Bandeira palestina em maio a prédios completamente destruídos em Gaza. Foto: Ashraf Amra

A notícia falsa de um cessar-fogo entre Israel e Irã, anunciada por Donald Trump no início desta semana, é mais do que uma simples mentira diplomática: é a coreografia sinistra onde a guerra serve à propaganda, e a verdade é um corpo que apodrece sem testemunhas. Trump, o criminoso fascista que trata o mundo como extensão de sua personalidade doentia, declarou triunfante ter intermediado um acordo de paz. Mas não houve negociação. Não houve sequer uma única reunião entre os corpos diplomáticos de ambos os países. Não existe nem mesmo um papel amassado com duas assinaturas. Nada.

O que vemos é apenas o silêncio intermitente das armas, uma trégua iniciada unilateralmente por Israel e, algumas horas depois, acolhida pelo Irã. Trata-se de uma pausa ensanguentada, não de um armistício. O silêncio tenso que paira hoje sobre o Oriente Médio não é sinal de paz: é o prenúncio da barbárie, o barulho abafado da engrenagem se reposicionando, a pausa entre duas catástrofes.

O mais provável é que ambos tenham decidido interromper temporariamente o conflito por exaustão dos próprios arsenais. Trata-se de uma trégua tática, um intervalo entre bombardeios, necessário para reabastecer mísseis, redistribuir munições e calcular o próximo movimento no tabuleiro macabro da guerra. A própria declaração de Trump, feita nesta quarta-feira durante a cúpula da OTAN, deixa claro: o conflito não terminou, apenas aguarda sua próxima temporada.

Nesses últimos doze dias, assistimos aos dois lados se destruírem mutuamente, com a diferença de que o Irã, calejado por décadas de ataques, sangra com casca grossa, enquanto Israel, acostumado a ser apenas espada, experimentou pela primeira vez a ruptura de seus escudos e sentiu o terror de um bombardeio extenso em seu próprio território. A essa má notícia junta-se outra: a de que, por ora, a Casa Branca mantém uma postura ambígua. Lançou seis bombas sobre o Irã e recebeu a resposta exata: seis mísseis iranianos sobre sua frota estacionada no Catar. O empate mórbido entre os arsenais revelou uma verdade inconveniente para Tel Aviv: os Estados Unidos, mesmo com toda a sua máquina de guerra, hesitam em pôr soldados no chão quando o jogo pode não ter vencedor. Fica, por enquanto, suspensa a obsessão de Netanyahu, e de todos os nazissionistas mundo afora, de arrastar os Estados Unidos para uma guerra aberta contra o Irã.

Como em toda guerra, a primeira vítima é a verdade. Tanto o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, quanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, noticiaram a trégua em tom de vitória. Mentem, um em persa, o outro em hebraico, para suas plateias internas, embora ambos estejam profundamente machucados. Nos escombros das mentiras, os cidadãos fingem acreditar, silenciam, gratos apenas por poder respirar entre dois ataques, sem uma bomba lhes caindo sobre as cabeças.

Os únicos dois resultados palpáveis desses doze dias de horror são: primeiro, que os Estados Unidos continuarão a ser governados por um fascista delirante, cuja influência exerce não por meio das instituições republicanas, mas através de tuítes publicados no Truth Social — um esgoto digital onde supremacistas, conspiracionistas e milicianos virtuais se retroalimentam em círculo; e segundo, que a próxima explosão é apenas questão de tempo. A calmaria é artifício, enquanto o massacre continua em outros termos.

Mulher palestina com criança no colo sob escombros de prédio em Gaza. Foto: reprodução

Apesar da trégua, o projeto nazissionista de Israel não esconde seus verdadeiros alvos. O general que chefia o Estado-Maior das Forças Armadas israelenses declarou, sem eufemismos, que a campanha contra o Irã está apenas suspensa, e que, por ora, é hora de voltar a Gaza. Em outras palavras, é hora de retomar a carnificina contra o povo palestino. Ali, onde a resistência se chama fome e a esperança é enterrada junto com as crianças, Israel segue empenhado em “desmantelar” o Hamas, o que, na prática, significa ampliar sua política de extermínio seletivo, punindo uma população civil que já não possui nada além da própria agonia.

Israel não quer paz. Quer território. Quer a limpeza étnica do povo palestino. E, se puder, avançará para a limpeza étnica de toda a população árabe do entorno. Para isso, conta com a proteção cínica dos EUA, o delírio alucinado de Trump e a complacência covarde das democracias liberais do Ocidente. O governo nazissionista de Israel — porque é exatamente disso que se trata: um regime de limpeza étnica, apartheid institucional e terrorismo de Estado — continua sua obra, dia após dia, com a precisão burocrática de um Eichmann.

Nos próximos dias, Gaza, o maior campo de concentração que já existiu, verá suas ruínas virarem pó. Crianças continuarão a morrer sem pão antes mesmo de morrer sem ar. Adultos continuarão a ser desmembrados por drones, por mísseis de precisão, por tiros meticulosamente distribuídos em filas de distribuição de ajuda humanitária. Nessa política de extermínio, soldados do exército israelense, com alegria e prazer indescritíveis, continuarão fazendo de Gaza seu playground, seu macabro parque de diversões, no qual Israel repete com zelo científico aquilo que Mengele encenava nos campos de concentração: não apenas matar, mas estudar a morte; não apenas subjugar, mas administrar homeopaticamente a dor que impõe à vítima.

Gaza é o espelho em que o nazissionismo se reconhece: um parque de horrores onde cada explosão serve de aviso, cada cadáver infantil é argumento, e cada ruína é um sinal ao mundo de que nenhum povo está a salvo quando a barbárie se disfarça de civilização.

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Last Update: 25/06/2025