Neste 27 de junho, completam-se 120 anos de um dos eventos mais emblemáticos da Revolução Russa de 1905: o motim dos marinheiros do encouraçado Potemkin. O episódio, que se tornou um símbolo da insurreição popular contra a autocracia czarista, foi tão impactante que inspirou uma obra cinematográfica antológica, o filme “O Encouraçado Potemkin”, do renomado cineasta russo Sergei Eisenstein. A revolta, que começou no Mar Negro, ecoou por toda a Rússia, impulsionando o movimento revolucionário daquele ano.
A Revolução de 1905 foi um período de agitação social e política intensa na Rússia, desencadeada por uma série de fatores. A derrota humilhante na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) expôs a fragilidade do regime czarista e a ineficiência de suas instituições.
A miséria da população trabalhadora, as condições de vida e trabalho precárias, a repressão política e a falta de liberdades civis geravam um clima de profunda insatisfação. O estopim para a revolução foi o “Domingo Sangrento”, em 22 de janeiro de 1905 (9 de janeiro no calendário juliano, usado pelos russos à época), quando tropas czaristas abriram fogo contra manifestantes pacíficos em São Petersburgo, que marchavam para entregar uma petição ao czar Nicolau II. O massacre de centenas de pessoas provocou uma onda de greves, protestos e levantes por todo o país.
Nessa conjutura de efervescência revolucionária, a gota d’água para o motim no Potemkin acabou sendo algo relativamente corriqueiro, mas comum na história, um indicativo da mudança que um período revolucionário processa na psicologia das massas oprimidas. Em 27 de junho de 1905, quando o navio estava ancorado perto da cidade de Odessa, no Mar Negro, a carne estragada servida à tripulação, que se recusou a comê-la.
A oficialidade tentou reprimir a recusa, ameaçando fuzilar os amotinados. No entanto, os marinheiros se rebelaram, dominando os oficiais e tomando o controle do encouraçado. O médico do navio e alguns oficiais foram mortos, e o comandante foi jogado ao mar.
Após o motim, o Potemkin navegou para Odessa, uma cidade que já estava em greve geral e enfrentava confrontos entre trabalhadores e as forças do czar. A chegada do navio, com a bandeira vermelha da revolução hasteada, foi recebida com entusiasmo pela população. Milhares de cidadãos se reuniram no porto para expressar solidariedade aos marinheiros.
Durante vários dias, o encouraçado se tornou um símbolo da revolta, servindo de base para as atividades revolucionárias na cidade. No entanto, a falta de um plano claro e de coordenação com outros focos de rebelião, aliada à superioridade das forças czaristas, começou a isolar os amotinados.
O czar Nicolau II ordenou que a frota do Mar Negro reprimisse o Potemkin, mas outros navios hesitaram em abrir fogo contra seus companheiros. Sem apoio e com suprimentos se esgotando, os marinheiros do Potemkin decidiram deixar Odessa. O navio navegou pelo Mar Negro, buscando refúgio.
Após uma semana, em 8 de julho de 1905, o encouraçado chegou ao porto de Constança, na Romênia, onde os marinheiros entregaram o navio às autoridades romenas e pediram asilo político. A maioria dos marinheiros foi internada e, posteriormente, alguns retornaram à Rússia e foram presos ou executados.
Embora o motim do Potemkin tenha sido militarmente contido, sua importância para a Revolução de 1905 foi imensa. Ele demonstrou que a insatisfação atingia até mesmo as Forças Armadas, abalando a lealdade das tropas ao czar.
O episódio inspirou outras revoltas em unidades militares e navios, e se tornou um poderoso símbolo da luta contra a autocracia. O filme de Eisenstein, produzido em 1925, ajudou a eternizar o levante, transformando-o em uma obra-prima do cinema e em um ícone da história revolucionária.