Neste domingo (22), o parlamento do Irã aprovou medida histórica, conforme noticiado por este Diário. No dia seguinte, segunda-feira (23), Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, fez a seguinte publicação em sua página da Truth Social:

“TODO MUNDO, MANTENHA OS PREÇOS DO PETRÓLEO BAIXOS. ESTOU DE OLHO! VOCÊS ESTÃO FAZENDO O JOGO DO INIMIGO. NÃO FAÇAM ISSO!”.

Em outra publicação, ele disse: “ao Departamento de Energia: PERFURE, CARA, PERFURE!!! E eu quero dizer AGORA!!!”.

As publicações de Trump sinalizam que a decisão tomada pelo parlamento iraniano causou pânico entre os especuladores financeiros, em razão de o Estreito de Ormuz ser uma das rotas marítimas mais estratégicas do mundo.

Por ele são transportados diariamente cerca de 20 milhões de barris de petróleo e derivados, bem como 20% do suprimento mundial de gás natural liquefeito (GNL), conforme apontado pelo portal de notícias Market Watch. De forma que o fechamento da rota causaria um impacto econômico profundo e quase instantâneo, mesmo se fosse feito por poucos dias.

O primeiro efeito seria a disparada no preço do petróleo. Como o mercado financeiro opera por antecipação, bastaria a possibilidade concreta de bloqueio para que o barril de petróleo começasse a subir fortemente.

Em um cenário de fechamento real, o valor do barril poderia dobrar em poucas semanas, dependendo da duração e da intensidade da crise. Conforme apontado pelo Market Watch, citando relatório de economistas da Oxford Economics, publicado em 20 de junho, “o ‘pior cenário’ poderia fazer com que os preços do petróleo subissem para US$130 o barril e reduzissem 0,8 ponto percentual do produto interno bruto global”.

Esse choque de preços elevaria drasticamente o custo de energia no mundo todo, bem como do transporte, que depende em sua maior parte dos combustíveis produzidos a partir do petróleo.

Haveria uma reação em cadeia: com o aumento nos custos de energia e transporte, o preço do frete também subiria, e, consequentemente, aumentariam os preços dos alimentos e produtos em geral, aumentando diretamente a inflação global.

Destaca-se ainda que o aumento do preço do petróleo também pressionaria a valorização da moeda americana: tendo em vista que o petróleo é negociado em dólar, haveria mais demanda por dólares para transações internacionais. O câmbio subiria, e encareceria ainda mais as importações, ampliando a inflação principalmente em países de capitalismo atrasado, como o Brasil.

Nesse cenário, os bancos centrais são obrigados a reagir. Para conter a inflação, aumentam os juros, o que reduz o crédito, encarece o consumo e desacelera a economia. Isso pode levar a uma recessão global, especialmente se a crise energética persistir por semanas ou meses. Empresas que dependem de insumos importados, transporte rodoviário ou aéreo, ou que operam com margens apertadas, seriam duramente atingidas.

No caso específico do Brasil, os efeitos seriam sentidos rapidamente. A alta do petróleo pressionaria os preços dos combustíveis — gasolina, diesel, gás de cozinha — e, por consequência, os alimentos e o custo de vida em geral.

O dólar mais caro também aumentaria os preços de eletrônicos, remédios e insumos industriais. O Banco Central provavelmente elevaria os juros para tentar conter a inflação, o que enfraqueceria ainda mais a atividade econômica.

Ou seja, um eventual fechamento do Estreito de Ormuz poderia desencadear uma crise global com características de um choque de oferta: há menos energia disponível, os custos sobem e o crescimento desacelera. Mesmo que o bloqueio não dure muito, o impacto psicológico sobre os mercados é imediato. O sistema financeiro internacional precifica riscos antes que eles se concretizem, o que explica o pânico entre especuladores e investidores sempre que a região volta a ser ameaçada.

Por exemplo, mesmo antes da recente medida aprovada pelo parlamento iraniano, para fechar o estreito, os especuladores financeiros “ficaram abalados e os futuros do petróleo subiram, depois que Israel iniciou seu ataque ao Irã em 12 de junho”, conforme informado pelo Market Watch.

 

Referido portal também aponta que os receios dos especuladores aumentaram após Trump ter tomado a decisão de bombardear instalações nucleares iranianas, ataque que foi perpetrado no sábado (21). O porta cita Rebecca Babin, experiente especuladora financeira no ramo de energia e diretora administrativa da CIBC Private Wealth em Nova Iorque, que afirma:

Minha opinião inicial é que, embora as chances de um fechamento total do Estreito de Ormuz permaneçam abaixo de 50%, elas estão claramente maiores do que eram na sexta-feira“. Ela acrescenta que “o mercado estará observando duas coisas importantes: primeiro, se a resposta do Irã inclui infraestrutura energética; e segundo, se incluir, por quanto tempo as interrupções podem persistir realisticamente”.

Igual consideração foi feita pelo analista sênior para Irã e energia no Eurasia Group Gregory Brew: “os EUA acumularam uma presença militar massiva no Golfo e na região ao redor, e uma ação do Irã contra o estreito quase certamente desencadearia uma resposta militar significativa”.

A queda no preço do petróleo nesta segunda-feira, logo após o ataque do Irã à base norte-americano Catar, também aponta para a questão do fechamento do Estreito de Ormuz. Conforme o portal de notícias Barrons, os investidores temiam que a reação imediata do Irã aos ataques dos EUA fosse o fechamento do Estreito. No entanto, o Irã decidiu lançar mísseis contra a base norte-americana, bem como avisou com antecedência ao Catar e aos EUA sobre a ação.

Segundo o portal Barrons, “por enquanto, o mercado parece estar esperando que seja isso

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Last Update: 23/06/2025