Israelenses do contra. Nem com os aeroportos podem contar

por Armando Coelho Neto

Com o avanço do neonazifascismo no mundo, a extrema direita adotou como mantra a apresentação de soluções simples e rápidas para problemas complexos e indiscutivelmente mais demorados. Leia-se, os neonazifascitas teriam soluções para os problemas criados por eles próprios. Acreditem ou não, os senhores das crises têm solução para as crises, e isso é um simples jogo de palavras. Alô?!

Na trilha das soluções simples, o fanfarrão Donald Trump, tão logo oficialmente a candidato à presidência dos Estados Unidos, disse que acabaria com as guerras com simples telefonemas. Decorridos mais de quatro meses de sua posse, conseguiu potencializar a guerra na Ucrânia, já que a Rússia que caiu anteriormente no conto da negociação, não iria cair no mesmo golpe. Alô? Trump está?
Scott Ritter, ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais (EUA), hoje um perseguido analista militar em seu país, está entre os especialistas que afirmam que os países membros da Otan, liderados pelos EUA, usaram os acordos de Minsk (I e II, em 2014 e 2015), firmados para resolver o conflito entre Ucrânia e Rússia, para armar os ucranianos e não para evitar conflito armado entre os dois países.

Alguém já disse que a história se repete como farsa. Não sem razão, alheio às negociações de paz, Trump, em comunhão com 83% de israelenses que aprovam a ampliação dos ataques militares de Israel, mandou jogar bombas no Irã. Enquanto a lista de não cumprimento de acordos dos EUA é ampliada, israelenses vivem o clima de terror acantonados em abrigos sentindo gosto e cheiro de Gaza.

Trump que iria acabar com as guerras com simples telefonemas não sabe o que fazer, já que, diante da fogueira da guerra, não tem soluções fáceis ou rápidas para nada, nem para a decadência econômica do seu país, nem para nenhuma das guerras patrocinadas pelos EUA, seja na Ucrânia, seja em Gaza… Daí que, para Ritter, o ataque ao Irã teve mais conotação política do que qualquer outra coisa.

Conotação política não para seu público interno, mas sim para seu cúmplice (Netanyahu). Afinal, os EUA não têm condições de dizer o que efetivamente conseguiu fazer com o ataque ao Irã, nem que tipo de dano ou neutralização conseguiu fazer, de uma bomba que sequer consegue provar que ela existe ou está em fase de conclusão. Quem sabe é o fantasma do Iraque voltando.

Ironia, metáfora ou hipérbole à parte, vige a cultura do medo de uma iminente terceira guerra mundial. Mas, Ritter e outros analistas são enfáticos no sentido de que dias antes do ataque de Trump, os iranianos já haviam retirado do local os potenciais alvos, e que ninguém sabe onde eles estão. Ao mesmo tempo, dizem, as possibilidades de os referidos alvos terem sido atingidos são próximas de zero. Alô?

Deixando de lado as discussões técnicas e ou sobre estratégias específicas, existe uma guerra de narrativas conveniente às partes envolvidas. Nesse contexto, circulam nas redes sociais imagens de guerras passadas, ataques de outros países, imagens de jogos, montagens por meio de inteligência artificial. Em 2022, a Jovem Pan reproduziu imagem de videogame como sendo de guerra na Ucrânia…

Entretanto, é indiscutível que tanto Irã quanto Israel estão sob impacto de guerra. O mais cruel nisso tudo, é que as imagens dos massacres em Gaza, sobretudo de crianças, ganharam um impacto tal que já existem torcidas. As imagens de protestos mundo afora sobre o holocausto e ou genocídio em Gaza vem comovendo o mundo de forma tal, que poucos disfarçam o apoio ao Irã. Exceto, claro, bolsopatas.

É claro que diante de uma guerra, a única torcida possível e admissível é pelo fim dela, é pela paz. Mas, até em botecos ouvem-se pessoas afirmando que estão torcendo pelo Irã. Se os botecos são a voz do povo e o povo é a voz de Deus, o povo escolhido e a terra prometida estão em maus lençóis. Tudo isso, repita-se, em meio às notícias de que 83% dos israelenses são favoráveis à guerra.

Pobre dos pacifistas israelenses, se estiverem dependendo de um telefonema de Trump. Coitado deles, se dependerem de acordos afiançados pelos EUA. No momento, a única saída para os 17% de israelenses contrários à guerra seria os aeroportos, o que não parece ser fácil, já que alguns estão em destroços. Sem contar notícias de que está havendo restrições para quem quer deixar o país.

Com gosto do terror ainda vivo em Israel, consta que houve um acordo? Será?

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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Last Update: 25/06/2025