Historicamente associado à Amazônia, o vírus oropouche se espalhou pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo desde o início de 2024 graças a fatores como o desmatamento e mudanças climáticas, que favoreceram a criação de novas linhagens da doença. 

A conclusão é compartilhada por dois estudos recentes, ambos com a colaboração de pesquisadores da Fiocruz. 

“A nova linhagem do oropouche chegou ao Sudeste no início de 2024 e, em dois meses, já havia muitos casos. O vírus encontrou um nicho ecológico favorável e se espalhou rapidamente, criando ainda outras sublinhagens”, explica o chefe do Laboratório de Arbovírus e Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coautor dos dois estudos, Felipe Naveca. 

No Espírito Santo, foram registrados 339 casos de Oropouche entre março e junho de 2024, especialmente em regiões de cultivo de café, cacau, pimenta e coco, ambientes ideais para a proliferação do maruim, mosquito transmissor do vírus. 

“Essa associação com culturas como banana e cacau faz sentido, porque são locais com muita matéria orgânica em decomposição e umidade — condições favoráveis à proliferação do maruim”, explica Naveca.

Ainda sobre o vírus no estado capixaba, a análise genômica apontou que se trata de um rearranjo genético da linhagem OROVBR-2015–2024, que formou uma nova combinação de segmentos genômicos.

As novas pesquisas também identificaram múltiplas introduções independentes do vírus no Espírito Santo, vindas de diferentes regiões da Amazônia, o que reforça o potencial de expansão da arbovirose para outras áreas do Sudeste. 

A pesquisa constatou ainda que a velocidade de transmissão é rápida, pois em apenas onze semanas, o Oropouche atingiu um número de casos semelhante ao da dengue e Chikungunya, uma vez que uma pessoa infectada pode transmitir a doença a outras três. 

Em geral, os pacientes no Espírito Santo são homens, com mais de 20 anos, que trabalham em propriedades rurais. 

Já no Rio de Janeiro, onde foram confirmados 1,5 mil casos entre janeiro de 2024 e maio deste ano, o epicentro da transmissão foi o município de Piraí, no Sul Fluminense. De lá, o vírus se espalhou para a Região Metropolitana e o Norte Fluminense, atingindo principalmente municípios pequenos localizados em áreas de Mata Atlântica.

A sublinhagem predominante em território fluminense é o OROVRJ/ES, presente tanto no Rio de Janeiro quanto no Espírito Santo. 

“Desmatamento e alterações no regime de chuvas intensificaram a abundância de vetores na Amazônia e criaram zonas de dispersão, como o sul do Amazonas, Acre e norte de Rondônia — que se tornaram áreas com alta concentração de casos e intensa transmissão viral”, conclui Naveca.

LEIA TAMBÉM:

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 23/06/2025