O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal (PF) que advogados ligados a réus da trama golpista, incluindo integrantes da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentaram obter informações sigilosas de sua delação premiada por meio de contatos com familiares — inclusive com sua filha menor de idade.
Cid, que é delator no caso que investiga a tentativa de manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022, prestou novo depoimento à PF na terça-feira (24), no inquérito que apura possíveis tentativas de obstrução de Justiça.
Perfis falsos e vazamentos
Os advogados tentam anular o acordo de delação de Cid, sob a alegação de que ele teria vazado trechos do que disse à polícia por meio de um perfil falso em redes sociais, o “Gabrielar702”.
À PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro negou qualquer envolvimento com o perfil e disse que a imagem apresentada como suposta prova foi resultado de um vazamento.
Também negou ter tratado do conteúdo da delação com o advogado Eduardo Kuntz, que atua na defesa do ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara.
Contatos com filha e mãe
Segundo o depoimento, Cid constatou que Kuntz e Fábio Wajngarten, também ligado à defesa de Bolsonaro, mantiveram contatos constantes com sua filha menor de idade entre agosto de 2023 e o início de 2024, usando os aplicativos WhatsApp e Instagram.
“Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor G.R.C, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram, de agosto de 2023 até o primeiro de 2024“, diz o relatório policial.
Além disso, os advogados também teriam se aproximado da mãe de Cid, em pelo menos três ocasiões, durante eventos esportivos. Em uma dessas abordagens, o advogado Paulo Bueno, defensor de Bolsonaro em ação penal, também estava presente. De acordo com o militar, “os representantes da defesa de Bolsonaro se colocaram à disposição para atuar na defesa do declarante”.
Segundo Mauro Cid, o objetivo dos contatos era obter detalhes da colaboração premiada firmada com a PF e, com isso, “obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade”.
Gravações clandestinas e edição de áudios
Ainda no depoimento, Cid disse acreditar que foi gravado sem seu conhecimento e que os áudios posteriormente entregues à imprensa teriam sido “editados e recortados”. “Que acredita que alguém teria gravado o declarante, sem sua ciência e autorização, e repassado os áudios para o advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz; QUE um dos áudios divulgados pela revista Veja, ouvido pela declarante, está editado e recortado”.
Em relação à suposta foto usada como evidência de quebra do sigilo da delação, Cid também afirmou que se trata de um “arquivo vazado”, usado para tentar incriminá-lo.
Depoimentos na mira da PF
A pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF deve ouvir também os advogados citados por Cid.