Juliana Marins, que está perdida em vulcão na Indonésia. Foto: reprodução

 Por Washington Araújo

No coração do vulcão Rinjani, na ilha de Lombok, Indonésia, a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, enfrenta uma luta desesperada pela sobrevivência. A publicitária de Niterói (RJ), que mochilava pela Ásia desde fevereiro de 2025, caiu cerca de 300 metros em uma trilha remota na madrugada de sábado, 21 de junho, durante uma expedição ao Monte Rinjani. Localizada inicialmente por um drone, debilitada, em uma fresta rochosa numa trilha elevada próxima ao cume, Juliana permanece desaparecida há mais de 48 horas. O vulcão, com seus 3.726 metros de altitude, é um gigante adormecido, mas suas encostas traiçoeiras, marcadas por neblina densa, ventos cortantes e pedras escorregadias, transformam o resgate em uma missão contra o tempo. A família de Juliana, liderada por sua irmã Mariana Marins, denuncia negligência do guia local e desinformação das autoridades, enquanto a Embaixada do Brasil em Jacarta mobiliza esforços para localizá-la.

A 15 mil quilômetros dali, o mundo respira aliviado, mas com cautela, após uma crise geopolítica que ameaçava uma erupção de proporções globais. Na noite de 23 de junho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, via Truth Social, um “cessar-fogo completo e total” no Irã, marcando o fim temporário das hostilidades desencadeadas pelos ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas. O acordo, mediado por Qatar e endossado por Trump, prevê que o Irã inicie o cessar-fogo à meia-noite de 24 de junho (horário da Costa Leste dos EUA), com o fim oficial do conflito após 24 horas. Apesar da ausência de confirmação imediata de Teerã, a notícia trouxe alívio às tensões que colocavam a humanidade em um equilíbrio tão precário quanto a encosta onde Juliana se encontra.

A crise de Juliana e a trégua global

Os perigos que cercam Juliana e o mundo compartilham uma essência: a imprevisibilidade e o potencial devastador de forças mal controladas. O Monte Rinjani, segundo maior vulcão da Indonésia, é uma atração turística popular, mas sua trilha de três dias e duas noites exige preparo físico e mental. Juliana, nadadora e praticante de pole dance, estava bem-preparada, mas a combinação de um guia inexperiente, condições climáticas adversas e a complexidade do terreno a deixou vulnerável. Caiu em uma área remota, a cerca de quatro horas do centro urbano mais próximo, onde temperaturas próximas de zero e a falta de água e comida ameaçam sua sobrevivência. A família, por meio do perfil “Resgate Juliana Marins” no Instagram, mobilizou milhares de seguidores, compartilhando vídeos e apelando por pressão internacional. Mariana, em entrevista ao G1, descreveu o impacto psicológico: “Cada hora sem notícias é uma eternidade.”

No cenário global, a tempestade geopolítica, embora amenizada pelo cessar-fogo, deixa cicatrizes. O Irã, até dias atrás, estava a um passo técnico de enriquecer urânio a 90%, nível necessário para armas nucleares, segundo Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em relatório de 18 de junho de 2025. O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1º de julho de 1968, busca limitar a disseminação de armas atômicas, mas as tensões entre Irã e potências ocidentais, agravadas por décadas de sanções e sabotagens, culminaram em uma escalada perigosa. O cessar-fogo, anunciado após intensas negociações envolvendo Qatar e os Estados Unidos, representa uma vitória diplomática para Trump, que, segundo o vice-presidente JD Vance, “trabalhou incansavelmente para levar o acordo à linha de chegada”.

Vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, discursa em cúpula. Foto: Benoit Tessier/Reuters

Ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas

Na noite de 21 de junho de 2025, os Estados Unidos, sob comando de Trump, lançaram a Operação Martelo da Meia-Noite, bombardeando três instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan. Fordow, uma fortaleza subterrânea a 80-90 metros de profundidade sob uma montanha em Qom, foi atingida por 14 bombas penetrantes GBU-57, de 14 toneladas, lançadas por bombardeiros B-2 Spirit. A instalação, que abrigava cerca de 2.700 centrífugas avançadas para enriquecer urânio a 60%, sofreu danos significativos, mas a AIEA informou que a extensão do impacto subterrâneo permanece incerta. Trump afirmou que Fordow sofreu “danos severos”, enquanto fontes iranianas sugerem que o urânio enriquecido foi transferido antes do ataque, minimizando perdas.

