O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a investigação da venda das joias sauditas recebidas por Jair Bolsonaro (PL) durante seu mandato aponta uma série de provas que ligam diretamente o ex-presidente aos “desvios” desses itens.
Nesta segunda-feira (8), o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou público o relatório. Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Veja os principais pontos destacados pela PF:
Depoimento do general Mauro Lourena Cid
Em seu depoimento, o general da reserva Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, disse que entregou a Bolsonaro US$ 68 mil. O valor foi adquirido com a venda de relógios recebidos pela Presidência.
Lourena Cid afirmou ainda que os repasses foram feitos “de forma fracionada”, o que, segundo a PF, tinha “o objetivo de dificultar a detecção do retorno dos recursos ilícitos ao patrimônio do ex-presidente pelas autoridades brasileiras”.
Histórico de navegação de Bolsonaro
A PF identificou no histórico de navegação do celular de Bolsonaro consultas à página da empresa responsável pelo leilão das joias de ouro rosé.
Troca de mensagens
Mensagens mostraram que Mauro Cid enviou ao ex-chefe do Executivo o link do leilão online das joias – Bolsonaro respondeu com o jargão militar “selva”. Segundo a PF, a troca de mensagem aponta que o ex-presidente tinha conhecimento do esquema de venda dos presentes do acervo presidencial.
Foto do relógio
A PF mencionou uma fotografia do relógio Patek Philippe, destacando que Mauro Cid enviou a Bolsonaro informações detalhadas sobre o objeto, incluindo seu valor de mercado, e uma imagem do certificado.
Uso do avião presidencial
Bolsonaro utilizou o avião presidencial, sob alegação de viagem oficial, para enviar joias do acervo presidencial aos Estados Unidos. A investigação apontou que o mesmo método foi utilizado para retirar do país duas esculturas douradas de alto valor.
Segundo o relatório da PF, o tenente-coronel, com a ajuda do seu pai, “encaminhou os bens para vários estabelecimentos especializados nos Estados Unidos, para avaliação e tentativa de venda”.
“No entanto, os bens não possuíam o valor patrimonial esperado pelos investigados, fato que frustrou a alienação das esculturas”, informou a PF. Neste ponto, a polícia ressalta uma mensagem de Mauro Cid a Marcelo Câmara em março de 2023 explicando o motivo pelo qual Bolsonaro não pegou as esculturas quando se encontrou com o seu pai, o general Cid, em Miami. “Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada”, disse o ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
Chamada de vídeo
A PF destacou uma chamada de vídeo entre o advogado Frederick Wassef e Bolsonaro logo após a discussão sobre a entrega do relógio Rolex a Mauro Cid. Segundo a investigação, Wassef foi designado por Bolsonaro para recuperar o objeto em março do ano passado.
Cotação de passagens
No dia 13 de março, Bolsonaro encaminhou a Wassef cotações de passagens aéreas partido de Miami para Filadélfia. O advogado viajou no dia seguinte para recomprar o relógio.
Discussão sobre regras de recebimento de presentes
Antes das ações de Wassef, Bolsonaro discutiu com ele normativos que regulam o recebimento de presentes pelo presidente. “Você que é advogado aí, dá uma olhada nisso aí, nós sublinhamos aí um… pintamos de amarelo alguma coisa. Pelo que tudo indica, nós temos o direito de ficar com o material. Dá uma olhada aí”, disse Bolsonaro em áudio.