“Por que não haveria uma mudança de regime?”, se perguntou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste domingo 22, depois que o Irã ameaçou suas tropas em resposta aos bombardeios que, segundo Washington, “devastaram” o programa nuclear iraniano.

Até a tarde deste domingo, o governo de Trump repetia que o único objetivo dos ataques às usinas nucleares iranianas de Fordow, Isfahan e Natanz era impedir que Teerã adquirisse armamento atômico.

Os funcionários coincidiam em que não se tratava de buscar a queda do regime dos aiatolás, com o qual os Estados Unidos estão em conflito há quase meio século.

Mas o presidente Donald Trump deixou uma dúvida no ar.

“Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas sim, o atual regime iraniano não pode fazer com que o Irã volte a ser grande. Por que não haveria uma mudança de regime? MIGA!!! [sigla para Make Iran Great Again]”, publicou Trump em sua plataforma Truth Social, brincando com seu famoso acrônimo MAGA, como é conhecido o movimento ultraconservador americano “Make America Great Again” (“Torne os Estados Unidos Grandes Outra Vez”).

“Ontem tivemos um sucesso militar espetacular, tirando a ‘bomba’ das mãos deles (e a usariam se pudessem!)”, escreveu o magnata republicano.

Pouco antes, em mensagem difundida pela agência oficial de notícias Irna, Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou que as bases utilizadas pelas forças americanas seriam consideradas “um alvo legítimo”.

“Os americanos têm que receber uma resposta para sua agressão”, advertiu, em tom desafiador, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.

Vingança!

“Vingança, vingança!” gritavam manifestantes com os punhos erguidos enquanto o presidente iraniano tentava abrir caminho entre a multidão em uma praça central de Teerã.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirma que “o programa nuclear iraniano foi devastado”. Mostrando mais prudência, o chefe do Estado-Maior, general Dan Caine, considera que é “muito cedo” para avaliar com precisão o alcance da operação “Martelo da Meia-Noite”.

O principal grupo de ataque americano esteve composto por sete bombardeiros B-2 Spirit que voaram por 18 horas, segundo Caine, e que aterrissaram nos Estados Unidos neste domingo, informou Trump.

Em resposta ao ataque, no qual foram utilizadas mais de dez bombas antibunker, as forças armadas iranianas atacaram vários lugares em Israel, incluído o aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv. Pelo menos 23 pessoas ficaram feridas.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que os ataques militares de seu país vão acabar quando foram alcançados os objetivos declarados de destruir a capacidade nuclear e de mísseis do Irã.

“Estamos muito, mas muito próximos de concluí-los”, declarou a jornalistas.

Novos bombardeios

Nove integrantes da Guarda Revolucionária morreram neste domingo em ataques israelenses contra o centro do Irã, segundo a mídia local, e outras três pessoas após um ataque contra uma ambulância.

Além disso, o Exército israelense anunciou ataques contra instalações de mísseis no oeste do Irã.

Os ataques israelenses contra o Irã causaram a morte de mais de 400 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do país persa. As represálias iranianas, por sua vez, causaram pelo menos 25 mortes, segundo números oficiais israelenses.

Apesar do ataque, Trump e seu gabinete repetem que Washington “quer a paz”.

Na ONU, onde o Conselho de Segurança se reuniu com urgência neste domingo, o Irã acusou os Estados Unidos de terem iniciado uma “guerra” com “pretextos absurdos”.

Os Estados Unidos deixaram as portas abertas para a República Islâmica, com quem negociavam um acordo sobre seu programa nuclear antes de Israel lançar sua ofensiva aérea em 13 de junho.

“Não estamos em guerra contra o Irã, estamos em guerra contra o programa nuclear iraniano”, declarou à emissora ABC o vice-presidente J.D. Vance.

A resposta não demorou a chegar.

Petróleo sobe

“Embora as instalações nucleares tenham sido destruídas, o jogo não terminou, os materiais enriquecidos, o conhecimento local e a vontade política permanecem”, afirmou Ali Shamkhani, outro conselheiro de Khamenei.

Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que é possível ver crateras nas instalações de Fordow, mas que ninguém pôde ainda avaliar os danos subterrâneos.

O diplomata argentino acrescentou que os ataques a instalações nucleares poderiam causar vazamento de radiação, mas que a AIEA não detectou nenhum até agora.

Os ataques provocaram um aumento nos preços do petróleo, de 4%, na abertura dos mercados asiáticos. Além disso, o Departamento de Estado americano pediu a seus cidadãos em todo o mundo que aumentem a precaução.

Na província de Semnan, a leste da capital, Samireh, uma dona de casa de 46 anos, declarou à AFP que está “muito preocupada com as pessoas que vivem próximas” das instalações nucleares.

Alguns israelenses alimentam a esperança de que o ataque americano seja um ponto de virada na guerra.

“Israel sozinho não poderia parar [a guerra] […] e levaria mais tempo”, comentou à AFP em Jerusalém, Claudio Hazan, um engenheiro de software de 62 anos.

Nos últimos dez dias, os bombardeios israelenses atingiram centenas de instalações militares e nucleares iranianas e mataram militares de alto escalão e cientistas envolvidos no programa nuclear.

O Irã respondeu com mísseis e drones, a maioria interceptados pelos sistemas de defesa aérea israelenses.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou neste domingo sobre “mais um ciclo de destruição” na região.

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Last Update: 23/06/2025