O importante artigo 6 argumentos sobre a imposição de derrota ao inimigo sionista, assinado pelo iraniano Abdullah Abdoulahi e publicado pela agência de notícias persa Tasnim, jogou uma pá de cal na farsa montada por norte-americanos, sionistas e sua imprensa mundial. No texto, o autor condensa, com grande capacidade e clareza, um conjunto de conclusões imediatas sobre a guerra de 12 dias entre “Israel” e a República Islâmica do Irã.

Após demonstrar que nenhum dos quatro objetivos do imperialismo e do nazissionismo foram conquistados, Abdoulahi critica também os sabotadores internos, chamando-os de “tribunas de Trump”. O termo descreve com precisão cirúrgica aqueles que, dentro do próprio Irã (e fora dele), emprestam sua retórica pretensamente revolucionária para fazer o jogo do imperialismo. Com ar professoral, semblante grave e referências de segunda mão, eles “explicam” ao povo que, na verdade, quem perdeu foi o Irã. Que a retirada dos ataques sionistas é apenas parte de um plano maligno. Que a unidade popular diante da agressão não passa de manipulação. São os mesmos que, em plena agressão militar, se voltam contra o próprio país atacado para tentar desestabilizar sua direção e sua linha de defesa. Em suma, tribunas do inimigo.

“As tribunas de Trump têm várias características. Primeiro, tentam, com cálculos errados e às vezes com gestos revolucionários invertidos, fazer o Irã parecer derrotado na batalha e o lado oposto parecer vitorioso no campo. Segundo, como muitos exemplos anteriores, tentam transformar uma disputa externa em um conflito político interno; as mensagens que alguns políticos aparentemente revolucionários publicaram nas últimas horas contra algumas autoridades diplomáticas do país, criando uma polarização entre a liderança e a diplomacia, são desta categoria. Terceiro, tentam, com uma completa inversão da realidade, interpretar a imposição de derrota ao lado oposto como “paz imposta” ao Irã; enquanto, baseado no que também foi argumentado acima, fundamentalmente não se trata de paz imposta, mas de imposição de derrota ao lado oposto, e o Irã não se submeteu à realização de nenhum dos objetivos do inimigo sionista e seu apoiador norte-americano.”

Não é preciso, no entanto, viajar até o Oriente Próximo para encontrar tais espécimes. O Brasil é um berçário deles.

Aqui, no conforto tropical, os intelectuais da esquerda pequeno-burguesa, formados nas escolas do Partido Democrata norte-americano, cumprem com rigor o papel que lhes cabe: fazer coro com a propaganda de guerra do imperialismo. O Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), por meio do Esquerda Diário, publicou uma análise (se é que se pode chamar assim) que reproduz quase literalmente a imprensa de “Israel”, tratando o contra-ataque iraniano como uma “tentativa de infligir danos à população”. Sem comentários. O que vem a seguir é um festival de acrobacias retóricas para mascarar uma posição absolutamente submissa ao regime sionista.

O mesmo MRT, em outro artigo, exalta a capacidade de defesa do sistema aéreo de “Israel” — que seria destruído em pouco mais de uma semana —, dizendo que “a capacidade demonstrada demonstrada por este ataque de infligir danos a Israel foi mínima”.

Na mesma linha, os militantes da LIT-QI, com sua fixação patológica por “revoluções coloridas”, tentam reencenar a Primavera Árabe no Irã, com cartazes pela queda do regime e posts indignados contra os aiatolás — enquanto Telavive cospe fogo sobre Gaza, Beirute e Rafá. A única revolução que enxergam é aquela que serve ao Departamento de Estado.

A esquerda identitária só abre a boca para falar de Irã quando é para repetir que “o regime é opressor”, que “não respeita as mulheres”, que “é fundamentalista”. Tudo muito comovente. Pena que essas mesmas bocas estejam fechadas quando Benjamin Netaniahu manda bombardear hospitais, quando os Estados Unidos jogam bombas sobre instalações nucleares ou quando as mulheres iranianas se alistam voluntariamente para defender seu país com fuzil na mão.

Esses setores são, objetivamente, os microfones do imperialismo dentro das fileiras da esquerda. Quando o Irã vence, eles dizem que perdeu. Quando resiste, acusam de autoritário. Quando cala os canhões do inimigo, eles choram pelo “diálogo”. A única coisa que não fazem — nunca — é ficar do lado de quem luta contra o imperialismo.

Ao contrário do que pregam as “tribunas de Trump”, o que estamos vendo não é a paz. É a imposição de um limite militar ao imperialismo, pela força organizada de um Estado soberano que se recusa a ser colônia. E isso, para a esquerda que vive de ceder, recuar e pedir desculpas, é insuportável. Por isso atacam. Por isso mentem. Por isso tomam partido contra o Irã, contra a Palestina, contra o Líbano — e, no fim, contra todos os povos que se recusam a deitar para o Grande Satã.

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Last Update: 25/06/2025