O Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, levando os juros básicos da economia a 15,00% ao ano. A justificativa para a medida, divulgada nesta terça-feira, 24, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), foi a persistência da atividade econômica, que, segundo a autoridade monetária, dificulta a convergência da inflação à meta oficial.
A ata mostra que, apesar da nova elevação, o BC avalia que grande parte dos efeitos das altas anteriores ainda não foi completamente absorvida pela economia, o que motivou o comunicado de que o ciclo de aperto monetário pode ser interrompido nas próximas decisões.
“O Comitê optou pela elevação de 0,25 ponto percentual, avaliando que a economia ainda apresenta resiliência, o que dificulta a convergência da inflação à meta e exige maiores juros”, apontou o documento.
Em seguida, a autarquia destacou o impacto cumulativo das medidas anteriores: “Ressaltou-se que o ciclo até então empreendido foi particularmente rápido e bastante firme, reforçando o entendimento de que, dadas as defasagens derivadas aos efeitos da política monetária, grande parte dos impactos da taxa mais contracionista ainda está por vir”.
Com isso, o Copom indicou a possibilidade de manter a taxa básica de juros inalterada por um período prolongado após a próxima reunião. “Determinada a taxa de cobrança de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas”, afirmou a autoridade monetária.
Na ata, o BC reiterou que a taxa de juros será mantida em níveis restritivos pelo tempo necessário para garantir a convergência da inflação à meta de 3% ao ano.
O documento também reafirma o compromisso com o controle inflacionário: “O Comitê comunicou que antecipa uma interrupção no ciclo de aumento de juros. Ressaltou-se que, após essa interrupção, o Copom irá primeiramente observar se o limite dos juros é de proteção para levar a inflação à meta”.
A autoridade monetária reforçou ainda que seguirá acompanhando os indicadores econômicos e está disposta a retomar o ajuste monetário caso considere necessário. “O BC enfatizou uma mensagem da semana passada de que seguirá vigilante e que não hesitará em obrigações no ciclo de ajuste caso julgue apropriada”, completou a ata.
Cenário fiscal pode influenciar decisões futuras
O Banco Central também abordou no documento os efeitos potenciais do ambiente fiscal sobre as condições monetárias. O texto cita as discussões entre o governo federal e o Congresso Nacional sobre medidas fiscais e corte de incentivos tributários como fatores que podem influenciar a percepção de risco e impactar as taxas de juros no país.
“O debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros”, disse o BC.
Segundo o documento, a autoridade monetária segue acompanhando com atenção o andamento dessas discussões e seus desdobramentos sobre as expectativas econômicas. A equipe econômica do governo apresentou recentemente propostas de aumento de arrecadação e medidas voltadas à contenção de despesas. Entre as iniciativas está o envio de um projeto de lei ao Congresso com o objetivo de reduzir gastos tributários.
O Ministério da Fazenda também anunciou a intenção de iniciar discussões com os parlamentares sobre outras possibilidades de cortes nas despesas obrigatórias. A condução dessas negociações e a capacidade do governo de implementar medidas com impacto estrutural nas contas públicas são vistas como elementos que podem influenciar o comportamento da curva de juros e o grau de restrição monetária necessário nos próximos trimestres.
O BC não detalhou eventuais condições para iniciar um ciclo de redução da taxa Selic, mas reiterou que acompanhará a evolução dos indicadores fiscais e das expectativas de inflação antes de alterar sua estratégia. A avaliação é de que o processo de desinflação exige atenção contínua ao balanço de riscos.
A próxima reunião do Copom está prevista para ocorrer dentro de aproximadamente 45 dias. Até lá, a autoridade monetária acompanhará os dados de atividade, inflação, mercado de trabalho e indicadores fiscais, além do andamento das medidas anunciadas pelo Executivo e do comportamento do cenário externo.