Está acontecendo algo raro — e extremamente relevante — na esfera pública dos Estados Unidos. Pela primeira vez em décadas, setores importantes da mídia independente, e até figuras da própria grande imprensa, começam a romper, de forma clara e enfática, com a propaganda de guerra que há anos domina o debate sobre o Oriente Médio.

O agravamento do conflito entre Israel e Irã, somado ao colapso da audiência da mídia tradicional e ao desgaste da classe política americana, abriu espaço para um debate mais crítico, honesto e independente, que foge das narrativas impostas pelos lobbies de guerra e pela indústria bélica.

Esse movimento ficou evidente na edição mais recente do The Weekly Show, apresentado por Jon Stewart — uma das maiores referências no jornalismo satírico dos Estados Unidos. Stewart recebeu Christiane Amanpour, âncora-chefe internacional da CNN, e Ben Rhodes, ex-vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA e hoje coapresentador do podcast Pod Save the World.

A conversa foi histórica. Pela primeira vez em muito tempo, uma mesa com esse nível de repercussão discutiu abertamente o golpe de Estado de 1953, organizado pela CIA e pelos britânicos, que derrubou Mohammad Mossadegh, primeiro-ministro do Irã democraticamente eleito. Um episódio central para entender as relações entre EUA e Irã até hoje — e quase sempre ignorado ou minimizado pela grande mídia.

Christiane Amanpour, que revelou durante a conversa sua origem iraniana — filha de pai iraniano e mãe britânica —, lembrou que o Irã sempre cumpriu rigorosamente os acordos internacionais que assinou. A acusação recorrente de que o país busca desenvolver armas nucleares foi desmontada no programa, que frisou: não existe nenhuma evidência concreta que sustente essa narrativa, repetida há décadas pelos setores mais belicistas da política americana.

Os três também denunciaram, com sarcasmo afiado, a hipocrisia dos setores ultraconservadores dos EUA. Criticaram o fato de que, ao mesmo tempo em que acusam o Irã de ser uma teocracia, políticos americanos recorrem frequentemente a argumentos religiosos e bíblicos para justificar guerras. Foi citado como exemplo a recente — e já antológica — entrevista do senador Ted Cruz com Tucker Carlson, na qual Cruz tentou defender um ataque ao Irã usando versículos da Bíblia, e acabou completamente humilhado, ridicularizado ao vivo.

Esse mesmo espírito crítico aparece no trabalho das apresentadoras Jennifer Welch e Angie “Pumps” Sullivan, criadoras do Ihip News. Instaladas no coração de um estado conservador dos EUA, elas comandam dois podcasts de enorme sucesso: I’ve Had It, focado em política e cultura pop, e o próprio Ihip News, que entrega notícias políticas em doses rápidas, diretas e bem-humoradas.

No episódio mais recente, Jennifer e Angie fizeram uma análise precisa sobre o conflito entre Israel e Irã, expondo a hipocrisia da política externa dos EUA, resgatando fatos históricos sistematicamente apagados da cobertura da grande imprensa e desconstruindo os argumentos que tentam justificar mais uma guerra no Oriente Médio.

Os dois vídeos — tanto o episódio do The Weekly Show com Jon Stewart, Christiane Amanpour e Ben Rhodes, quanto a análise do Ihip News — estão legendados e podem ser assistidos no perfil de O Cafezinho no X (antigo Twitter). Os links estão disponíveis abaixo.

É um movimento raro, mas que sinaliza uma possível inflexão no debate público americano, pressionado tanto pela opinião pública — que foi às ruas em massa no último sábado, 14 de junho — quanto pela crise irreversível de credibilidade da velha mídia.

Assista aos vídeos no X de O Cafezinho:
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🔗 [Link para o vídeo do Ihip News]

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Last Update: 23/06/2025