Natanz, localizada 220 km a sudeste de Teerã, é a maior usina de enriquecimento do Irã. O ataque danificou gravemente sua infraestrutura elétrica e a sala de centrífugas subterrâneas. Imagens de satélite mostram buracos e descoloração no terreno, mas o Pentágono admite incertezas sobre a destruição total. Isfahan, um centro de pesquisa e conversão de urânio, teve seus laboratórios atingidos, mas sem relatos de contaminação radiológica, segundo Grossi. O Irã, que evacuou as instalações previamente, pode ter preservado parte de seu estoque de urânio, levantando dúvidas sobre a eficácia dos bombardeios.

Os ataques, coordenados com Israel, foram justificados por Trump como uma medida para “neutralizar o programa nuclear iraniano”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou a ação, mas o cessar-fogo anunciado em 23 de junho sugere que a pressão diplomática e os custos da escalada levaram a uma pausa estratégica. A AIEA alerta que o Irã ainda pode ter instalações secretas ou capacidade de retomar o enriquecimento em meses, mantendo a questão nuclear como uma ameaça latente.

Presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do premier de Israel, Benjamin Netanyahu, após reunião na Casa Branca. Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP

O Estreito de Ormuz: A artéria do petróleo global

A ameaça iraniana de fechar o Estreito de Ormuz, aprovada pelo parlamento em 22 de junho, foi um dos principais catalisadores da crise. Essa passagem de 33 km de largura no Golfo Pérsico, por onde passam 20% do petróleo mundial e 35% do gás natural liquefeito (GNL), é vital para Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar e Emirados Árabes. O Irã, com barcos de ataque rápido e milhares de minas navais, demonstrou capacidade de disrupção ao bloquear sinais de GPS de embarcações, segundo a agência Pravda. O cessar-fogo alivia temporariamente o risco de bloqueio, mas a Quinta Frota dos EUA, baseada no Bahrein, permanece em alerta para garantir a navegação livre.

O impacto econômico de um fechamento seria catastrófico. O preço do barril de petróleo Brent, que em 13 de junho de 2025 estava a USD 70, alcançou USD 78-80 em 23 de junho, refletindo a tensão. Com o cessar-fogo, analistas preveem uma estabilização temporária, mas um novo pico para USD 120-130 não está descartado caso as negociações colapsem. A interrupção no estreito afetaria cadeias de suprimento globais, elevando custos de combustíveis, transporte e bens de consumo. Países dependentes de importações energéticas, como Japão e Coreia do Sul, e nações em desenvolvimento, como o Brasil, sentiriam os efeitos de uma crise prolongada.

Condenações da Rússia e da China

Rússia e China, aliados estratégicos do Irã, condenaram os ataques dos EUA, mas expressaram apoio cauteloso ao cessar-fogo. O Ministério das Relações Exteriores russo declarou: “Os ataques dos EUA violaram o direito internacional, mas saudamos esforços para evitar uma escalada maior.” A China, que importa 50% de seu petróleo via Ormuz, foi mais pragmática: “A estabilidade no Oriente Médio é crucial. Apoiamos o cessar-fogo e pedimos diálogo para resolver disputas.” Ambos os países, junto ao Paquistão, propuseram uma resolução no Conselho de Segurança da ONU para consolidar a trégua, mas divisões com potências ocidentais ainda dificultam o consenso.

A tempestade contida, mas não extinta

Juliana Marins, perdida nas encostas do Rinjani, e o mundo, que evitou por pouco uma crise nuclear e econômica, enfrentam tempestades nascidas de forças incontroláveis e escolhas humanas arriscadas. No vulcão, a negligência do guia e a subestimação do terreno transformaram uma aventura em tragédia. No cenário global, os ataques dos EUA ao Irã, embora contidos pelo cessar-fogo, acenderam um rastilho que ainda pode incendiar o Oriente Médio. O Estreito de Ormuz, por ora, permanece aberto, mas sua vulnerabilidade persiste.

A fragilidade de Juliana, exposta à natureza implacável, espelha a vulnerabilidade da humanidade diante de conflitos globais. Assim como as equipes de resgate, usando drones térmicos e enfrentando condições adversas, lutam para salvar a brasileira, a diplomacia global ganhou tempo para evitar a catástrofe. A AIEA, ONU e líderes como António Guterres, que celebrou o cessar-fogo como “um passo crucial”, clamam por negociações duradouras. Enquanto Juliana resiste, o mundo observa, ciente de que a tempestade, embora adiada, ainda pode se formar.

A bandeira branca da paz parece ter sido hasteada com o cessar-fogo no Irã, um alívio frágil em meio a tantas incertezas. Contudo, os senhores da guerra, com sua alta volatilidade e histórico de mudar rapidamente de ideia, mantêm o mundo sob tensão. Ainda é cedo para afirmar que os ventos impetuosos da guerra permitirão que essa bandeira permaneça de pé. Sensatez, seja muito bem-vinda!

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Last Update: 23/06/2025