O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarou nesta semana que o país está empenhado em evitar um cenário de colapso global, enquanto o Relógio do Juízo Final — símbolo do risco de destruição nuclear — se aproxima da meia-noite. As afirmações foram feitas durante um discurso no Ministério das Relações Exteriores do Turcomenistão e em seu Instituto de Relações Internacionais.
“A segurança global é talvez a questão mais crítica hoje – especialmente com o infame Relógio do Juízo Final avançando em direção à meia-noite”, disse Lavrov ao público composto por funcionários, professores e estudantes da instituição. “É essencial prevenir tal cenário, e estamos ativamente engajados nos esforços para evitar uma catástrofe.”
Durante sua fala, Lavrov abordou o que chamou de normalização das discussões sobre uma Terceira Guerra Mundial, afirmando que tais conversas se tornaram frequentes em meio ao atual cenário geopolítico, especialmente na Europa. Segundo ele, o retorno de discursos considerados agressivos por parte de líderes europeus representa um fator de risco crescente.
“Tornou-se quase lugar-comum falar sobre a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial”, afirmou. “Isso é especialmente alarmante, dado o ressurgimento de atitudes agressivas e beligerantes em toda a Europa. Como se duas guerras mundiais – e inúmeros conflitos menores ao longo dos séculos – não fossem suficientes para os atuais líderes da UE.”
Lavrov ainda apontou que há movimentos considerados por ele como sinalizadores de mudanças no sistema internacional. Segundo o chanceler russo, algumas correntes políticas recentes indicam uma ênfase maior no pragmatismo e no respeito à soberania nacional.
“Há, no entanto, algumas tendências positivas”, disse. “Uma delas é a ênfase no realismo e no bom senso expressa pelo governo Trump, que baseia sua política externa nos interesses nacionais — tanto dos Estados Unidos quanto de outras nações soberanas.”
O ministro contrastou essa abordagem com a da administração anterior dos EUA. “Essa é uma diferença fundamental em relação ao governo Biden anterior, que foi totalmente consumido por uma agenda neoliberal e hegemônica”, concluiu.
As declarações de Lavrov ocorrem em um momento de tensão prolongada entre a Rússia e o Ocidente, agravada pela guerra na Ucrânia, sanções econômicas e disputas envolvendo segurança militar e energética na Europa e na Ásia Central.
Desde o início da invasão russa em território ucraniano, os canais diplomáticos têm sido testados por trocas constantes de acusações entre Moscou e os países membros da OTAN. Em paralelo, organizações internacionais vêm alertando para o risco crescente de escalada militar em diversas regiões do mundo.
O Relógio do Juízo Final, mencionado por Lavrov, é mantido pelo Boletim de Cientistas Atômicos e indica o nível de ameaça global com base em fatores como armas nucleares, mudanças climáticas e avanços tecnológicos não regulados. A meia-noite representa o ponto de destruição total. Em 2024, o relógio foi ajustado para 90 segundos antes da meia-noite, o menor intervalo já registrado desde sua criação em 1947.
A menção ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugere uma tentativa de Moscou de realinhar narrativas diplomáticas em torno de políticas externas baseadas na ideia de soberania e multipolaridade. Essa visão contrasta com iniciativas promovidas por organismos multilaterais e coalizões ocidentais, frequentemente criticadas por Moscou como tentativas de exercer hegemonia global.
Até o momento, o governo dos Estados Unidos não se manifestou sobre as declarações de Lavrov. Tampouco houve resposta oficial da União Europeia ou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), frequentemente citadas nas comunicações oficiais do Kremlin como opositoras das ações russas em território ucraniano.
As falas do chanceler russo devem repercutir nos fóruns internacionais nas próximas semanas, especialmente em encontros multilaterais que tratam da segurança global, desarmamento nuclear e estabilidade política regional. O discurso também pode influenciar os posicionamentos de aliados estratégicos da Rússia na Ásia e no Oriente Médio.
A política externa russa tem reforçado seu discurso contra o que classifica como interferência ocidental em assuntos internos de nações soberanas. A retórica adotada por Lavrov segue essa linha e foi alinhada com o conteúdo de comunicados anteriores emitidos pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia desde o início do atual conflito militar em fevereiro de 2022.
Não há, até o momento, qualquer proposta concreta apresentada por Moscou nos fóruns internacionais de negociação para redução de armamentos ou acordos de não proliferação que estejam vinculados às declarações de Lavrov nesta semana.
A diplomacia russa, no entanto, tem mantido canais abertos com alguns países do Sul Global e com membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, especialmente China e Índia.
O Boletim de Cientistas Atômicos, responsável pela manutenção simbólica do Relógio do Juízo Final, realiza revisões periódicas do indicador com base em análises técnicas e avaliações geopolíticas. A próxima atualização está prevista para o início de 2026, quando novos dados sobre riscos globais serão considerados.
Com informações da TASS