Em declaração publicada nesta terça-feira (data local), o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a China está autorizada a continuar comprando petróleo do Irã.
A afirmação representa um aparente recuo em relação à política de sanções impostas durante sua própria administração, que visava bloquear a venda de petróleo iraniano para empresas chinesas.
“A China agora pode continuar a comprar petróleo do Irã”, escreveu Trump em sua rede Truth Social, enquanto seguia viagem para Haia, onde participaria de uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Trump acrescentou: “Espero que eles também comprem bastante dos EUA. Foi uma grande honra para mim fazer isso acontecer!”, numa referência direta à suposta mediação de um cessar-fogo entre Israel e Irã, anunciada na véspera.
Os comentários foram divulgados menos de 24 horas após Trump ter se creditado pela trégua entre os dois países do Oriente Médio. No fim de semana anterior, os Estados Unidos haviam realizado ataques a três instalações nucleares em território iraniano, alinhando-se militarmente com Israel no confronto regional. Como resposta, Teerã efetuou um ataque a uma base americana previamente evacuada no Catar, o que contribuiu para reduzir a tensão no cenário internacional.
Horas após as declarações do ex-presidente, a Casa Branca divulgou uma nota negando qualquer mudança na política externa dos EUA. Segundo um alto funcionário, Trump não estaria revertendo a postura oficial, mas apenas comentando os desdobramentos das ações militares recentes.
“O presidente estava simplesmente chamando a atenção para o fato de que, por causa de suas ações decisivas para destruir as instalações nucleares do Irã e intermediar um cessar-fogo entre Israel e o Irã, o Estreito de Ormuz não será afetado, o que teria sido devastador para a China”, afirmou o porta-voz.
O mesmo representante reforçou que a administração norte-americana segue recomendando à China e demais países que priorizem a importação de petróleo norte-americano.
“Trump continuou a pedir à China e a todos os países que importem nosso petróleo de última geração em vez de importar petróleo iraniano, violando as sanções dos EUA”, completou.
Desde março, os Estados Unidos vêm impondo sanções a refinarias chinesas privadas que compram petróleo do Irã. Essas medidas integram a chamada campanha de “pressão máxima” contra o regime iraniano.
Além das refinarias, os EUA também direcionaram sanções a empresas envolvidas na logística e transporte do petróleo bruto iraniano, incluindo entidades sediadas em Hong Kong. Segundo autoridades americanas, muitas dessas empresas seriam fachadas operadas pela Sepehr Energy, uma afiliada ligada ao Estado-Maior das Forças Armadas do Irã.
A Sepehr Energy também é acusada de utilizar uma frota de navios-tanque — conhecida informalmente como “frota fantasma” — para facilitar o envio de petróleo ao mercado chinês, contornando as restrições impostas por Washington.
Estima-se que a China compre a maior parte dos cerca de 1,5 milhão de barris de petróleo que o Irã exporta diariamente, garantindo a Teerã uma das principais fontes de receita em meio ao isolamento internacional.
De acordo com dados da Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA), as exportações iranianas de petróleo triplicaram nos últimos quatro anos, com a China absorvendo a maior fatia. A dependência de Pequim desse fornecimento, no entanto, a torna vulnerável caso os Estados Unidos endureçam novamente as sanções, ou caso o Estreito de Ormuz — principal via de exportação da região — seja fechado.
O mercado de energia tem reagido de forma instável às tensões no Oriente Médio. Após os ataques coordenados pelos EUA e Israel no fim de semana, o preço do petróleo Brent — referência internacional — subiu acima de US$ 80 por barril. Contudo, com a percepção de um arrefecimento do conflito e a possibilidade de um cessar-fogo duradouro, os preços recuaram, chegando a aproximadamente US$ 68 por barril nos dias seguintes.
Parlamentares republicanos têm cobrado de forma reiterada uma postura mais dura contra as exportações de petróleo iraniano, especialmente as destinadas à China. Durante o governo de Joe Biden, esses parlamentares acusaram o democrata de afrouxar a vigilância e permitir o avanço de Teerã no mercado asiático.
Em março, ao anunciar o primeiro pacote de sanções contra entidades chinesas envolvidas na importação de petróleo iraniano, o então secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que o objetivo era interromper os fluxos financeiros que alimentam o programa nuclear do Irã.
“Os EUA estavam comprometidos em cortar os fluxos de receita que permitem que Teerã continue financiando o terrorismo e o desenvolvimento de seu programa nuclear”, declarou à época.
A sinalização recente de Trump gerou dúvidas sobre uma possível mudança estratégica, apenas cinco meses após o início de seu mandato. A ambiguidade de sua declaração gerou reações distintas nos bastidores diplomáticos e nos mercados internacionais, especialmente em função da relevância da China como destino do petróleo iraniano.