
Por Ana Oliveira
Pragmatismo Político
Juliana Marins, turista brasileira de 26 anos, morreu após cair em uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia. A demora das autoridades locais no resgate do corpo, que levou cinco dias para ser concluído, gerou questionamentos sobre os protocolos adotados e a eficiência da resposta da equipe indonésia. A tragédia mobilizou atenção nacional e abriu espaço para discussões legítimas sobre segurança em trilhas, apoio consular e os desafios enfrentados por viajantes brasileiros no exterior.
No entanto, nas redes sociais, a repercussão do caso também seguiu por um caminho mais conturbado. Além das manifestações de solidariedade, parte dos comentários assumiu um tom agressivo, crítico à própria vítima. Juliana, que viajava sozinha, tornou-se alvo de julgamentos que questionavam suas escolhas pessoais e sugeriam, de forma explícita ou velada, que sua morte seria resultado de imprudência ou irresponsabilidade.
Grupos políticos também passaram a usar o episódio como instrumento de disputa ideológica. Publicações associadas a perfis bolsonaristas, por exemplo, buscaram responsabilizar o presidente Lula e o governo federal pela tragédia, ainda que os acontecimentos tenham ocorrido em território estrangeiro e sob jurisdição indonésia. A Embaixada do Brasil em Jacarta acompanhou o caso desde o início, prestando apoio à família, conforme previsto em situações desse tipo.
Bolsonaristas na notícia sobre a morte da Juliana Marins. Bolsonarismo é um câncer! pic.twitter.com/Ou7WqjZIrI
— Lázaro Rosa 🇧🇷 (@lazarorosa25) June 24, 2025
Tem bolsonarista acusando o Lula pela morte da Juliana Marins. Se usar a lógica deles o governador de Santa Catarina seria responsável pelas mortes no balão que pegou fogo.
— Pedro Ronchi (@PedroRonchi2) June 24, 2025
A morte de Juliana Marins na Indonésia é uma tragédia que dói e revolta.
Faltou apoio. Toda vida brasileira precisa ser cuidada, onde quer que esteja.
Meus sentimentos à família.
— Romeu Zema (@RomeuZema) June 24, 2025
Essa tentativa de politização não é inédita. Tragédias individuais têm sido, com frequência, incorporadas ao debate político digital, seja para reforçar narrativas ideológicas, seja para atacar adversários. O caso de Juliana evidencia como mortes e acidentes podem ser rapidamente capturados por discursos polarizados, que operam com simplificações, distorções e julgamentos apressados.
Juliana Marins era uma mulher brasileira, negra, que realizava uma viagem solo pelo sudeste asiático — um perfil que, para muitos, ainda provoca resistência social e preconceito. O debate sobre sua trajetória, mais do que um episódio isolado, revela disputas mais amplas sobre liberdade individual, segurança de mulheres viajantes e a forma como tragédias pessoais são tratadas no espaço público digital.
A morte de Juliana mobiliza questões legítimas sobre responsabilidade, direitos consulares e empatia. Mais do que alimentar disputas, seu caso pede reflexão sobre os limites entre luto, julgamento e instrumentalização de vidas interrompidas.
LINHA DO TEMPO DO CASO JULIANA MARINS
Sexta-feira, 20 de junho
19h (horário de Brasília) – Durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, Juliana Marins caiu em um abismo de cerca de 300 metros. Ela integrava um grupo acompanhado por um guia, mas ficou para trás após relatar cansaço. Pouco depois, turistas utilizaram um drone e conseguiram localizá-la presa em uma fenda, sem agasalho e com dificuldades de locomoção.
22h – A família de Juliana foi avisada do acidente por turistas espanhóis que, ao encontrarem seu perfil nas redes sociais, conseguiram contato com uma amiga da jovem.
Sábado, 21 de junho
11h40 – A família recebeu a informação de que socorristas haviam chegado à região onde Juliana estava. Segundo o comunicado, teriam fornecido água e comida, mas não conseguiram retirá-la devido ao terreno acidentado e ao mau tempo. Um vídeo supostamente mostrando o local foi compartilhado com os parentes.
Mais tarde – Dias depois, a família descobriu que o vídeo era falso e que Juliana nunca havia recebido alimentos, agasalhos ou qualquer tipo de atendimento no local.
Durante o dia – O Parque Nacional do Monte Rinjani divulgou nota oficial confirmando que Juliana havia caído e estimando sua localização entre 150 e 200 metros de profundidade.
17h10 – Foi o último momento em que Juliana foi avistada visualmente por meio de drone.
Domingo, 22 de junho
Madrugada – A família foi informada de que a informação anterior, de que Juliana havia recebido ajuda, era falsa. Às 3h30, divulgou nota expressando preocupação com as inconsistências nas comunicações das autoridades indonésias.
Durante a madrugada – A embaixada brasileira comunicou que as buscas haviam sido retomadas, mas a família relatou que as condições climáticas impediram qualquer avanço.
Fim da manhã – Familiares anunciaram que as buscas haviam sido suspensas oficialmente devido à forte neblina na região.
Segunda-feira, 23 de junho
Madrugada – As operações de busca foram retomadas com o uso de drones térmicos e presença de diplomatas brasileiros.
5h (horário de Brasília) – Juliana foi novamente localizada, aparentemente imóvel, a cerca de 500 metros de profundidade.
11h36 – Dois alpinistas experientes se integraram à equipe de resgate, com novos equipamentos. O parque confirmou que Juliana permanecia no penhasco, sem apresentar sinais de movimento.
23h37 – As equipes conseguiram descer 400 metros, mas estimaram que Juliana estava ainda mais abaixo — aproximadamente 1.050 metros da superfície, sendo necessário descer mais 650 metros para alcançá-la.
Terça-feira, 24 de junho
5h42 – A família foi oficialmente informada de que a área do acidente havia sido interditada para turistas e curiosos, medida que só foi adotada quatro dias após a queda.
6h40 – Manoel Marins, pai de Juliana, embarcou para a Indonésia após enfrentar dificuldades logísticas por conta de restrições aéreas decorrentes do conflito no Oriente Médio.
11h (Brasília) – A família confirmou oficialmente que o corpo de Juliana havia sido encontrado sem vida pelas equipes de resgate.
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