As operações militares norte-americanas contra três bases militares do Irã subiram o fogo no Oriente Médio e levaram a região um novo patamar de tensão, fazendo autoridades do mundo inteiro alertarem para o risco de descontrole bélico. A pergunta central, neste momento histórico, passa também por saber quais serão os efeitos do conflito em diferentes países do globo, incluindo o Brasil.

Em comunicado divulgado no domingo 22, o Itamaraty demonstrou preocupação e manifestou repúdio às investidas conjuntas de Israel e Estados Unidos contra estruturas nucleares iranianas, classificando as ações como “violação da soberania” da nação persa. A posição foi respaldada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ainda é cedo para uma resposta precisa sobre a dúvida referente às consequências da guerra entre Irã e Israel para o Brasil, mas o movimento do mercado de petróleo é um bom indicador sobre o futuro próximo. Com uma agitação maior nesse mercado – e consequentes subidas no preço do barril –, aumentam as chances de um fenômeno inflacionário.

As cotações do petróleo saltaram significativamente no domingo, atingindo patamares não vistos em cinco meses. Isso também tem a ver com o aumento das chances de retaliação iraniana contra a infraestrutura energética regional ou embarcações que transitam pelo estreito de Ormuz.

Exemplo desse aumento aconteceu no Brent, referência internacional do petróleo, que registrou alta de 5,7% para 81,40 dólares por barril, logo na abertura dos mercados asiáticos na segunda-feira 23 (domingo à noite no Brasil). Em seguida, o barril recuou para 78,07 dólares, mantendo elevação de 1,4%. O indicador americano West Texas Intermediate apresentou movimento similar, chegando a 74,88 dólares.

Risco aumenta com eventual fechamento do Estreito de Ormuz

Um risco que não dá para desconsiderar é uma eventual interrupção do tráfego no Estreito de Ormuz, sinalizada pelos legisladores iranianos nas últimas horas. A decisão pode ser tomada caso eles avaliem que os interesses nacionais estão sob ameaça.

O Estreito de Ormuz representa uma via crucial para o comércio mundial. Essa passagem concentra aproximadamente 20% de todo o petróleo transportado por navios no planeta — o que seria algo entre 18 e 20 milhões de barris diários. Além disso, a passagem é uma rota obrigatória para derivados petroquímicos, incluindo gás natural liquefeito e fertilizantes nitrogenados. É dessa maneira que qualquer obstrução dessa passagem desencadearia efeitos em cascata sobre redes produtivas em todos os continentes.

Caso o Estreito de Ormuz seja bloqueado, embarcações precisariam adotar trajetos alternativos mais extensos, o que poderia modificar prazos e os próprios custos logísticos. É possível, assim, que esse quadro afete diretamente o transporte marítimo de fertilizantes e insumos agrícolas. Esses são produtos que o Brasil adquire do exterior. Todos esses cenários são especulativos e dependem do desenrolar dos acontecimentos.

O fator político na América Latina

O Brasil não é um parceiro estratégico do Irã ou de Israel, de modo que uma eventual entrada brasileira direta do no conflito está longe de ser concebível. Mas as consequências indiretas existem.

Neste ano, por exemplo, o governo Donald Trump decidiu classificar organizações ligadas ao crime organizado como grupos terroristas. Formalmente, essa nova classificação autorizaria o governo norte-americano a colocar em prática operações armadas contra células desses grupos.

No mês passado, o novo rótulo foi aplicado a organizações de diversos países latino-americanos, incluindo Venezuela e El Salvador. Essa abordagem mudou uma prática que os EUA tinham até pouco tempo: a de atuar contra grupos criminosos estrangeiros apenas por meio de colaboração militar com nações da América Latina.

No Paraguai, que faz fronteira com o Brasil, o governo Santiago Peña passou a tratar grupos como o Hezbollah, o Hamas e a Guarda Revolucionária Islâmica como terroristas, em clara consonância à gestão Trump. Essa desejo de fechar o cerco a grupos radicais islâmicos na América Latina também ganha eco na Argentina, cujo presidente Javier Milei é apoiador de primeira ordem de Trump.

No Brasil, as iniciativas deste teor são incipientes. Um Projeto de Lei que pretende definir como organizações terroristas os grupos Hamas e Hezbollah está na fase inicial de tramitação no Congresso Nacional. A proposta é bancada por parlamentares bolsonaristas, mas ainda não encontrou base de apoio sólida para avançar. É possível, porém, que o tema ganhe força com a entrada oficial dos norte-americanos no conflito.

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Last Update: 23/06/2025