a decisão de realizar a consulta popular.
No dia 11 de junho de 2025, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou que os EUA, por meio do Secretário de Estado Marco Rubio, estariam preparando um golpe de Estado contra Petro. O presidente colombiano respondeu dizendo que está pronto para resistir, ao lado do povo.
É importante frisar: não se trata de um revolucionário ou de um socialista. Petro, na verdade, tem uma trajetória vacilante e já demonstrou alinhamento aos interesses do império — como quando exigiu as atas para reconhecer as eleições venezuelanas. Ainda assim, sua postura atual demonstra mais firmeza do que a adotada por Lula. Isso serve de lição não só ao presidente brasileiro, mas a toda a esquerda nacional.
Enfrentar o imperialismo implica riscos: instabilidade, sabotagem, tentativas de golpe. No entanto, se recusar a esse enfrentamento é aceitar as exigências do império, perpetuar a miséria, destruir a soberania e abandonar o povo à própria sorte. Aqueles que se recusam a cumprir esse papel precisam encontrar apoio onde o império não manda: no povo trabalhador.
“O Congresso é de direita e governa mais do que o Executivo?”, perguntam. Então o desafio é fazer com que o povo se torne mais forte que o Congresso — e para isso é necessário mobilizá-lo. A classe média pode dizer que “o povo não quer lutar”, mas isso é falso. Dê ao povo uma pauta concreta, popular e combativa — uma proposta real de combate à carestia e de avanço para os pobres — e verá surgir, com naturalidade, a disposição de lutar.
Como ensinou Lênin: “É preciso confiar no povo.” E mais: é preciso parar de tratar o povo como se fosse incapaz, como se fosse um conjunto de “coitados”. O antídoto contra o imperialismo é — e sempre foi — a luta popular.