“Só a relação humaniza, só o amor salva. A vaidade e a arrogância levam a um fim trágico”
Leonardo Boff
Os aiatolás estavam certos: os Estados Unidos da América são, atualmente, o grande satã.
O único país que já bombardeou outra nação com armas nucleares acaba de atacar as instalações nucleares de um país que não tem bomba atômica (se tivesse, os covardes obviamente não o teriam feito).
Para isso, usaram sua colônia atômica no Oriente Médio: Israel.
O argumento esgrimido para essa evidente violação do direito internacional foi o mesmo utilizado para a invasão do Iraque: a falsa alegação de que haveria armas de destruição em massa.
Impossível não se lembrar de Karl Marx: a história ocorre uma vez como tragédia, mas se repete como farsa.
A cúmplice de sempre: a União Europeia, reduzida a mera colônia estadunidense.
Pior, o primeiro-ministro da Alemanha agradeceu a Israel por estar fazendo o trabalho sujo pela UE…
Ou seja, o país que nos levou a duas guerras mundiais ainda não se deu por satisfeito e quer nos conduzir à terceira… e derradeira.
Não fosse pela diplomacia de três potências nucleares, Rússia, China e Paquistão, poderíamos praticamente decretar o fim da ONU e da própria diplomacia, substituída pela força das armas, a mais covarde forma de resolução de conflitos.
Para os cidadãos e cidadãs comuns, só resta uma forma de exprimir o descontentamento, uma vez que a política externa brasileira, embora seja uma política pública, não conta com participação da sociedade civil, sequer sob a forma de um conselho consultivo: deixar de consumir todo e qualquer produto originário dos EUA, de Israel e da UE (os quais, na verdade, não são nada bons, sendo tecnologicamente atrasados).
Quanto aos militares brasileiros, além daqueles sentados no banco dos réus na semana passada, por terem atentado contra a democracia e o estado de direito, como pensam defender o país do neocolonialismo selvagem? Não têm nada a dizer?
Uma sugestão: já que não poderemos ser admitidos do grupo das potências nucleares, que tal, ao menos, desenvolver tecnologia que permita cobrir o território nacional e não permita a entrada de engenhos ofensivos? Ou o nosso dinheiro deve ir apenas para pagar salários e pensões milionárias, inclusive para as filhas deles?
Para isso, deverá concorrer o desenvolvimento de radares de altíssima precisão, sem os quais toda defesa será impossível.
Quanta falta sentimos de Francisco, neste momento!
Em O Pescador Ambicioso e o Peixe Encantado (editora Vozes), Leonardo Boff cita Francisco na primeira visita papal, à ilha de Lampedusa, na qual foi ao coração do colonialismo e suas mazelas que perduram até os dias atuais: “Eles [os refugiados] agora estão aqui porque, antes, nós estivemos lá, ocupando suas terras, submetendo seus povos e roubando-lhes as riquezas. Vocês, europeus, foram aceitos lá e agora não os querem acolher aqui. Precisamos viver a fraternidade sem fronteiras e que todos tenham um lugar neste planeta, que é a Casa Comum de todos.”
Vale notar que a imigração, assim como as fantasiosas armas inimigas, tem sido utilizada como catalisador dos temores dos eleitores do Norte, que, dessa maneira, tornam-se facilmente presas da extrema-direita, que promete o retorno a tempos idílicos, em que a dominação Ocidental era inconteste, devidamente sigilosa dos horrores que promovia nos países do Sul.
A propósito, o pai da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer, citado por Kai Bird e Martin J. Sherwin, em Oppenheimer – O Triunfo e a Tragédia do Prometeu americano (editora Intrínseca), já advertira:
“…loucuras podem ocorrer apenas quando até mesmo homens cientes dos fatos são incapazes de encontrar quem possa conversar sobre o assunto, quando os fatos são secretos demais para serem discutidos e, portanto, pensados… O único remédio, concluiu ele, era a ‘franqueza’… o pai da era atômica estava revelando que as premissas fundamentais da política de defesa do país estavam contaminadas pela ignorância e pela insensatez. O mais famoso cientista nuclear dos Estados Unidos conclamava o governo a liberar segredos nucleares hermeticamente guardados e a discutir de maneira franca as consequências de uma guerra nuclear. Um celebrado cidadão privado, que dispunha da mais alta habilitação de segurança, estava fazendo pouco do sigilo que cercava os planos de guerra nacionais.”
Profeticamente, ele concluía: “E deixe-me ressaltar que nunca tivemos nenhum medo histérico de qualquer nação antes que as armas atômicas entrassem em cena.”
Mais adiante, retornará sobre o tema do sigilo, que tanto mal causou às relações internacionais e à diplomacia em geral: “O problema do sigilo é que ele nega ao próprio governo a sabedoria e os recursos de toda a comunidade.”
De forma poética, sobre como deveríamos nos comportar diante das diferenças, sugeriu: “Se um homem nos diz que vê as coisas de maneira diferente de nós, ou que acha belo o que achamos feio, pode ser que tenhamos que sair da sala, por fadiga ou por conta de problemas.”
Pessoal e coletivamente, nos resta sermos como as águas que correm, mas, se impedidas, ou preenchem os buracos e saem do outro lado desimpedidas ou contornam os obstáculos, sempre em busca do mar.