Após as tarifas absolutamente hostis ao livre comércio mundial, a decisão de Donald Trump, de atacar o Irã, violando todas as leis internacionais, constitui outro fator de isolamento para os EUA.
Cingapura foi um dos países mais frustrados com o tarifaço de Trump, pelo que se pode depreender de inúmeros discursos de seu primeiro ministro, Lawrence Wong.
Wong se mostrou profundamente decepcionado com os EUA por jogar no lixo as leis de comércio que eles próprios criaram. Ele explicou, em discurso aos cidadãos, que países pequenos precisam de leis internacionais para prosperar e ter segurança econômica. Esse mundo de Trump, governado pela lei do mais forte, não interessa a Cingapura.
Os ataques americanos ao Irã, violando leis internacionais, se somam, portanto, ao tarifaço, e mostram que os Estados Unidos se tornaram um país no qual ninguém pode confiar, nem para questões de segurança, nem para questões de economia.
Em matéria publicada há pouco no South China Morning Post, temos um exemplo das consequências dessa postura beligerante, agressiva e unilateral dos EUA: a Ásia está se voltando para si mesma, tentando estreitar laços comerciais e ganhar com segurança o que vem perdendo com a deriva autoritária norte-americana.
Vale acrescentar que os ataques ao Irã também trouxeram outra revelação, que foi a submissão vergonhosa, acima de qualquer dignidade ou moral, de um conjunto de países do Norte Global. O Canadá e a Europa (via Groenlândia), por exemplo, mesmo agredido sistematicamente pelos EUA, inclusive com ameaças constantes de invasão ou anexação por parte de Donald Trump, mesmo assim expressa apoio vergonhoso, na forma de um silêncio cúmplice, ou mesmo anuência sem vergonha, aos ataques e assassinatos promovidos por Israel e EUA ao Irã.
Separei alguns trechos de matéria do SCMP:
Xi pede que Singapura se una à China no ‘lado certo da história’ em encontro com o premiê Wong.
Em meio às tensões comerciais globais, presidente chinês incentiva Singapura a promover um mundo multipolar e igualitário.
O presidente da China, Xi Jinping, pediu que China e Singapura trabalhem juntas para “ficar do lado certo da história” e impulsionar um mundo multipolar igualitário. O apelo ocorre em meio ao aumento das tensões geopolíticas e comerciais, numa tentativa de Pequim se apresentar como força de estabilidade.
Xi fez a declaração na manhã de terça-feira, durante encontro com o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, que realiza uma visita oficial de cinco dias à China.
O presidente destacou que os dois países, que celebram 35 anos de relações diplomáticas, mantêm entendimento e respeito mútuos, o que fornece uma “base sólida para o desenvolvimento estável e saudável das relações entre China e Singapura”, segundo a agência estatal Xinhua.
“[Os dois países] devem sempre enxergar e desenvolver as relações China-Singapura a partir de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, para garantir que o rumo permaneça estável e o ímpeto continue forte”, afirmou Xi.
Xi defendeu que China e Singapura apoiem os interesses centrais e as principais preocupações uma da outra, ampliem a colaboração em áreas como economia digital e inteligência artificial, e “continuem escrevendo um novo capítulo de cooperação de alta qualidade”.
Os dois países também devem aprofundar os intercâmbios culturais e “fazer com que a amizade China-Singapura se enraíze ainda mais no coração dos povos”, acrescentou.
“China sempre acreditou que a tendência de paz, desenvolvimento, cooperação e benefício mútuo é imparável. O mundo não pode retornar à hegemonia nem ser arrastado de volta à lei da selva”, disse Xi.
Ele afirmou que a China está disposta a trabalhar com Singapura “para estar do lado certo da história e do lado da equidade e da justiça, defender juntos um mundo multipolar igualitário e ordenado, uma globalização econômica inclusiva, e promover um futuro de paz, segurança, prosperidade e progresso para o mundo”.
As declarações de Xi ecoam as mensagens que ele transmitiu a outros líderes do Sudeste Asiático durante sua visita à região no início deste ano, quando pediu que se posicionassem contra o “bullying unilateral” e os “abusos tarifários”, uma referência às tarifas impostas pela administração Trump.
As economias do Sudeste Asiático se preparam para os impactos dessas tarifas elevadas, que estão suspensas por 90 dias. Singapura, apesar de ter déficit comercial com os Estados Unidos, enfrenta uma tarifa-base de 10%.
Em abril, Wong classificou as tarifas do presidente americano Donald Trump como “ações que não se fazem contra um amigo”.
Na semana passada, Wong disse à emissora estatal chinesa CCTV que Singapura buscaria se manter competitiva e relevante diante das tarifas e das crescentes pressões no sistema comercial global.
Singapura também trabalhará com países que compartilham dos mesmos princípios — como seus vizinhos, além da China, Japão e Coreia do Sul — para apoiar o livre comércio e um sistema comercial baseado em regras.
Wong afirmou que as relações com a China vêm se desenvolvendo de forma constante e que a cooperação tem sido estreita, acrescentando que a China foi o primeiro país fora do Sudeste Asiático que visitou desde sua reeleição, segundo a Xinhua.
Esta foi a primeira viagem de Wong à China desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro em maio de 2024.
“Diante de um cenário internacional turbulento, Singapura está disposta a coordenar e cooperar estreitamente com a China em plataformas regionais e multilaterais, para defender conjuntamente o multilateralismo e a ordem internacional”, disse Wong. “Acredito que a China certamente desempenhará um papel ainda mais importante na paz mundial.”
Durante um encontro com Wong na segunda-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pediu que Singapura coopere para “salvaguardar a estabilidade” das cadeias globais de suprimento.
Eles também participaram da assinatura de vários acordos de cooperação, incluindo parcerias nas áreas de desenvolvimento de talentos e propriedade intelectual.
Wong seguirá viagem para Tianjin, onde participará de uma reunião do Fórum Econômico Mundial, conhecido como Davos de Verão.