
No dia em que o Congresso sabotou a possibilidade de aumento do IOF, circulou na internet um vídeo com o discurso de um deputado do partido Novo, do Rio.
Luiz Lima subiu à tribuna e ofereceu uma lição de comunicação ao governo e às esquerdas. Condenou o aumento do IOF e deu como exemplo de povo que seria prejudicado pela medida uma conhecida sua, a Tati da tapioca.
Tati, disse ele, tem um trailer ao lado da Câmara dos Deputados. O deputado fez uma conta sobre o aumento do IOF, se Tati pegasse um empréstimo de R$ 30 mil para melhorar o trailer. E apresentou os números, que não vamos repetir aqui porque pode ser um cálculo chutado.
Lima disse que Tati “é magrinha, com quase 60 anos de idade”. Foi o seu exemplo de empreendedora que poderia ter sido sacaneada por mais IOF. Para completar, disse que sua filha, que está fazendo a faculdade de economia há um ano, achou o aumento do IOF um absurdo.
Na mesma quarta-feira, o ministro Fernando Haddad publicou essa nota nas redes sociais, a respeito da ameaça de derrubada da medida do governo pelo Congresso, depois confirmada:
“O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores”.
O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) June 25, 2025
O texto tem a síntese da intenção da medida. Mas onde está a Tati de Haddad? Onde há, na mensagem do ministro da Fazenda, alguma coisa que faça com que seu argumento tenha força equivalente à da fala do deputado?
Não há nada. A primeira frase é boa, mas é também um clichê que serve para qualquer argumento: o decreto corrige uma injustiça. E a frase seguinte não seria bem assimilada pela Tati, se chegasse até ela.
Trabalhadores, mesmo os que sabem de todos os seus direitos sociais lembrados por Haddad, não se sensibilizam com uma queixa sobre evasão de impostos. A palavra evasão não deveria estar na nota de Haddad.
Para quem o ministro falava? Para a classe média, logo ela, que mais se queixa de impostos? Para os que sabem o que significa evasão? Para dentro do governo?
É claro que Haddad não tem como citar um rico que possa ser, do outro lado, o equivalente ao exemplo de pobre empreendedor do deputado. Mas poderia ter chegado mais perto do que seria uma conversa com o povo.
Não precisava falar como se estivesse argumentando para quem já sabe e aceita a intenção do aumento do IOF. E aconteceu, no fim, o que se previa. O decreto foi derrubado na Câmara e no Senado.
Para direita e extrema direita, está cada vez mais fácil conversar com quem faz e come tapioca. E está difícil para o governo falar até com quem sabe o que é evasão fiscal.
O caso do IOF pode ter marcado o início da pulverização do que chamavam de base do governo no Congresso. A sabotagem tem método e meta: inviabilizar o governo agora e Lula em 2026.