
Era o início da Operação Lava Jato e a força-tarefa estava se empoderando. 2014. Era o começo das prisões para forçar delações. O jogo de poder já estava sendo jogado pela República de Curitiba. As delações atendiam a interesses do juiz, chefe da operação, e de seus procuradores adestrados. E de fortes grupos financeiros, como se comprovou depois.
Vários clientes do meu escritório foram delatados. Numa das delações, o Paulo Roberto, diretor da Petrobras, disse que o Youssef tinha entregado um montante em dinheiro para um senador e uma governadora — ambos meus clientes. Indignados, eles negaram ter recebido qualquer montante.
O Youssef negou que tivesse entregue dinheiro ao senador e à governadora. Eram as tramas da Operação Lava Jato. A contradição era evidente. Inquestionável.
O procurador-geral anuncia que iria ouvir os citados. A oitiva seria espetacularizada, e o prejuízo político, evidente.

Liguei para um jornalista amigo e disse que iria pedir uma acareação e desmoralizar o delator encomendado. O jornalista deu a nota sobre meu pedido de acareação.
Assim que a nota saiu, eu liguei para a Procuradoria. Imediatamente, o PGR voltou atrás e pediu o arquivamento dos dois inquéritos que haviam acabado de ser abertos só com a palavra do delator de encomenda.
Uma acareação quase nunca resulta em nada. Cada um mantém sua versão. Neste caso, a notícia de um pedido de acareação, que iria expor os conluios lavajatistas, resultou no arquivamento de dois inquéritos.